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Ocupação de Israel em Gaza deve agravar militarização da ajuda humanitária

10 de agosto de 2025, às 06h02

Batalhões israelenses na zona de fronteira com Gaza, em 29 de junho de 2025 [Tsafrir Abayov/Agência Anadolu]

À medida que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, divulga planos para a plena ocupação militar da Faixa de Gaza, após dois anos de genocídio, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conforme alegações, está preocupado com o “socorro humanitário”, ao insistir que sua prioridade é alimentar os palestinos carentes — “que obviamente não estão cuidando muito bem de sua comida”. 

Ocupação militar? Imagina.

“Isso basicamente cabe a Israel”, respondeu Trump a um repórter que o indagou se os Estados Unidos apoiaria os planos para ocupar perpetuamente Gaza. 

Contudo, a assistência humanitária a ocupação militar israelense do enclave palestino estão intimamente associadas, da mesma forma que a primeira com o genocídio. Israel determina qual e quanta ajuda entra em Gaza à população faminta. O Estado colonial, por exemplo, decidiu banir operações da Agência das Nações Unidas para a Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) nos territórios ocupados, ao instituir, como uma alternativa ainda mais lúgubre, a chamada Fundação Humanitária de Gaza (GHF), com apoio dos Estados Unidos. Israel também decidiu por uma política de fome e — mesmo antes do genocídio — tem estabelecida uma tabela de calorias mínimas para manter os palestinos do enclave vivos, embora não muito.

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Tamanha brutalidade calculada só se pode imaginar vindo de uma entidade colonial. O Estado israelense segue matando de fome uma população já desnutrida.

Segundo a imprensa israelense, o novo plano deve começar com novas evacuações na Cidade de Gaza, seguidas por uma “ofensiva militar na segunda fase, durante a qual o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve realizar um pronunciamento para anunciar a aceleração dos esforços humanitários em coordenação com Israel”.

Ainda assim, Trump assevera que a ocupação militar de Gaza cabe a Israel, ao separá-la da pauta de assistência humanitária. Mike Huckabee, embaixador americano em Israel, prometeu instalar doze novos postos para distribuir assistência através da GHF.

A ocupação militar integral de Gaza, pelo regime israelense, renderia o fluxo de socorro humanitário ainda mais incerto. Onde quer que Israel opera — em colaboração com a GHF —, palestinos são mortos dia após dia, de forma tamanha que, a cada entrega de um pouco de ajuda, já se espera o anúncio de novas fatalidades.

E o que pode acontecer quando uma entidade colonial genocida recebe anuência para ocupar integralmente a terra onde conduz seu extermínio? Quão mais fácil será a Israel determiner novos paramêtros para acesso humanitário aos palestinos? 

E qual será o custo, em último caso, de tamanho engodo? Sob a máscara de amplificar assistência a uma população sitiada, Israel deve conseguir ocupar plenamente Gaza — seu plano desde o princípio.

A União Europeia provavelmente anunciará maior entrada de assistência humanitária, em troca de validar sua negativa, ou procrastinação, em suspender Israel de uma série de acordos comerciais, acadêmicos e militares. Embora alguns países europeus possam porventura reconhecer o Estado da Palestina em setembro, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, a medida será simbólica, concomitante às ações do regime colonial para entrincheirar sua ocupação militar de Gaza.

Tudo isso ocorre em um momento de genocídio, enquanto a comunidade internacional ignora ainda mais o holocausto em curso, desde que Tel Aviv e Washington tragam de volta a ilusão de um obsoleto status quo

Alguém fez as contas de quantos outros palestinos serão mortos para implementar os planos?

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.