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Gaza está morrendo de fome e o mundo desvia o olhar

22 de julho de 2025, às 15h44

Uma grande multidão se reúne durante uma distribuição de alimentos por uma organização de caridade, enquanto muitos palestinos lutam para ter acesso a alimentos devido aos ataques contínuos de Israel à Faixa de Gaza, em 18 de julho de 2025. [Abdalhkem Abu Riash/ Agência Anadolu]

Em Gaza, as manhãs não começam mais com o som de explosões — mas com os gritos silenciosos e urgentes da fome.

Mães acordam com bebês sem leite. Crianças procuram restos de comida para aliviar o estômago vazio antes que as bombas voltem para destruir a pouca esperança que resta.

Isso não é exagero. É uma realidade sombria e documentada. Gaza não está apenas sob bombardeio — está sob cerco. E a arma que mais corta agora é a fome. Como a fome é silenciosa, o mundo desvia o olhar, como se uma morte lenta não contasse.

Durante meses, os moradores de Gaza enfrentaram um duplo cerco: ataques aéreos diários e indiferença internacional. As travessias de fronteira permanecem fechadas. Aqueles que buscam comida são baleados. As linhas de suprimentos humanitários são sistematicamente rompidas. O pão se tornou uma fantasia. A água é uma luta diária. A medicina, um milagre raro.

“Catástrofe humanitária” não a descreve mais. O que está se desenrolando agora é uma campanha deliberada de fome — uma campanha que atende a todas as definições, legais e morais, de genocídio.

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Imagens contrabandeadas de Gaza mostram crianças desmaiando na fila para comprar pão, famílias sobrevivendo à base de mato, mães dividindo um único pão entre quatro crianças famintas. Não são as bombas que as matam — é o lento desperdício de corpos desnutridos.

O povo de Gaza não está pedindo o impossível. Está pedindo um resquício de consciência global.

Mas o que dói ainda mais do que a fome é o silêncio.

Apelo urgente: A situação catastrófica em Gaza, um povo morrendo de fome em meio ao silêncio global

Nos primeiros dias do ataque, líderes ocidentais emitiram declarações cautelosas: apelos à moderação, lembretes do direito internacional, expressões de preocupação. Mas essas vozes se dissiparam. Esquecidas. Enterradas em antigos comunicados de imprensa. Nenhuma ação foi tomada. Nenhuma política mudou.

Em vez disso, o apoio a Israel se intensificou. Alguns governos chegaram a suspender o financiamento à principal agência de ajuda humanitária da ONU, a UNRWA — em meio ao colapso de Gaza.

Você já ouviu falar de um governo retirando ajuda de uma agência humanitária enquanto crianças passam fome?

Aconteceu. E aconteceu silenciosamente.

Como Nelson Mandela disse certa vez:

“Negar às pessoas seus direitos humanos é desafiar sua própria humanidade.”

Hoje, Gaza está sendo punida não apenas com bombas, mas com fome — uma forma de punição coletiva possibilitada por um consenso internacional tímido demais para se manifestar. Você não encontrará esse consenso em declarações oficiais, mas o verá em cada fronteira fechada, em cada tigela vazia e em cada criança que chora de sede.

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De acordo com agências da ONU:

A insegurança alimentar atingiu níveis catastróficos.

Mais de 90% das crianças em Gaza estão desnutridas.

Mortes infantis por fome e desidratação são agora uma realidade diária.

No entanto, o mundo permanece parado.

Pior ainda, alguns governos continuam a justificar as ações de Israel sob a bandeira da “autodefesa” — como se usar a fome como arma fosse de alguma forma legítimo.

Mas não é apenas o Ocidente que tem responsabilidade.

O Egito também deve responder por seu papel. A passagem de Rafah — a única saída de Gaza não controlada por Israel — está fechada há meses. Cairo aguarda a permissão de Tel Aviv para permitir a entrada de ajuda ou a saída de pacientes. Quando pararemos de fingir que isso é neutralidade? Isso é cumplicidade.

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E os governos árabes que normalizaram os laços com Israel? Alguns permaneceram em silêncio. Outros foram além, fortalecendo publicamente as relações enquanto Gaza passa fome. Pelo menos o Ocidente não reivindica parentesco. Mas esses regimes o fazem — sem fazer nada para impedir o sofrimento dos compatriotas palestinos.

Como o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, certa vez alertou:

“Quando o alimento se torna uma arma, a própria humanidade entra em colapso.”

Gaza está enfrentando esse colapso — e o sistema internacional está permitindo que isso aconteça.

Apesar de tudo, Gaza resiste. Seu povo transforma a fome em desafio. Eles resistem, mesmo quando despojados de tudo. Em Gaza, a dignidade não se encontra no conforto — se encontra na sobrevivência.

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Mas sejamos honestos: Israel não pode sustentar isso sozinho. Depende do silêncio. Da indignação seletiva. Da cobertura diplomática. E é exatamente isso que recebe das potências mundiais que afirmam se importar com os direitos humanos — mas escolhem quais vítimas importam.

Então, quem realmente está ao lado de Gaza?

Não os governos. Não as instituições. Mas as pessoas comuns.

Protesto contra o genocídio israelense em Gaza na Avenida Paulista, em São Paulo, 30 de maio de 2024 [Sérgio Koei/Reprodução]

Manifestantes. Cidadãos. Aqueles que ainda têm consciência e se recusam a desviar o olhar.

Gaza não quer piedade. Quer justiça. Exige o fim do genocídio — e a responsabilização daqueles que o permitem.

A questão não é mais: O que está acontecendo?

Nós sabemos.

A questão é: Quem agirá?

E quando a história for escrita — quem será lembrado por seu silêncio?

Porque silêncio, diante da fome, não é neutralidade.

É cumplicidade.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.