À medida que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, divulga planos para a plena ocupação militar da Faixa de Gaza, após dois anos de genocídio, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conforme alegações, está preocupado com o “socorro humanitário”, ao insistir que sua prioridade é alimentar os palestinos carentes — “que obviamente não estão cuidando muito bem de sua comida”.
Ocupação militar? Imagina.
“Isso basicamente cabe a Israel”, respondeu Trump a um repórter que o indagou se os Estados Unidos apoiaria os planos para ocupar perpetuamente Gaza.
Contudo, a assistência humanitária a ocupação militar israelense do enclave palestino estão intimamente associadas, da mesma forma que a primeira com o genocídio. Israel determina qual e quanta ajuda entra em Gaza à população faminta. O Estado colonial, por exemplo, decidiu banir operações da Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) nos territórios ocupados, ao instituir, como uma alternativa ainda mais lúgubre, a chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF), com apoio dos Estados Unidos. Israel também decidiu por uma política de fome e — mesmo antes do genocídio — tem estabelecida uma tabela de calorias mínimas para manter os palestinos do enclave vivos, embora não muito.
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Tamanha brutalidade calculada só se pode imaginar vindo de uma entidade colonial. O Estado israelense segue matando de fome uma população já desnutrida.
Segundo a imprensa israelense, o novo plano deve começar com novas evacuações na Cidade de Gaza, seguidas por uma “ofensiva militar na segunda fase, durante a qual o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve realizar um pronunciamento para anunciar a aceleração dos esforços humanitários em coordenação com Israel”.
Ainda assim, Trump assevera que a ocupação militar de Gaza cabe a Israel, ao separá-la da pauta de assistência humanitária. Mike Huckabee, embaixador americano em Israel, prometeu instalar doze novos postos para distribuir assistência através da GHF.
A ocupação militar integral de Gaza, pelo regime israelense, renderia o fluxo de socorro humanitário ainda mais incerto. Onde quer que Israel opera — em colaboração com a GHF —, palestinos são mortos dia após dia, de forma tamanha que, a cada entrega de um pouco de ajuda, já se espera o anúncio de novas fatalidades.
E o que pode acontecer quando uma entidade colonial genocida recebe anuência para ocupar integralmente a terra onde conduz seu extermínio? Quão mais fácil será a Israel determiner novos paramêtros para acesso humanitário aos palestinos?
E qual será o custo, em último caso, de tamanho engodo? Sob a máscara de amplificar assistência a uma população sitiada, Israel deve conseguir ocupar plenamente Gaza — seu plano desde o princípio.
A União Europeia provavelmente anunciará maior entrada de assistência humanitária, em troca de validar sua negativa, ou procrastinação, em suspender Israel de uma série de acordos comerciais, acadêmicos e militares. Embora alguns países europeus possam porventura reconhecer o Estado da Palestina em setembro, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, a medida será simbólica, concomitante às ações do regime colonial para entrincheirar sua ocupação militar de Gaza.
Tudo isso ocorre em um momento de genocídio, enquanto a comunidade internacional ignora ainda mais o holocausto em curso, desde que Tel Aviv e Washington tragam de volta a ilusão de um obsoleto status quo.
Alguém fez as contas de quantos outros palestinos serão mortos para implementar os planos?
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