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Massacre israelense a refugiados de Rafah atrai condenação internacional

Palestinos observam destruição em Rafah, no extremo sul de Gaza, após bombardeios israelenses a um campo de refugiados, em 27 de maio de 2024 [Ali Jadallah/Agência Anadolu]

Diversos países e organizações internacionais condenaram o ataque aéreo de Israel a tendas de refugiados em Rafah, no extremo sul de Gaza, deixando dezenas de mortos e feridos, sobretudo crianças. Imagens gráficas de corpos carbonizados circularam nas redes sociais.

A presidência palestina acusou Israel, nesta segunda-feira (27), de atacar deliberadamente civis, sob um coro de indignação internacional que sucedeu o bombardeio.

“A perpetração deste hediondo massacre pelas forças da ocupação israelense é mais um desafio a todas as resoluções de legitimidade internacional”, declarou a Autoridade Palestina, com sede em Ramallah, em comunicado oficial.

Em nota na rede social X (Twitter), a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) destacou que as imagens de Rafah mostram mais uma vez que a agressão israelense a Gaza tornou o enclave um “inferno na terra”.

Aeronaves israelenses lançaram bombas incendiárias sobre uma suposta “zona segura”, repleta de tendas improvisadas aos deslocados de Gaza, na noite deste domingo (26). A área alvejada é próxima de um galpão humanitário das Nações Unidas.

A Sociedade do Crescente Vermelho da Palestina, associada à Cruz Vermelha, reportou casos de pessoas “queimadas vivas” dentro de suas tendas na área de Tal as-Sultan.

Catharine Russell, chefe do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), reivindicou “o fim do absurdo assassinato de crianças”, ao reportar “imagens de crianças e famílias carbonizadas, emergindo de tendas bombardeadas, chocando a todos nós”.

“Por sete meses, testemunhamos essa tragédia se desenrolar — deixando milhares de crianças mortas ou feridas”, acrescentou Russell.

Criança palestina testemunha destruição em Rafah, no extremo sul de Gaza, após bombardeios de Israel a um campo de refugiados, em 27 de maio de 2024 [Hani Alshaer/Agência Anadolu]

Sami Abu Zuhri, liderança do grupo palestino Hamas, descreveu o incidente como “massacre” e responsabilizou a gestão dos Estados Unidos do presidente Joe Biden por paramentar Israel com recursos e armas.

A promotoria militar de Israel reconheceu a “gravidade” da situação e prometeu analisar o caso. “Detalhes do incidente estão sob investigação, estamos comprometidos em conduzi-la”, afirmou o major-general Yifat Tomer Yerushalmi em coletiva de imprensa, ao “lamentar eventuais danos a não-combatentes durante a guerra”.

Israel justificou seu ataque ao campo de refugiados ao alegar que oito mísseis do grupo Hamas foram disparados de Rafah a Tel Aviv, pela primeira vez em meses, dois dias depois do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, ordenar a cessação dos ataques na área.

O Estado israelense é réu por genocídio na chamada Corte Mundial — órgão máximo de justiça das Nações Unidas —, conforme denúncia sul-africana deferida em janeiro. Medidas cautelares emitidas previamente, inclusive para aumento do fluxo humanitário, foram ignoradas.

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A admissão israelense de que “civis foram feridos” configura, segundo a lei internacional, crime de guerra, independentemente de eventuais pretextos militares.

Veja a seguir a reação de governos e oficiais de todo o mundo:

O Catar condenou o ataque a Rafah como grave violação da lei internacional que deve agravar a crise humanitária em Gaza sitiada. O país mediador no conflito reiterou que o incidente afetará esforços de negociação por um cessar-fogo e troca de prisioneiros, conforme nota do Ministério de Relações Exteriores em Doha.

Catar, Estados Unidos e Egito realizam conversas há meses para cessar o conflito; todavia, sem o aval de Israel.

O Egito, por sua vez, condenou o “bombardeio deliberado” a Rafah, cidade que abriga cerca de 1.5 milhão de refugiados em sua fronteira no Sinai. Em nota, a chancelaria no Cairo instou Israel a “implementar as ordens do Tribunal Internacional de Justiça para cessação imediata das ações militares”.

