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‘Limpar Gaza’: Genro de Trump prenuncia oportunidades imobiliárias

Jared Kushner, genro e assessor do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump —candidato à eleição de novembro pelo Partido Republicano —, pareceu manifestar abertamente suas verdadeiras intenções com a limpeza étnica da Faixa de Gaza sitiada, ao pressagiar oportunidades de negócio.

Durante o mandato de Trump, entre 2016 e 2020, Trump foi incumbido de preparar o chamado “acordo do século”, em busca de uma solução à causa palestina.

Kushner afirmou, em evento na Universidade de Harvard sobre as possibilidades em Gaza, que Israel deve “retirar as pessoas e limpar tudo”, ao argumentar que as “propriedades na orla podem ser valiosas … caso as pessoas se concentrem em construir seus negócios”.

Seus comentários parecem prenunciar a política externa de Trump para o Oriente Médio em um eventual segundo mandato, caso se confirme sua vitória eleitoral sobre o incumbente democrata Joe Biden.

Biden sofre recordes de rejeição em plena campanha à reeleição, com menção a seu apoio “incondicional” ao genocídio em Gaza.

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Kushner sugeriu que a “prioridade número um” deve ser remover os civis de Rafah, no extremo sul de Gaza, ao alegar que, “com diplomacia”, seria possível levá-los ao Egito.

“Além disso, penso que deveríamos aplainar algumas áreas do Negev, para tentar assentar essas pessoas. Penso que é a melhor opção: vai lá e termina o trabalho”, acrescentou.

Questionado pelo professor Tarek Masoud, chefe do departamento de estudos do Oriente Médio da Universidade de Harvard, se o governo israelense tem planos em curso para transferir os palestinos ao deserto do Negev, Kushner deu de ombros: “Não sei”.

Os comentários de Kushner foram rechaçados por palestinos, ativistas e jornalistas.

“Eles sequer tentam esconder seu racismo e colonialismo”, destacou o pastor palestino Munther Isaac em sua página do Twitter (X). “Nada mais me surpreende”.

Gregg Carlstrom, correspondente da revista The Economist para o Oriente Médio, comentou: “Kushner faz três gols de placa, ao irritar os palestinos, para expulsá-los e construir condomínios; os egípcios, ao dizer que, talvez, Sisi os acolha; e os israelenses, ao empurrar os palestinos à região do Negev — tudo com um único golpe”.

As medidas sugeridas por Kushner equivalem a transferência compulsória de uma população nativa — isto é, crime de limpeza étnica e genocídio.

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Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma operação transfronteiriça do movimento Hamas que capturou colonos e soldados. De acordo com o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.

No entanto, reportagens do jornal israelense Haaretz mostram que parte considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de líderes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.

Em Gaza, são 31.923 palestinos mortos e 74.096 feridos, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de pessoas desabrigadas pelas ações de Israel.

Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, emitida em 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco absoluto contra Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.

Após conduzir uma violenta varredura norte-sul, destruindo 60% da infraestrutura civil de Gaza, Israel promete agora invadir por terra a cidade de Rafah, na fronteira com o Egito, cuja população saltou de 300 mil a 1,5 milhão de habitantes em seis meses.

O avanço — ecoado por declarações de líderes sionistas, somados agora ao assessor de Trump — confirma alertas de que o objetivo de guerra de Israel é, na verdade, a expulsão dos palestinos de suas casas e terras, para ocupá-las e reassentá-las ilegalmente.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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