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Judeus americanos denunciam lobby sionista como ameaça à democracia

Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, durante cúpula anual do Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelense (AIPAC), em Washington DC, 5 de junho de 2023 [Chip Somodevilla/Getty Images]

Judeus americanos de diversas áreas de atuação se uniram para manifestar repúdio à ingerência do Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelense (AIPAC) e outros grupos de lobby sionista nas eleições dos Estados Unidos, sobretudo nas primárias democratas.

Entre os signatários da carta, estão a rabina Alissa Wise, organizadora do movimento Rabbis for Ceasefire; Ben Cohen, filantropo e cofundador da companhia Ben & Jerry’s; Beth Miller, diretora política da Jewish Voice for Peace (JVP); Elliott Gould, ator; Peter Beinart, editor da rede Jewish Currents, autor e professor de jornalismo; e Suzanne Gordon, autora e jornalistas.

O documento expressa apreensão com esforços para intervir nos resultados eleitorais, silenciar críticos do regime ocupante e apoiar candidatos colaboracionistas, a fim de assegurar o apoio a Israel “independente de sua violência ou ilegalidade”.

“Dado o tamanho isolamento internacional de Israel, de modo a ser insustentável o tratamento desumano dado aos palestinos, sem apoio político e militar americano, a AIPAC é um elo crucial na corrente que mantém em tração a tragédia insuportável de Israel-Palestina”, explicou a carta. “Nas próximas eleições, precisamos romper essa corrente, a fim de ajudar a libertar os povos de Israel-Palestina, em busca de coexistência pacífica na região”.

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Os signatários destacaram o vínculo recente entre a AIPAC e extremistas republicanos, incluindo dezenas de deputados que votaram contra a ratificação da vitória do presidente Joe Biden sobre Donald Trump, no último biênio eleitoral.

Segundo a denúncia, o grupo de lobby é também responsável por angariar milhões de dólares à campanha de Trump ou em esforços para difamar progressistas nas primárias democratas — em particular, candidatos negros, latinos, árabes e de outras minorias.

“A AIPAC promete gastar mais e mais milhões de dólares nas primárias democratas de 2024, ao alvejar democratas no Congresso — a princípio, legisladores de cor — que defendem um cessar-fogo em Gaza, conforme posição da maioria do eleitorado do partido”.

“O aumento dos gastos eleitorais da AIPAC busca derrotar candidatos que criticam as políticas e práticas racistas de Israel”, prosseguiu a carta.

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Os judeus americanos por trás do documento concluíram seus alertas com um chamado à ação: “Rejeitamos veementemente os esforços da AIPAC de dominar as primárias eleitorais do Partido Democrata. Pedimos aos candidatos democratas que não aceitem recursos da AIPAC e exijam da da liderança partidária que não permita doadores republicanos a usarem a rede da organização para deformar as primárias democratas. Apoiamos, portanto, candidatos que se opõem à AIPAC e que defendem a paz e uma política justa sobre Israel-Palestina”.

A carta reflete uma mudança substancial na atitude de muitos judeus sobre a influência sionista na política americana, assim como sobre as ações coloniais de Israel na Palestina.

Biden sofre uma crise interna em plena campanha à reeleição, a qual disputa novamente com o ex-presidente Donald Trump. Eleitores progressistas — cruciais à vitória democrata em 2020 — citam o apoio a Israel como razão para se abster do voto.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do movimento Hamas que capturou colonos e soldados. De acordo com o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.

No entanto, reportagens do jornal israelense Haaretz demonstraram que parte considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de líderes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.

Em Gaza, são 31.923 palestinos mortos e 74.096 feridos, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de pessoas desabrigadas pelas ações de Israel.

Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, emitida em 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco absoluto contra Gaza — sem comida, água, combustível ou medicamentos.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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