Segundo a pasta, o bombardeio deste domingo constitui “violação flagrante das provisões da lei internacional e da Quarta Convenção de Genebra de 1949, sobre a proteção de civis em tempos de guerra”, além de “reflexo da política sistêmica de expandir o escopo das mortes e destruição em Gaza, para tornar o enclave inabitável’.

O Cairo reforçou apelos ao Conselho de Segurança para “intervir urgentemente” por um cessar-fogo, muito embora resoluções prévias tenham sido vetadas por Washington ou, quando enfim aprovadas, ignoradas por Israel.

A Jordânia ecoou a indignação, ao denunciar “desrespeito flagrante ao Tribunal Internacional de Justiça e grave violação da lei humanitária internacional”.

O Ministério de Relações Exteriores do Kuwait foi mais incisivo, ao condenar um “genocídio sem precedentes e gritantes crimes de guerra”.

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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, responsabilizou Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, pelo atentado em Gaza. “Faremos todo o possível para levar esses bárbaros e assassinos à justiça”, prometeu Erdogan.

O ministro de Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares reiterou que o bombardeio representa “mais um dia em que civis inocentes palestinos são assassinados”, ao advertir que a gravidade do ataque “é ainda maior” pelo desacato aos mandados de Haia.

Seu homólogo irlandês, Micheal Martin, classificou como os ataques como “bárbaros”. Segundo o ministro: “Não é possível bombardear uma área como essa sem consequências chocantes em termos de civis e crianças inocentes. Instamos Israel a parar, parar agora mesmo, sua operação militar em Rafah”.

O ministro de Relações Exteriores da Noruega, Espen Barth Eide, destacou que os bombardeios abrangem uma “violação material da decisão da mais alta corte global”, em referência à “ordem vinculativa do Tribunal Internacional de Justiça para que Israel cesse seus ataques a Rafah”.

“É vinculativo, compulsório”, acrescentou o representante de Oslo.

Espanha, Irlanda e Noruega devem reconhecer oficialmente o Estado palestino nesta terça-feira (28), conforme anúncio na última semana que incorreu no isolamento diplomático ainda maior do Estado de Israel.

Josep Borrell, chefe de política externa da União Europeia, reafirmou que Israel deve cumprir as consignações de Haia, horas antes de ministros de Relações Exteriores do bloco se reunirem em Bruxelas com homólogos árabes. O debate deve abordar a crise em Gaza.

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Antes do encontro, a ministra de Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, admitiu que a “lei internacional se aplica a todos — também à conduta de guerra de Israel”.

O presidente da França, Emmanuel Macron, alegou indignação. “Essas operações têm de parar. Não há áreas seguras em Rafah para os civis palestinos”, corroborou Macron.

Jeremy Corbyn, ex-líder do Partido Trabalhista britânico, rompeu o silêncio de seu sucessor Keir Starmer e do premiê Rishi Sunak, ao caracterizar o ataque israelense a Rafah como “monstruoso fracasso da humanidade”.

Em postagem no Twitter (X), comentou Corbyn: “Crianças deveriam acordar animadas para ir à escola e brincar com os amigos. Em vez disso, para aquelas assassinadas em Rafah, seus últimos momentos na terra foram tomados por um medo inimaginável, à medida que choviam bombas sobre suas tendas”.

Humza Yousaf, ex-primeiro-ministro da Escócia, que possui familiares palestinos, declarou: “Dias após Haia ordenar Israel a cessar sua ofensiva militar a Rafah, seu governo decide bombardear pessoas deslocadas vivendo em tendas”.

“Homens, mulheres e crianças inocentes — desmembrados e queimados vivos”, reiterou Yousaf. “Veja por si só as imagens e se pergunte: Você está mesmo do lado certo da história?”

O ministro da Defesa da Itália, Guido Crosetto, reconheceu: “Esta é uma situação cada vez mais difícil, na qual palestinos são espremidos sem tomar em conta os direitos de homens, mulheres e crianças inocentes, que nada tem a ver com o Hamas — e isso não pode mais ser justificado”.

“Vemos a situação em desespero”, enfatizou Crosetto, em uma das mais duras críticas de Roma, sob Giorgia Meloni, ao Estado de Israel.

