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Israel desafia resolução do Conselho de Segurança, mantém ataques a Gaza

Mulher palestina examina escombros deixados por bombardeios israelenses nesta madrugada, em Rafah, na Faixa de Gaza, 26 de março de 2024 [Yasser Qudaih/Agência Anadolu]

Após quase 24 horas desde a aprovação de uma resolução vinculativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas para um cessar-fogo em Gaza, até o fim do Ramadã, daqui duas semanas, operações militares de Israel continuam a avançar nas cidades palestinas.

As informações são da rede de notícias Al Jazeera.

A cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, na fronteira com o Egito, vivenciou um surto de ataques durante a madrugada, sob ameaças pertinazes do premiê israelense Benjamin Netanyahu de uma invasão por terra. Rafah abriga hoje 1,5 milhão de refugiados.

A obstrução ao fluxo humanitário na região norte — sem comida, água, remédios ou combustível — também persiste, apesar da crise de fome e apelos globais que se somam a uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, do mês de janeiro.

Nesta segunda-feira (25), os 15 membros do Conselho de Segurança aprovaram por unanimidade — salvo abstenção dos Estados Unidos — uma resolução por cessar-fogo em Gaza. Washington usou seu poder de veto contra três resoluções prévias, ao indicar agora uma mudança de postura.

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A resolução “exige que um cessar-fogo imediato até o fim do Ramadã seja respeitado pelas partes relevantes, levando a um cessar-fogo duradouro e sustentável”.

Todos os 193 Estados-membros das Nações Unidas devem respeitar a medida — incluindo Israel —, sob risco de acumular transgressões da lei internacional. Todavia, no momento, sua implementação parece improvável.

O período previsto, segundo analistas, é também insuficiente para responder à catástrofe humanitária imposta pela campanha de Israel, ou sequer para coordenar e assegurar entregas assistenciais ao norte de Gaza e à cidade homônima, no centro do território.

Em Rafah, dezoito pessoas morreram desde a votação, incluindo nove crianças. Bombardeios no bairro de al-Nassr, no nordeste da cidade, também deixaram baixas.

Israel manteve ainda ataques ao Hospital Al-Aqsa, em Deir al-Balah, ligeiramente ao norte. Segundo testemunhas, crianças e bebês foram mortos pela ofensiva.

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O governo israelense rechaçou a mudança de postura de Washington — cujo governo democrata de Joe Biden enfrenta crise interna em plena campanha eleitoral. Em resposta à abstenção, Netanyahu cancelou a viagem de uma delegação ao país.

O movimento palestino Hamas acolheu a resolução, ao destacar “prontidão em se engajar na troca de prisioneiros” e reiterar seus apelos por extensão da trégua, retirada das forças ocupantes de Gaza e retorno dos palestinos deslocados a suas casas.

O grupo nacional ressaltou a necessidade de fluxo humanitário e esforços de reconstrução, além de apoio para retirada de destroços e recuperação de corpos presos há meses sob os escombros.

Basem Naim, membro do gabinete político do Hamas, observou: “Acolhemos a medida, mas é papel da comunidade internacional compelir Israel a cumpri-la e encerrar, portanto, sua abordagem de dois pesos e duas medidas no que se refere ao Estado ocupante”.

Israel, no entanto, descartou os apelos do Hamas como “delirantes”, segundo postagem de Netanyahu na rede social X (Twitter). Benny Gantz, adversário eleitoral do premiê, integrado ao gabinete de guerra, minimizou a decisão das Nações Unidas como “pouco importante no sentido operacional”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, no entanto, enfatizou que o “fracasso” em implementar a resolução “seria imperdoável”.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.

Entretanto, reportagens do jornal Haaretz mostraram que uma parcela considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de chefes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.

Em Gaza, são 32.333 palestinos mortos e 74.694 feridos desde 7 de outubro, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de pessoas desabrigadas pelas ações de Israel. Entre as fatalidades, são 13 mil crianças e quase nove mil mulheres.

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Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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