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Grupo sionista britânico pune judeus por criticar campanha em Gaza

27 de junho de 2025, às 11h27

Judeus ortodoxos protestam contra o genocídio em Gaza, em frente à sede do governo britânico, em Londres [Lab Ky Mo/SOPA Images/LightRocket via Getty Images]

Cinco membros eleitos do Conselho de Representantes dos Judeus Britânicos — maior grupo da comunidade no Reino Unido — foram suspensos por dois anos após críticas à campanha militar de Israel em Gaza, ao condená-la como “moralmente indefensável” e “incompatível com os valores judaicos”.

A suspensão serve de punição a uma carta aberta publicada em 16 de abril pelo jornal Financial Times, assinada por 36 deputados.

“A alma de Israel está sendo destroçada”, lamentaram os signatários, em referência ao genocídio em Gaza.

A carta coincide com um ápice na crise de relações públicas de Israel, em meio a atos e campanhas globais por justiça, incluindo apelos a líderes judaicos para que rompam o silêncio diante dos crimes de guerra.

“Não podemos lavar as mãos”, ressaltaram os signatários. “Este, o mais extremista dos governos israelenses, está abertamente encorajando a violência contra os palestinos … Tememos pelo futuro de Israel que amamos”.

O Conselho de Representantes, em resposta, lançou uma investigação interna contra os signatários, sob queixas de diversas instituições sionistas, incluindo liberais, reformistas e ultraortodoxos.

Na terça-feira (24), a investigação concluiu que todos os 36 signatários teriam violado o “código de conduta” da organização, ao supostamente fraudarem um posicionamento oficial e levar descrédito à instituição.

Trinta e um deputados receberam advertências. Cinco foram cassados por dois anos de seus cargos eleitos. Em três dos casos, a suspensão pode ser reduzida a seis meses, em caso de um pedido de desculpas público.

A carta original, no entanto, permanece um marco, como a primeira vez que um bloco importante do Conselho contesta abertamente as ações militares de Israel.

O documento desmentiu ainda a tese do governo em Tel Aviv de que o assassinato em massa de palestinos seria necessário para obter a libertação dos prisioneiros de guerra ainda em Gaza, ao favorecer negociações.

A carta observou também que ao menos três reféns foram mortos por fogo amigo, em meio aos bombardeios de Israel.

A dissidência interna ecoou alertas de judeus proeminentes de que as ações do regime israelense os expõe a riscos em vez de protegê-los.

Em junho, Thomas L. Friedman, em artigo ao New York Times, escreveu: “Este governo israelense é um perigo aos judeus em todo lugar”.

O articulista australiano Josh Szeps levantou um tabu a muitas comunidades judaicas: “Nós judeus deveríamos continuar a apoiar Israel? Minha avó fugiu do Holocausto. Mas agora é hora de os judeus abandonarem Israel”.

“Israel que minha vó sonhou não existe mais”, acrescentou. “O que existe é construção de assentamentos ilegais. O que existe é ocupação e discriminação. O que existe é um sistema político tão ávido em sabotar um Estado palestino que promoveu o Hamas. O que existe é o aprisionamento de moderados, como o parlamentar Marwan Barghouti, a fim de que a liderança palestina seja moribunda ou radical. O que existe é um Estado que prepara a anexação de todas as terras palestinas indefinidamente. O que existe é a obliteração”.