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‘Morte da imprensa’: Indignação após Israel matar novos jornalistas em Gaza

Cinco jornalistas foram mortos em um duplo bombardeio de Israel contra o Hospital Nasser nesta semana; outro foi baleado por soldados israelenses

27 de agosto de 2025, às 12h56

Parentes e colegas se despedem do jornalista palestino Hussam al-Masri, morto por um bombardeio israelense ao Hospital Nassar, em Khan Younis, no sul de Gaza, em 25 de agosto de 2025 [Abed Rahim Khatib/Agência Anadolu]

Jornalistas em todo o mundo expressaram indignação nesta semana após mais uma série de ataques israelenses a repórteres em Gaza, ao condenarem, coletivamente, o que descrevem como fracasso da indústria midiática em agir por seus trabalhadores.

Na segunda-feira (25), forças israelenses mataram cinco jornalistas de agências internacionais em um duplo bombardeio contra o Hospital Nasser, no sul de Gaza, com ao menos 20 mortos no total. Entre os mortos Mariam Abu Dagga, fotojornalista da Associated Press; Hussam al-Masri, fotógrafo da Reuters; Moaz Abu Taha, repórter freelance; e Mohamed Salama e Ahmed Abu Aziz, que colaboravam com o Middle East Eye, entre outras agências.

Um sexto jonalista, Hassan Douhan, foi baleado e morto por soldados israelenses em Khan Younis. Douhan era um proeminente repórter investigativo e editor-chefe da publicação local al-Hayat al-Jadidah, responsável por treinar diversos jornalistas emergentes no enclave palestino.

O segundo bombardeio ao Hospital Nasser foi flagrado em tempo real, durante transmissão ao vivo da emissora jordaniana Al Ghad TV. O vídeo viralizou online, descrito como “gravação de um assassinato doloso”.

A jornalista Carole Cadwalladr foi à rede social X (Twitter) tanto para condenar os ataques de Israel contra jornalistas palestinos como para denunciar o fracasso de agências, sindicatos e redações em agir devidamente em solidariedade à categoria.

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“Sinto profunda vergonha”, escreveu Cadwalladr. “Não é apenas a morte de alguns jornalistas. É a morte da imprensa”.

Hind Hassan, também jornalista, ecoou o sentimento: “Israel assassinou outros quatro repórteres em Gaza. Uma mancha em nossa indústria. Estamos testemunhando a aniquilação sistemática, em tempo real, dos correspondentes palestinos — consequência de uma desumanização implacável avalizada pela amplificação de falsas narrativas que tentam justificar os ataques”.

Este sentimento se tornou comum entre postagens de incontáveis jornalistas online, que compartilharam imagens dos colegas mortos em Gaza.

Muitos criticaram a cobertura dos ataques inclusive por publicações para as quais as vítimas trabalhavam. A Associated Press, por exemplo, sequer identificou a colaboradora morta, Mariam Abu Daqqa, em sua reportagem inicial.

“Seu nome é Mariam Abu Daqqa e ela trabalhava noite e dia, como todos os nossos colegas em Gaza, em circunstâncias desumanas e excruciantes”, ressaltou sua colega Mariam Barghouti, em resposta a um tuíte da Associated Press. “E agora, sequer lhe dão a cortesia de identificá-la pelo nome. Apenas notícias passageiras”.

 

Desde outubro de 2023, Israel matou 246 jornalistas palestinos em Gaza.

Ainda na segunda-feira, a repórter palestina Laila al-Arian comentou sobre como a cobertura do Ocidente — ou falta dela — sobre Gaza afiançou os crimes.

“Precisamos de um total acerto de contas sobre como a propaganda em torno 7 de outubro abriu caminho para o momento em agora vivemos, em que Israel pode conduzir uma onda de assassinatos contra jornalistas, trabalhadores de saúde, crianças e outros com total impunidade”, escreveu.

Uma reportagem da rede de monitoramento Fair, publicada na sexta-feira (22), corroborou a fabricação de consentimento por parte da grande imprensa ocidental para o assassinato em massa de trabalhadores da categoria. A investigação analisou a cobertura sobre a morte de diversos jornalistas — dentre os quais, Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, da Al Jazeera, em 10 de agosto —, por 15 agências de grande circulação, radicadas sobretudo nos Estados Unidos.

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Descobriu-se que a cobertura de todas essas agências reproduziu “os mesmos tópicos sionistas, que contribuíram para fabricar consentimento para os assassinatos”, especialmente uma campanha de difamação de que o popular e respeitado jornalista al-Sharif seria um membro do grupo Hamas.

Entre as agências denunciadas: The New York Times, The Los Angeles Times, The Washington Post, The Wall Street Journal, The Financial Times, ABC, CBS, NBC, CNN, Fox News, BBC, Politico, Newsweek, The Associated Press e Reuters.

Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 25 de agosto de 2025

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.