Refugiados de Gaza celebram Ramadã apesar de ‘feridas profundas’

De uma escola das Nações Unidas utilizada como abrigo aos deslocados internos em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza sitiada, refugiados palestinos estenderam seus cumprimentos a concidadãos e outros povos islâmicos pelo mês sagrado do Ramadã.

“Apesar de nossas feridas profundas, deste luto amargo e enorme tristeza, apesar dos bombardeios diários de Israel, da destruição e da fome, nós, deslocados de Gaza, estendemos nossos cumprimentos à nação árabe e islâmica, no advento do Ramadã”, comentou um refugiado à rede de notícias Al Jazeera.

Segundo o morador de Gaza, toda sua comunidade “ora a Deus para que a paz volte às celebrações, com a libertação de nossa terra e de nossos prisioneiros”.

Outro refugiado de Jabalia ecoou a mensagem: “Apesar da enorme destruição e dos massacres ainda cometidos por Israel, fazemos tudo que podemos para ajudar nossas crianças a comemorar o mês sagrado”.

Outros relatos apontaram para as diferenças entre o Ramadã desde ano e dos anos anteriores, à medida que dezenas de milhares vivenciam a perda contínua de entes queridos e de suas residências, além de uma crise de fome generalizada.

Mahmoud al-Qeshwi, professor de inglês em Rafah, no extremo sul de Gaza, disse à Al Jazeera que o primeiro dia do Ramadã foi “difícil”, pois não há comida para romper o jejum.

LEIA: Ramadã 2024: Quando começa o mês sagrado? Por que os muçulmanos jejuam?

Al-Qeshwi relatou trabalhar como voluntário em uma cozinha que busca alimentar “dezenas de milhares” de refugiados; contudo, sob sucessivos empecilhos, em particular, o embargo israelense ainda em curso.

Embora as orações da noite da primeira noite do Ramadã em Gaza tenham registrado comparecimento massivo, al-Qeshwi observou que muitas famílias temem ir às mesquitas ou congregações devido aos ataques de Israel.

“Sabemos que muitas mesquitas foram atacadas, então é difícil orar, se concentrar na prece, sabendo que eles podem atacar a qualquer instante”, comentou al-Qeshwi. “Foguetes destroem tudo ao seu redor, então muitos fiéis preferem orar nos abrigos”.

O Ramadã neste ano coincide com os ataques israelenses a Gaza, após mais de cinco meses sem cessar-fogo.

Como resultado dos bombardeios e cerco israelense, além da obstrução do acesso humanitário, residentes de Gaza — sobretudo na cidade homônima e nas províncias ao norte — sofrem com fome generalizada e doenças, sem comida, água, medicamentos ou combustível.

Ao promover o cerco, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, descreveu os 2.4 milhões de palestinos de Gaza como “animais humanos”, dando voz a uma retórica desumanizante que se tornou lugar comum entre as lideranças israelenses.

Para 1,6 bilhão de muçulmanos ao redor do mundo, o mês do Ramadã marca um momento de espiritualidade e reflexão, durante o qual, fiéis se abstêm de comer e beber ao longo do dia.

LEIA: Violações praticadas por Israel visam tomada total de Jerusalém para declará-la sua capital  

Outros atos de culto também ocorrem, incluindo ações de caridade e solidariedade, orações e leituras do livro sagrado, o Alcorão.

Para os palestinos, entretanto, as festas costumam coincidir com uma escalada nas agressões de Israel, incluindo obstruções de acesso à Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém ocupada — terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas, que capturou colonos e soldados. São 31.045 palestinos mortos e 72.654 feridos até então, além de dois milhões de desabrigados.

Cerca de 70% das vítimas são mulheres e crianças.

Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, Israel insiste em impedir a entrada de assistência humanitária a Gaza.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

Sair da versão mobile