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Aviões dos EUA lançam ajuda a Gaza, críticos denunciam ação ‘ineficaz’

Aeronaves militares dos Estados Unidos lançam pacotes assistenciais a Rafah, no extremo sul de Gaza, em 26 de fevereiro de 2024 [Said Khatib/AFP via Getty Images]
Aeronaves militares dos Estados Unidos lançam pacotes assistenciais a Rafah, no extremo sul de Gaza, em 26 de fevereiro de 2024 [Said Khatib/AFP via Getty Images]

Os Estados Unidos reportaram no sábado (2) que aviões militares lançaram pacotes assistenciais na Faixa de Gaza sitiada pela primeira vez desde a deflagração do genocídio israelense.

Segundo informações da agência Anadolu, ao menos 38 mil refeições caíram de paraquedas na região de Rafah, no extremo sul de Gaza, onde 1.4 milhão de palestinos se abrigam em situação precária, sob condições de fome e doenças.

A situação no norte de Gaza é ainda mais grave, onde ao menos 16 crianças morreram de fome.

“Nosso exército, em colaboração com a Força Aérea Real da Jordânia, conduziu um lançamento humanitário a Gaza, em 2 de março de 2024, entre as 15 e 17 horas locais, para fornecer auxílio fundamental aos civis afetados pelo conflito”, declarou o Comando Central dos Estados Unidos (Centcom) em comunicado.

“Jatos C-130 dos Estados Unidos lançaram mais de 38 mil refeições na costa de Gaza, dando aos civis acesso a assistência crítica”, acrescentou.

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vangloriou-se da medida, na tentativa de conter os recordes de rejeição a sua gestão, em plena campanha eleitoral, na qual deve voltar a enfrentar seu antecessor republicano Donald Trump.

John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança dos Estados Unidos, afirmou na sexta-feira (1°) que o país deve realizar múltiplos lançamentos por ar nas próximas semanas, em parceria com a Jordânia.

Contudo, confirmou problemas em termos de volume, ao caracterizar a medida como “suplemento e não substituição aos avanços em campo”.

Biden prometeu abrir novas vias assistenciais por mar, ar e terra — incluindo corredores da Jordânia e rotas de navegação a partir do Chipre.

A Casa Branca declarou ainda manter apelos junto a Tel Aviv para que facilite o acesso humanitário ao território sitiado. No entanto, sem medidas efetivas.

A ação americana ocorreu dois dias após forças da ocupação abrirem fogo contra uma multidão de palestinos famintos que aguardavam um caminhão humanitário na rua al-Rashid, via costeira a oeste da Cidade de Gaza — episódio que ficou conhecido como “massacre da farinha”. Mais de cem pessoas morreram e outras 760 ficaram feridas.

O lançamento americano, no entanto, recebeu críticas como “insuficiente” e “ineficaz”, dado que Israel mantém o bloqueio a Gaza, além de bombardeios indiscriminados a rotas humanitárias, abrigos, escolas, hospitais e campos de refugiados.

Israel mantém um cerco absoluto a Gaza desde 7 de outubro, somado a ataques por ar e terra, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados.

Ao promover o embargo — sem comida, água ou medicamentos —, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os 2.4 milhões de palestinos de Gaza como “animais humanos”.

Desde então, ao menos 30.534 palestinos foram mortos e 71.920 ficaram feridos — na vasta maioria, mulheres e crianças. Em torno de 85% da população de Gaza — ou dois milhões de pessoas — foi desabrigada.

Relações públicas

“Os lançamentos são simbólicos e projetados para acalmar a base doméstica”, comentou Dave Harden, ex-diretor da Agência para Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid), à rede Al Jazeera. “O que precisa acontecer é maior abertura de fronteiras e mais caminhões entrando todos os dias”.

“Penso que os Estados Unidos mostram fraqueza”, acrescentou Harden. “Os Estados Unidos têm a capacidade de compelir Israel a abrir novas rotas; no entanto, ao não fazer nada, põem nossos recursos e nosso povo em risco ao alimentar o caos em Gaza”.

A ong britânica Medical Aid for Palestinians (MAP) reiterou que Estados Unidos, Grã-Bretanha e outros têm de trabalhar para “garantir que Israel abra imediatamente todas as fronteiras”.

A Oxfam descreveu os esforços do governo Biden como tentativa de atenuar um “sentimento de culpa” entre seus oficiais.

“À medida que os residentes de Gaza são levados ao abismo, lançar um volume insignificante e simbólico de assistência, sem qualquer plano de distribuição segura, não ajuda em nada e pode ser profundamente degradante aos palestinos”, observou Scott Paul, diretor da Oxfam, em nota publicada no Twitter (X).

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O Ministério de Relações Exteriores da Autoridade Palestina (AP) também criticou Washington, ao acusá-lo de agir como um “Estado fraco e marginal” incapaz de prover assistência segura aos palestinos.

O senador democrata Bernie Sanders, no entanto, acolheu a medida: “Saúdo o presidente Biden por compreender que há uma profunda crise humanitária em Gaza”.

Sanders tornou-se pária de seu próprio eleitorado progressista, após demorar meses para pedir um cessar-fogo em Gaza, ao conceder, portanto, apoio tácito à campanha de guerra no Oriente Médio.

Mahjoob Zweiri, diretor do Centro de Estudo do Golfo, radicado em Doha, no Catar, destacou à Al Jazeera que a comunidade internacional não impõe pressão suficiente a Israel para permitir a entrada dos caminhões assistenciais que fazem fila nas zonas de fronteira.

“Por que não permitir a entrada de comida por Karem Abu Salem?”, perguntou Zweiri, em referência à travessia de fronteira entre Gaza e Israel, onde colonos extremistas obstruem a passagem.

“Há hoje dois mil caminhões esperando para entrar em Gaza”, reiterou, ao advertir que os alimentos se aproximam do prazo de validade.

Na semana passada, o governo democrata de Joe Biden instruiu sua delegação no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) a vetar pela terceira vez uma resolução por cessar-fogo em Gaza, apesar de apelos populares em solo americano.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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