clear

Criando novas perspectivas desde 2019

Enviado especial de Trump viaja a Gaza, em ‘manobra publicitária’

1 de agosto de 2025, às 12h59

Steve Witkoff, enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, em Miami, na Flórida, em 20 de fevereiro de 2025 [Chandan Khanna/AFP via Getty Images]

Steve Witkoff, enviado especial dos Estados Unidos para o Oriente Médio, viajará nesta sexta-feira (1º) à Faixa de Gaza, sob cerco de Israel, para supostamente inspecionar os centros de distribuição assistencial, reportou a Casa Branca de Donald Trump.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

“Amanhã, o enviado Witkoff e o embaixador [a Israel, Mike] Huckabee viajarão a Gaza para inspecionar as redes assistenciais e assegurar um plano para ampliar a entrega de alimentos, bem como se encontrarem com locais para ouvir, em primeira mão, sobre a situação em campo”, declarou Karoline Leavitt, porta-voz trumpista, a jornalistas.

Segundo o informe, Witkoff e Huckabee tiveram um “encontro muito produtivo” com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, dentre outros oficiais, nesta quinta. Ambos se reunirão também com o presidente Isaac Herzog, acrescentou.

LEIA: Presidente tunisiano mostra fotos de crianças palestinas famintas a embaixador dos EUA durante visita

Questionada sobre negociações com o grupo palestino Hamas, Leavitt ecoou Trump ao insistir que a “forma mais rápida” de alcançar um cessar-fogo é “rendição, entrega dos reféns e fim de seu conflito”.

Sobre o reconhecimento de um Estado da Palestina, Leavitt notou “descontentamento” de Trump com França, Reino Unido e Canadá sobre as promessas recentes.

Para Izzaq al-Rishq, membro do gabinete político do Hamas, porém, a turnê de Witkoff é “manobra publicitária”, na tentativa de conter os sucessivos reveses políticos postos a Israel e Estados Unidos, devido à fome em Gaza.

“Witkoff verá em Gaza apenas o que a ocupação quiser que ele veja”, reiterou al-Rishq. “Verá essa tragédia pelas lentes distorcidas de Israel”.

O enviado trumpista “não verá de fato a guilhotina de fome conhecida como Fundação Humanitária de Gaza [GHF, da sigla em inglês], tampouco como este prepara o campo para a máquina de morte e guerra sionista”, acrescentou.

Al-Rishq notou ainda que a recente admissão da fome em Gaza pela Casa Branca, após meses de negacionismo, sem, no entanto, citar Israel, “equivale a absolver o criminoso e ofertar cobertura política a um dos piores crimes da história moderna”.

Desde maio, ações da GHF — sistema israelo-americano, denunciado como “armadilha mortal” — mataram ao menos mil pessoas, incluindo crianças, que buscavam alimento em corredores e postos assistenciais altamente militarizados.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde outubro de 2023, com ao menos 60 mil mortos, 145 mil feridos e dois milhões de desabrigados, sob destruição, cerco e fome generalizada. As vítimas são, em maioria, mulheres e crianças.

LEIA: Gaza: uma em cada quatro crianças e grávidas atendidas tem desnutrição, afirma MSF

Em novembro passado, o Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, emitiu mandados de prisão contra Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos em Gaza.

O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.