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Personalidades da mídia pedem renúncia de executivo da BBC por censurar Gaza

4 de julho de 2025, às 13h22

Uma delegação de palestrantes pró-Palestina carregando flores marcha ao longo de Whitehall em direção à BBC em 18 de janeiro de 2025 em Londres, Reino Unido. [Mark Kerrison/In Pictures via Getty Images]

Mais de 400 celebridades e personalidades da mídia reivindicaram da estatal britânica BBC que exonere Robbie Gibb, membro do conselho executivo, por “decisões opacas” referentes à cobertura crítica da Palestina ocupada, incluindo o genocídio israelense na Faixa de Gaza.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

Miriam Margolyes, Alexei Sayle e Juliet Stevenson estão dentre os atores, escritores e celebridades que assinaram a carta emitida nesta quarta-feira (2) à gestão da BBC, pela remoção de Gibb por conflito de interesses no que concerne o Oriente Médio.

Os signatários incluem ainda 111 jornalistas da BBC que alertaram para “preocupações sobre decisões editoriais opacas e mesmo censura sobre a cobertura Israel—Palestina”.

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Ao apontar para o documentário Gaza: Doctors Under Attack — projeto engavetado da BBC —, a carta advertiu para uma “percepção de parcialidade”, com seu cancelamento “demonstrando, mais outra vez, que a BBC não reporta ‘sem medo ou viés’ quando diz respeito ao Estado de Israel”.

O documentário — mais tarde repassado ao Canal 4, com transmissão enfim realizada na quarta-feira (3) — registra o colapso do sistema de saúde em Gaza, sob bombardeio e cerco israelense, incluindo invasões a hospitais.

A carta acusou a estatal de “se mostrar ineficaz pelo pânico de ser eventualmente vista como crítica do governo de Israel”, ao notar “que a forma inconsistente com que aplica suas diretivas remete ao papel de Gibb e aos padrões editoriais do conselho”.

Gibb, ex-chefe de comunicações da ex-primeira-ministra conservadora Theresa May e ex-diretor da equipe política da Coroa britânica na BBC, encabeçou um consórcio que comprou o Jewish Chronicle em 2020, mídia da qual se tornou editor.

Segundo os signatários — incluindo judeus, como Margolyes e Sayle, entre outros —, o papel privado de Gibb entra em conflito com os interesses públicos da BBC, ao incorrer em decisões “sem discussão ou explicação”.

Neste entremeio, Israel insiste em seu genocídio contra Gaza, apesar de apelos globais por cessar-fogo e acesso humanitário. Em pouco mais de 630 dias, são ao menos 57 mil palestinos mortos e dois milhões de desabrigados sob catástrofe de fome.

Nesta semana, um relatório da perita das Nações Unidas Francesca Albanese apontou à cumplicidade de empresas internacionais — incluindo a estatal brasileira Petrobrás — para o que caracterizou como “economia do genocídio”.

Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade em Gaza.

Israel é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.

Albanese alertou que o próximo passo é identificar a colaboração da imprensa.

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