O exército israelense estabeleceu seis novas bases nas províncias de Daraa e Quneitra, no sul da Síria, no último trimestre, ao expandir continuamente sua presença desde o colapso da ditadura de Bashar al-Assad, em dezembro, em detrimento dos Acordos de Desengajamento entre Damasco e Tel Aviv de 1974.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
Pouco após a fuga de Assad a Moscou, Israel intensificou ataques aéreos a toda Síria e expandiu suas operações armadas para além das colinas ocupadas de Golã, à suposta zona neutra de 1974, determinada após a chamada Guerra de Yom Kippur.
Desde então, bases israelenses tomaram colinas e os entroncamentos estratégicos nas principais estradas da região, sobretudo em Quneitra rural, onde aldeias permanecem sob vigilância direta da ocupação.
Forças israelenses ergueram suas bases consecutivamente, na zona neutra, nas aldeias de Jubata al-Khashab, Qurs al-Nafal e al-Qahtaniyah, em Quneitra; então em uma área próxima à aldeia de Kwdana.
No último trimestre, bases adicionais foram montadas em al-Shajara, Maariya e Abidin, em Daraa, e Tulul al-Humr, Al-Hamidiyah e Mantara Dam, em Quneitra.
Os avanços totalizaram, portanto, dez bases ilegais de Tel Aviv no sul da Síria.
As tropas israelenses em Tulul al-Humr são agora as mais próximas da capital Damasco, a apenas 40 km da sede do governo. A maior instalação do exército ocupante em solo sírio é a base de Jubata al-Khashab, perto de Golã.
Milhares deslocados
A crescente presença militar de Israel levou ao deslocamento em massa. Ao menos seis mil pessoas deixaram al-Hamidiyah desde que a base se impôs à aldeia.
Mohammed Ali, pai de três, deslocado da cidade, reportou à Anadolu que soldados da ocupação surgiram de madrugada e demoliram 15 casas: “Saímos somente com alguns pertences pessoais”.
“Eles vieram à noite, quando ninguém poderia testemunhar seus crimes”, observou Ali. “Nós, o povo de Quneitra, continuamos oprimidos — antes por Assad, agora por Israel. Tudo que posso dizer é: Eu tinha uma casa aqui”.
Conforme Ali, os soldados israelenses prometeram retorno dentro de seis dias: “Foram seis meses, desde então”.
Destruição do verde
Mohammed Abu Fahid notou que tropas israelenses danificaram cerca de 500 acres de terras produtivas ao escavar trincheiras e ocupar áreas da zona neutra.
As condições em al-Hamidiyah são precárias, acrescentou: “Israel nos deu um pouco de ajuda só uma ou duas vezes. Passamos necessidade aqui. Deixaram abrir uma pequena clínica, com equipes da [ong] Médicos Sem Fronteiras”.
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“Tudo que queremos é viver, criar nossos filhos, cultivar nossa terra e beber da água de nossas represas”, complementou Abu Fahid.
Em Khan Arnabeh, Basel Osman denunciou a destruição de um bosque centenário: “E onde está a comunidade internacional? A vida parou. Não existe turismo, nem mesmo reconstrução”.
Medo e restrições de movimento
“As pessoas não podem sair de suas casas depois que escurece”, declarou Ahmet Kivan de Jubata al-Khashab. “Israel tomou terras, a principal fonte de renda para os locais. As condições econômicas estão piorando. Ninguém se move porque temos medo”.
Kivan acusou a comunidade internacional de indiferença: “Grupos de direitos humanos têm de agir, agora!”
Mohammed Meryud, também de Jubata al-Khashab, apontou à rotina de checkpoints e incursões nas aldeias, que ecoam a ocupação na Cisjordânia.
“Impedem os trabalhadores de acessar suas terras, destroem matas, invadem as casas, prendem os jovens”, lamentou Meryud. “A presença israelense assusta todos nós, em toda a região. Não deveriam estar aqui”.








