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Chancelaria em Londres sugere demissão a oficiais críticos à política de Gaza

10 de junho de 2025, às 16h19

Secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, reúne-se com o presidente de Israel, Isaac Herzog, em Jerusalém ocupada, em 15 de julho de 2024 [Haim Zach/Gabinete de Imprensa/Agência Anadolu]

Ao menos 300 funcionários do Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido, que expressaram sua preocupação sobre potencial cumplicidade britânica com as ações de Israel em Gaza, tiveram em resposta a sugestão de que se demitam, caso discordem da política de governo.

O caso veio à tona por reportagem da rede estatal BBC, nesta terça-feira (10), segundo informações da agência Anadolu.

O “ultimato” é uma resposta a uma carta interna encaminhada ao chanceler britânico David Lammy em 16 de maio, com críticas embasadas à continuada venda de armas a Israel, ao acusar a ocupação de “grave desdém para com a lei internacional”.

A carta, obtida pela BBC, nota restrições de Israel ao fluxo assistencial em Gaza, assim como o assassinato de 15 trabalhadores humanitários em março e expansão ilegal dos assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada.

Signatários — que representam uma grande gama de funcionários da pasta, tanto em Londres quanto no exterior — declararam receio de que suas funções possam expô-los a responsabilidade legal em processos futuros contra o Reino Unido.

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É a quarta vez que cartas de funcionários públicos britânicos vêm a público, desde final de 2023, no contexto do genocídio israelense em Gaza.

Em resposta datada de 29 de maio, segundo a BBC, os oficiais de alto escalão Sir Oliver Robbins e Nick Dyer “reconheceram” as apreensões, mas alegaram que funcionários do Estado tem de cumprir as políticas de governo “de pleno coração”.

Em seguida, sugeriram renúncia como “curso honrado” àqueles discordantes, de modo a incitar indignação de signatários, diplomatas e analistas. Um oficial anônimo apontou à BBC que a resposta demonstra diminuição do espaço de divergência.

A chancelaria insistiu na posição, ao notar mecanismos internos para expressar receios e afirmar, a despeito de denúncias, que a persistente política do governo sobre a Faixa de Gaza “aplica rigorosamente as normas da lei internacional”.

Desde a posse, o governo trabalhista do primeiro-ministro Keir Starmer suspendeu 30 30 das 350 licenças de exportação de armas a Israel — número aquém dos alertas de seu eleitorado e de instituições internacionais.

Em 19 de maio, o Reino Unido se juntou a França e Canadá para advertir novamente a “ações concretas” caso Israel não suspenda sua ofensiva e suas restrições à assistência humanitária em Gaza — contudo, sem detalhes.

Para críticos, as falas e promessas da chancelaria são, contudo, “distração”.

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