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A tentativa de cassação da vereadora Angela Machado por seu apoio à Palestina

13 de julho de 2025, às 07h12

Angela Alves Machado segura a bandeira palestina durante sua posse, em janeiro de 2025. [Foto: A. A. Machado]

Na cidade de Curitiba, as tensões aumentaram com a tentativa da extrema direita de destituir a vereadora eleita Angela Alves Machado, a primeira vereadora eleita pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) na cidade. Figura proeminente, Machado tem sido uma defensora ferrenha dos direitos palestinos, e sua defesa vocal da Palestina desencadeou uma reação significativa de políticos de direita.

Essa controvérsia atingiu o ápice durante a cerimônia de posse dos vereadores eleitos, quando Machado subiu ao pódio segurando a bandeira palestina, aproveitando o momento para denunciar o genocídio do povo palestino e pedir um cessar-fogo imediato. Como a primeira vereadora do PSOL na história de Curitiba, suas ações não apenas desencadearam conflitos políticos locais, mas também enfatizaram seu compromisso com um mandato internacionalista, defendendo os direitos dos povos oprimidos em todo o mundo.

“Eles não me intimidarão, nem conseguiram silenciar as vozes em defesa do povo palestino, que sofre há quase 80 anos sob a voraz ofensiva militar e expansionista de Israel e dos colonos israelenses em seu território”, disse-me a vereadora.

“A razão objetiva é que a extrema direita do nosso tempo carrega a semente do fascismo. Por isso, apoiam regimes e governos, como o de [primeiro-ministro israelense Benjamin] Netanyahu, que se traduzem em políticas reacionárias e neocolonialistas, que, a rigor, visam servir — com base na brutalidade — a uma fração dos capitalistas em detrimento de povos (como os palestinos) e da maioria da população de seu próprio país.”

Angela Alves Machado é professora de história e filiada ao Partido dos Trabalhadores (PT), sendo conhecida por sua postura progressista em diversas questões. Ao longo de sua carreira, ela defendeu a justiça social, a igualdade e os direitos humanos.

No entanto, foi seu apoio declarado à causa palestina que a colocou na mira dos críticos conservadores.

Sua posição a favor da Palestina, particularmente em relação ao genocídio israelense-palestino em curso, levou-a a ser rotulada, previsivelmente, como “apoiadora do terrorismo” por grupos de extrema direita no Brasil. Ela argumentou que o povo palestino vem sofrendo décadas de opressão e que seu direito à autodeterminação deve ser reconhecido pela comunidade internacional.

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O pedido de cassação de seu mandato baseia-se em alegações de que as posições pró-palestinas de Machado são inconsistentes com os valores defendidos pela Câmara Municipal. Grupos de extrema direita alegam que seu apoio à Palestina prejudica os laços diplomáticos do Brasil com Israel e que sua postura vai contra os interesses da segurança nacional. Alguns de seus críticos chegaram a acusá-la de endossar o extremismo violento, acusação que ela nega veementemente.

Em resposta a esses ataques, Machado defendeu sua posição, afirmando que seu apoio à Palestina se baseia em direitos humanos e justiça, não em violência. “Estou lutando pelos direitos de um povo que teve suas liberdades básicas negadas por décadas”, disse ela recentemente. “Meu mandato é defender aqueles que são oprimidos, independentemente de sua origem.”

A polêmica em torno da vereadora revela o aprofundamento da divisão na política brasileira. Enquanto grupos de direita pressionam por um relacionamento mais alinhado com Israel, grupos de esquerda, como o Partido dos Trabalhadores, historicamente têm apoiado mais os direitos palestinos. Essa batalha ideológica está se desenrolando na política local do Brasil.

Os esforços da extrema direita para atingir Machado decorrem de uma combinação de fatores ideológicos e geopolíticos. Os grupos de extrema direita do Brasil tradicionalmente veem Israel como um aliado estratégico fundamental no Oriente Médio. Essa relação foi fortalecida sob a liderança de Jair Bolsonaro, que expressou apoio inabalável a Netanyahu e criticou grupos de defesa dos direitos palestinos.

Qualquer crítica a Israel é frequentemente enquadrada como antipatriótica ou até mesmo perigosa para a segurança nacional.

“Tenho consciência de que a resistência heroica do povo palestino é o maior exemplo contemporâneo de luta internacionalista”, disse-me Machado. “Portanto, todo apoio externo é essencial. Nesse sentido, vejo a posição do Presidente Lula de denunciar o genocídio em Gaza por Israel é positivo. No entanto, a política não pode ser feita pela metade. Acredito que uma manifestação consistente com essa postura seria romper relações diplomáticas com o governo Netanyahu até que um cessar-fogo definitivo seja alcançado.”

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Ela acrescentou: “De qualquer forma, estaremos onde for necessário — no parlamento e, acima de tudo, nas ruas — defendendo o direito legítimo do povo palestino de ter soberania sobre seu território.”

A decisão de revogar o mandato de Angela Alves Machado levanta questões jurídicas e políticas significativas. A Constituição brasileira garante a liberdade de expressão e mandatos políticos não podem ser revogados sem o devido processo legal. A pressão da extrema direita para removê-la parece ter mais motivação política do que justificativa legal, visto que nenhuma lei foi violada por sua defesa da Palestina.

Especialistas jurídicos alertaram que tentar remover uma autoridade eleita com base em suas convicções políticas pode abrir um precedente perigoso para as instituições democráticas brasileiras. O caso também pode ter implicações mais amplas para o discurso político no país, particularmente no que diz respeito ao direito dos políticos de expressarem suas opiniões sobre questões internacionais.

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À medida que o debate sobre o futuro da Professora Machado continua a se desenrolar, fica claro que esta não é apenas uma questão local em Curitiba, mas também um reflexo de uma luta global mais ampla. Para ela, defender os direitos dos palestinos não é apenas uma declaração política; é uma extensão de seu compromisso de vida com a justiça e os direitos humanos.

“Lutarei de cabeça erguida em todas as frentes possíveis.” Para isso, conto com o apoio do PSOL, que enfrenta esse tipo de perseguição da extrema direita, como foi o caso de Luciana Genro e Fernanda Melchionna. Mas não só isso, conto também com a solidariedade da FEPAL [Federação Árabe Palestina do Brasil] e de todos os setores da esquerda e dos movimentos sociais que condenam o genocídio em Gaza”, concluiu.