O cientista político brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, uma referência internacional em defesa dos direitos humanos, com liderança em trabalhos de destaque na ONU, nas Américas e no Brasil, divulgou uma carta indignada contra a “insensibilidade extrema” do Brasil em relação ao povo palestino ao homenagear a amizade que o Estado de Israel.
Ele também acusa o Senado brasileiro não apenas de se omitir diante de um genocídio, mas de se colocar ao lado do opressor.
Paulo Sérgio Pinheiro foi ministro da secretaria de estado de direitos humanos do governo FHC e lamenta que parlamentares justamente comprometidos com os direitos humanos tenham ajudado a aprovar a homenagem. Diz a carta:
“ Repúdio à Celebração Oficial da “Amizade Brasil-Israel” em Meio ao Genocídio em Gaza
É com profunda indignação que manifestamos nosso repúdio à decisão do Senado Federal brasileiro, que, por unanimidade, declarou o dia 12 de abril como data oficial de celebração da “amizade Brasil-Israel”. Trata-se de um gesto inaceitável, de insensibilidade extrema, especialmente num momento em que o Estado de Israel intensifica uma campanha sistemática de extermínio contra a população palestina na Faixa de Gaza.
“ É ainda mais lamentável que parlamentares de partidos comprometidos historicamente com os direitos humanos e com a autodeterminação dos povos tenham eventualmente endossado essa decisão vergonhosa.
“ No próprio dia 12 de abril — data agora marcada por esse equívoco histórico —, Israel aprofundava o cerco genocida a Gaza, onde mais de dois milhões de palestinos vivem sob bombardeios incessantes que atingem majoritariamente mulheres e crianças. Desde 6 de março de 2025, o Estado de Israel impõe um bloqueio total à entrada de ajuda humanitária, alimentos, medicamentos, insumos hospitalares e eletricidade. Este bloqueio, classificado como crime de guerra por especialistas e organismos internacionais, segue vigente até os dias de hoje, com a liberação de ajuda humanitária ocorrendo de forma esporádica e totalmente insuficiente, segundo relatos das Nações Unidas.
“ Neste contexto, é importante lembrar as palavras do general Yair Golan, ex-vice-chefe das Forças Armadas de Israel e atual presidente do partido Democrático (de esquerda): “Um país com sanidade não mata bebês como hobby”.
“Ao celebrar uma “amizade” com um Estado que perpetra crimes sistemáticos contra um povo ocupado e cercado, o Senado brasileiro não apenas se omite diante de um genocídio, mas se coloca ao lado do opressor.
“ Reafirmamos nossa solidariedade irrestrita ao povo palestino e conclamamos parlamentares e autoridades brasileiras a reverem urgentemente sua postura frente às violações de direitos humanos cometidas por Israel.”