Meloni recebeu em Roma o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Mustafa, no sábado (25), ao destinar €35 milhões a assistência a Gaza e retomar €5 milhões à UNRWA.

“Estamos ajudando as pessoas”, garantiu Crosetto. “Mas não basta. Temos a impressão de que, com essa escolha, Israel busca o ódio, que envolverá seus filhos e netos”.

Jagmeet Singh, deputado canadense e líder do Novo Partido Democrático, comentou no Twitter: “O mundo falhou com Gaza. O Canadá falhou com o povo de Gaza”.

Ro Khanna, deputada do Partido Democrata nos Estados Unidos, instou Tel Aviv a “suspender de imediato” a agressão a Rafah. “A perda horrível de vidas inocentes que vimos hoje com a ataque a bombas a um campo de refugiados confirma a urgência moral de cessar essa campanha”.

Aida Touma-Sliman, membro árabe-palestina do parlamento israelense (Knesset), denunciou o premiê por sua “loucura e sede de vingança”. No Twitter, reiterou Touma-Sliman: “Este governo sanguinário se recusa a obedecer às ordens da justiça internacional e leva sua loucura e sede de vingança a uma escala de crimes hediondos”.

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Francesca Albanese, relatora especial das Nações Unidas para direitos humanos nos territórios palestinos, observou: “O genocídio em Gaza não cessará facilmente sem pressão externa: Israel deve enfrentar sanções, justiça, suspensão de acordos de comércio, parceria e investimentos — assim como sua participação nos fóruns internacionais”.

Balakrishnan Rajagopal, relator para o direito à habitação, pediu sanções internacionais: “Atacar mulheres e crianças abrigadas em Rafah é uma monstruosidade atroz. Precisamos de uma ação global coordenada para cessar as violações de Israel agora mesmo”.

Chris Gunness, ex-porta-voz da UNRWA, relatou que os três juízes da câmara pré-julgamento do Tribunal Penal Internacional (TPI), “estão tão horrorizados quanto o resto do mundo” e advertiu: “Não há exceção à Convenção de Genocídio. Não há desculpas. É o crime de todos os crimes”.

O grupo humanitário Action Aid disse estar “indignado e desolado” pela agressão “desumana e bárbara” contra Rafah. “As imagens que obtemos de nossos parceiros, de corpos carbonizados, são uma verdadeira cicatriz no rosto da humanidade e da comunidade internacional, que falhou até então em proteger o povo de Gaza”.

Segundo a Action Aid, seus colegas em Gaza quase não escaparam, ao deixar o campo somente um dia antes do ataque.

Triestino Mariniello, advogado do Centro para Direitos Humanos Palestinos (PCGR), explicou que o ataque israelense a uma suposta “zona segura” mostra desacato a Haia. “As imagens horríveis que chegam de Rafah demonstram que as autoridades israelenses desprezam por completo as medidas provisórias, porém vinculativas, do Tribunal Internacional de Justiça”.

Em postagem online, Sarah Leah Whitson, diretora executiva da ong americana DAWN, indagou ao secretário de Estado Antony Blinken, chefe de política externa da Casa Branca: “Pessoas em chamas em suas tendas de refugiados contam como ‘grave ofensa que falha em proteger civis’, ou ainda não?”

O jornalista libanês Dalal Mawad comentou: “Em 1996, vi um bebê decapitado no massacre de Qana, perpetrado por Israel em um campo das Nações Unidas no sul do Líbano. Jamais consegui me recuperar do que vi. Na noite passada, o mesmo crime voltou a acontecer. Impunidade quer dizer que a história se repete”.

A Comissão da União Africana insistiu que a ordem de Haia deve ser “aplicada urgentemente a fim de que prevaleça”.

O presidente do bloco africano, Moussa Mahamat Faki, afirmou: “Com ataques debaixo da noite contra crianças e mulheres palestinas presas em um campo para deslocados em Rafah, o Estado de Israel continua a violar impunemente a lei internacional, com pleno desprezo a um mandado de Haia de apenas dois dias atrás, para encerrar suas operações em Rafah”.

Israel mantém ataques a Gaza há sete meses, deixando 35 mil mortos e 80 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados. Entre as fatalidades, ao menos 15 mil são crianças.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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