Em 24 de julho, a Indonésia emitiu uma condenação clara e contundente à mais recente provocação de Israel: a aprovação pelo Knesset de uma declaração de apoio à soberania sobre a Cisjordânia ocupada. “Israel não tem soberania sobre os Territórios Palestinos Ocupados”, declarou inequivocamente o Ministério das Relações Exteriores da Indonésia, classificando a medida como uma anexação ilegal e instando o Conselho de Segurança das Nações Unidas e a comunidade internacional a intervirem.
A declaração da Indonésia merece reconhecimento — não apenas por sua linguagem firme, mas por se posicionar ao lado do direito internacional e dos direitos palestinos em um momento em que muitos países permanecem em silêncio ou deliberadamente vagos. No mesmo dia, a Organização para a Cooperação Islâmica (OCI), da qual a Indonésia é membro, também divulgou sua própria e veemente denúncia da ação do Knesset.
Mas se essas respostas ressaltam algo, é o seguinte: a resolução do Knesset não viola apenas o direito internacional — ela expõe o fracasso da própria estrutura que os países da OCI continuam a defender, mesmo em sua declaração mais recente. Essa estrutura é a solução de dois Estados.
A Indonésia também reafirmou seu apoio à criação de um Estado palestino com base nas fronteiras anteriores a 1967, com Jerusalém Oriental como capital. Mas, embora essa posição seja bem-intencionada e enraizada em décadas de consenso diplomático, ela parece cada vez mais desconectada da realidade atual.
Sejamos honestos. A solução de dois Estados tornou-se um ponto de discussão diplomática em vez de um caminho viável a seguir. Os fatos em campo — expansão contínua de assentamentos, anexação sistemática e apartheid legal — praticamente apagaram a base territorial de um Estado palestino. Mais de 700.000 colonos israelenses vivem atualmente na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. As estradas, os muros, os postos de controle e as zonas militares dividiram o território de forma irreconhecível.
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A declaração do Knesset apenas confirmou o que vem acontecendo de forma gradual há anos. O que resta da visão de dois Estados é uma colcha de retalhos de enclaves sob controle israelense, onde os palestinos são privados de direitos iguais e liberdade de movimento. Este não é um roteiro para a paz; é uma fórmula para a subjugação permanente.
O compromisso contínuo da OCI e da Indonésia com o paradigma de dois Estados — apesar das condições irreversíveis no terreno — apenas reforça uma ilusão, que Israel explora para preservar o status quo, mantendo a fachada de um processo de paz. Ao enquadrar sua oposição dentro dos limites de um modelo falido, ambos ignoram uma verdade mais profunda: a solução de dois Estados não está apenas fracassando. Ela já fracassou.
Este momento exige algo mais ousado. Se a Indonésia realmente deseja honrar seu apoio de longa data aos direitos palestinos, deve começar a fazer perguntas difíceis: como seria a justiça na ausência de um Estado palestino viável? Podemos continuar a clamar por uma solução que não tem chance de ser implementada no terreno?
A Indonésia tomou medidas louváveis que vão além das declarações. O Ministro das Relações Exteriores Sugiono destacou recentemente o programa de bolsas de estudo do Presidente Prabowo para estudantes palestinos, juntamente com outros esforços, como a construção de instalações de saúde e o envio de equipes médicas para Gaza.
Mas sem uma mudança na visão política, tais gestos correm o risco de ser simbólicos. Como observou Sugiono, a Indonésia quer fazer mais. Esse “mais” deve incluir romper com o modelo fracassado de dois Estados. Apoiar os direitos palestinos significa confrontar a realidade na prática — não se apegar a uma estrutura que não existe mais.
A Indonésia não precisa abandonar seus princípios. Pelo contrário, deve levá-los à sua conclusão lógica. Uma abordagem baseada em direitos — que defende um único Estado em toda a Palestina histórica, com direitos iguais para judeus e palestinos — não é um afastamento radical. É uma resposta moral e estratégica à realidade de que a estrutura de dois Estados não serve mais ao povo que deveria libertar.
Tal posição não seria inédita. Em todo o Sul Global, vozes estão se tornando mais altas em apoio a alternativas que centralizam a justiça, a igualdade e a dignidade humana — não a ilusão da divisão. Como a maior nação de maioria muçulmana do mundo, a Indonésia tem a credibilidade para liderar essa mudança.
Ao denunciar os planos de anexação de Israel, a Indonésia já demonstrou clareza moral. Mas clareza por si só não basta. O próximo passo exige a coragem de ir além de um processo de paz que se tornou pouco mais do que uma cobertura diplomática para o arraigamento do apartheid.
A luta palestina merece mais do que declarações, bolsas de estudo e assistência médica. Ela merece uma visão de libertação que corresponda à realidade local — e a desafie. A Indonésia pode ajudar a moldar essa visão. A hora de começar é agora.
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