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Refugiados de Gaza celebram Ramadã apesar de ‘feridas profundas’

Palestinos realizam compras para o Ramadã no bazar al-Zawiya, da Cidade de Gaza, em meio às ruínas deixadas por Israel, em 11 de março de 2024 [Dawoud Abo Alkas/Agência Anadolu]

De uma escola das Nações Unidas utilizada como abrigo aos deslocados internos em Jabalia, no norte da Faixa de Gaza sitiada, refugiados palestinos estenderam seus cumprimentos a concidadãos e outros povos islâmicos pelo mês sagrado do Ramadã.

“Apesar de nossas feridas profundas, deste luto amargo e enorme tristeza, apesar dos bombardeios diários de Israel, da destruição e da fome, nós, deslocados de Gaza, estendemos nossos cumprimentos à nação árabe e islâmica, no advento do Ramadã”, comentou um refugiado à rede de notícias Al Jazeera.

Segundo o morador de Gaza, toda sua comunidade “ora a Deus para que a paz volte às celebrações, com a libertação de nossa terra e de nossos prisioneiros”.

Outro refugiado de Jabalia ecoou a mensagem: “Apesar da enorme destruição e dos massacres ainda cometidos por Israel, fazemos tudo que podemos para ajudar nossas crianças a comemorar o mês sagrado”.

Outros relatos apontaram para as diferenças entre o Ramadã desde ano e dos anos anteriores, à medida que dezenas de milhares vivenciam a perda contínua de entes queridos e de suas residências, além de uma crise de fome generalizada.

Mahmoud al-Qeshwi, professor de inglês em Rafah, no extremo sul de Gaza, disse à Al Jazeera que o primeiro dia do Ramadã foi “difícil”, pois não há comida para romper o jejum.

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Al-Qeshwi relatou trabalhar como voluntário em uma cozinha que busca alimentar “dezenas de milhares” de refugiados; contudo, sob sucessivos empecilhos, em particular, o embargo israelense ainda em curso.

Embora as orações da noite da primeira noite do Ramadã em Gaza tenham registrado comparecimento massivo, al-Qeshwi observou que muitas famílias temem ir às mesquitas ou congregações devido aos ataques de Israel.

“Sabemos que muitas mesquitas foram atacadas, então é difícil orar, se concentrar na prece, sabendo que eles podem atacar a qualquer instante”, comentou al-Qeshwi. “Foguetes destroem tudo ao seu redor, então muitos fiéis preferem orar nos abrigos”.

O Ramadã neste ano coincide com os ataques israelenses a Gaza, após mais de cinco meses sem cessar-fogo.

Como resultado dos bombardeios e cerco israelense, além da obstrução do acesso humanitário, residentes de Gaza — sobretudo na cidade homônima e nas províncias ao norte — sofrem com fome generalizada e doenças, sem comida, água, medicamentos ou combustível.

Ao promover o cerco, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, descreveu os 2.4 milhões de palestinos de Gaza como “animais humanos”, dando voz a uma retórica desumanizante que se tornou lugar comum entre as lideranças israelenses.

Para 1,6 bilhão de muçulmanos ao redor do mundo, o mês do Ramadã marca um momento de espiritualidade e reflexão, durante o qual, fiéis se abstêm de comer e beber ao longo do dia.

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Outros atos de culto também ocorrem, incluindo ações de caridade e solidariedade, orações e leituras do livro sagrado, o Alcorão.

Para os palestinos, entretanto, as festas costumam coincidir com uma escalada nas agressões de Israel, incluindo obstruções de acesso à Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém ocupada — terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas, que capturou colonos e soldados. São 31.045 palestinos mortos e 72.654 feridos até então, além de dois milhões de desabrigados.

Cerca de 70% das vítimas são mulheres e crianças.

Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, Israel insiste em impedir a entrada de assistência humanitária a Gaza.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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