Portuguese / English

Middle East Near You

Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Em Gaza, “as pessoas têm fome de paz”

Abu Abed, profissional de MSF em Gaza, fala sobre “sentimentos confusos” após possível cessar-fogo, anunciado em 15 de janeiro
Palestinos espalhados por todo o território da Faixa de Gaza comemoraram o anúncio tão aguardado nos últimos 15 meses, em que Israel matou deliberadamente mais de 46.700 palestinos, sendo a maioria mulheres e crianças. [ Fotos: Mahmoud Bassam, Dawoud Abo Alkas, Ashraf Amra, Doaa Albaz/ Agência Anadolu]

“Há mais de 400 dias, não ouvimos nenhum tipo de celebração, canto ou dança. Gaza, ontem à noite, começou a celebrar, a cantar, crianças nas ruas, você pode ouvi-las entoando canções. Realmente não consigo descrever o quanto as pessoas têm fome de paz. Todos cantavam canções [dizendo] que voltariam para o Norte, para suas casas.

Havia muitos dos meus colegas que estavam chorando. Mesmo antes do anúncio do acordo de cessar-fogo, eles começaram a chorar. Eles choraram e sentiram realmente um sentimento de luto. Alguns se lembraram daqueles que perderam no início da guerra.

Todos esses sentimentos tristes começarão, acho, com o [fim] da guerra. Especialmente quando as pessoas que estão deslocadas no Sul voltarem para suas casas no Norte e na Cidade de Gaza, e aí veremos que não é a mesma casa que eles foram forçados a deixa naquela época. Voltarão para ver uma casa destruída. Acho que será muito difícil. O medo acabará, e a dor começará.

Eu, pessoalmente, tive sentimentos confusos. Em algum momento eu quis sorrir, gargalhar e cantar. Ao mesmo tempo, quis chorar e lamentar. Choraremos por muitas coisas quando o cessar-fogo começar. Choraremos pelas pessoas que perdemos, pelos amigos, familiares. Choraremos pelos órfãos. Choraremos pelas viúvas em Gaza. Choraremos pelas pessoas com deficiência. Choraremos pelas casas e pelos lares que foram destruídos.

Pelo menos o cessar-fogo vai estancar o sangue, vai parar a matança, interromper os ferimentos. Porque a cada minuto em Gaza, desde os últimos 400 dias, é só sangue. A guerra não matou apenas corpos, ela dilacera a alma, a esperança e deixa para trás um tipo de silêncio que grita de dor.”

LEIA: Israel destruiu ou danificou 69% dos edifícios em Gaza 

Publicado originalmente em Médicos Sem Fronteiras

Categorias
IsraelMSFNotíciaOrganizações InternacionaisOriente MédioPalestina
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments