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Israel avança para implementar limpeza étnica de palestinos de Gaza

6 de fevereiro de 2025, às 12h29

Soldados hasteiam bandeira israelense na fronteira com Gaza, em 5 de dezembro de 2024 [Amir Levy/Getty Images]

Israel pôs em movimento planos para a limpeza étnica de Gaza, com seu ministro da Defesa, Israel Katz, instruindo o exército a conduzir preparativos para a transferência “voluntária” dos palestinos do enclave, após a proposta criminosa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para o deslocamento em massa da população.

Segundo relatos, Katz ordenou ao exército da ocupação que desenvolva planos para partida dos residentes palestinos por terra, mar e ar, “a qualquer país que os aceite”, de modo a corroborar as declarações de Trump, proferidas durante visita do premiê Benjamin Netanyahu a Washington.

Para o presidente extremista e oligarca do campo imobiliário de Nova York, os Estados Unidos “tomarão controle” de Gaza, ao caracterizá-la como uma potencial “Riviera do Oriente Médio”.

Netanyahu saudou Trump como “maior amigo de Israel” e descreveu a proposta como “notável”, ao alegar que os palestinos supostamente “podem sair, podem voltar” após a reconstrução de Gaza.

Gaza foi convertida em ruínas após 470 dias de ataques de Israel, interrompidos desde 19 de janeiro via acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros com o grupo Hamas.

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As ações levaram o Estado israelense ao banco dos réus do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia de genocídio, registrada pela África do Sul e deferida em janeiro do último ano.

Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI) — que julga indivíduos — emitiu mandados de prisão contra Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant — procurados, portanto, em 120 países.

Estados Unidos e Israel, porém, são detratores da corte, negando-se a assinar seu estatuto fundador.

Para críticos, a retórica da liderança americana e israelense traz consigo claro intento de limpeza étnica sob verniz de humanitarismo e desenvolvimentos, ao ignorar a história de extermínio e apartheid do processo expansionista do Estado de Israel.

Estados árabes rechaçaram o plano, incluindo Jordânia e Egito — que Trump alegou terem consentido em receber os palestinos — e Arábia Saudita — cobiçada há anos pelos esforços de normalização com o regime israelense.

De sua parte, o Ministério de Relações Exteriores em Riad, reafirmou “seu repúdio inequívoco a qualquer violação dos direitos legítimos do povo palestino, seja pelas políticas israelenses de assentamento, anexação de terras ou deslocamento à força dos palestinos de suas terras”.

A Corte Real da Jordânia alertou para os riscos da medida, ao notar “urgência para que se ampliem os esforços árabes em apoio à permanência dos palestinos em suas terras, mantendo o cessar-fogo em Gaza e melhorando a resposta humanitária”.

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Badr Abdelatty, ministro de Relações Exteriores do Egito, destacou a demanda por projetos de reabilitação em Gaza, incluindo a entrega de assistência e limpeza dos escombros sem deslocar, porém, os palestinos do enclave.

O Human Rights Watch (HRW) advertiu que o plano de Trump reforça a cumplicidade dos Estados Unidos em crimes de guerra via “perpetração direta das atrocidades”, ao observar também que a devastação em Gaza “reflete uma política calculada de Israel para tornar partes do enclave inabitáveis”.