clear

Criando novas perspectivas desde 2019

Migração: Tratar os sintomas ou atacar as causas profundas?

19 de maio de 2025, às 07h08

Pessoas participam da marcha “Um Dia Sem Imigrantes”, protestando contra as deportações em massa no centro de Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, em 3 de fevereiro de 2025. [Katie McTiernan/ Agência Anadolu]

Em meio a acalorados debates sobre imigração na Grã-Bretanha e em todo o Ocidente, as manchetes da mídia são dominadas por planos para conter os fluxos de migrantes, endurecer as leis de asilo e deportar aqueles que buscam proteção. No entanto, esse foco intenso nos “ramos” da questão ignora suas raízes mais profundas — a saber, o impacto duradouro das políticas ocidentais, tanto coloniais quanto contemporâneas, na desestabilização de grandes partes do Sul Global.

Se ao menos uma fração dos vastos recursos atualmente investidos em fortificações de fronteiras, vigilância e campanhas de relações públicas anti-imigração fossem redirecionadas para o combate às causas estruturais da migração forçada — que vão desde intervenções militares e apoio a golpes até sanções econômicas sufocantes — poderíamos testemunhar resultados muito mais sustentáveis ​​e humanos.

Comecemos considerando a história recente. Nas últimas décadas, a Grã-Bretanha, os Estados Unidos e seus aliados desempenharam papéis fundamentais na derrubada de governos eleitos – como no Egito em 2013 –, apoiando regimes autoritários, como era comum na América Latina durante a Guerra Fria, ou lançando intervenções militares diretas, como a invasão do Iraque em 2003, que, segundo o ACNUR, resultou em mais de um milhão de refugiados.

Sanções econômicas, frequentemente justificadas como ferramentas para punir “regimes”, prejudicaram enormemente a população comum. Estudos demonstraram que as sanções impostas à Síria, Irã e Afeganistão, por exemplo, dizimaram os sistemas de saúde e educação, desencadearam uma inflação galopante e forçaram famílias a buscar sobrevivência no exterior por todos os meios disponíveis.

Os legados coloniais também não podem ser ignorados. Muitos dos migrantes atuais são originários de países que já foram colônias. No caso da Grã-Bretanha, dezenas de milhares de trabalhadores da Índia, Paquistão e Caribe foram trazidos – às vezes sob coação – para trabalhar em portos e fábricas, especialmente no período pós-Segunda Guerra Mundial. Esses movimentos nem sempre foram resultado de livre escolha, mas sim parte de uma ordem econômica imperial projetada para servir ao centro em detrimento da periferia.

Agora, os descendentes desses mesmos migrantes estão sofrendo o impacto do racismo crescente, à medida que partidos políticos competem para oferecer políticas cada vez mais “duras” em relação à imigração — mesmo de regiões devastadas por guerras e conflitos nos quais o Ocidente desempenhou um papel central. As vias legais para asilo estão cada vez mais fechadas, empurrando muitos para travessias marítimas perigosas e alimentando redes de contrabando e exploração.

De acordo com o Conselho de Refugiados, aqueles que receberam asilo no Reino Unido representam apenas 1% da população global de refugiados. No entanto, o discurso público frequentemente enquadra a situação como se o país estivesse sendo sobrecarregado.

A verdadeira solução reside em reconhecer que a migração não é um crime, mas sim uma consequência de dinâmicas globais complexas — muitas das quais decorrem de nossas próprias políticas externas e econômicas. É hora de políticos e tomadores de decisão na Grã-Bretanha e no Ocidente adotarem uma abordagem mais justa e pragmática: apoiando o desenvolvimento sustentável, pondo fim a intervenções desestabilizadoras, suspendendo sanções que sufocam populações e abrindo caminhos seguros e legais para a migração.

Caso contrário, a estratégia de mirar em migrantes, ignorando as causas profundas, só agravará as crises humanitárias e alimentará o crescimento do populismo e do racismo — minando os próprios valores democráticos que o Ocidente afirma defender.

https://www.instagram.com/monitordooriente/reel/DJupI2NITiT/

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.