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Chaves dos lares palestinos de Gaza tornam-se novo símbolo da Nakba

Mapa da Palestina histórica em frente a uma mesquita de Rafah, no sul de Gaza, 8 de fevereiro de 2024 [Mohammed Abed/AFP via Getty Images]

Palestinos deslocados pela campanha israelense na Faixa de Gaza guardam consigo as chaves de suas casas destruídas ou danificadas, como um novo símbolo da tragédia nacional palestina — a Nakba ou “catástrofe” —, que remete às tradições da diáspora palestina de 1948.

As informações são da agência de notícias Reuters.

A maior parte dos palestinos de Gaza são refugiados ou descendentes de refugiados expulsos de suas terras em 1948, na ocasião da criação de Israel.

Chaves de residências perdidas são passadas de geração a geração desde então, como símbolo do direito de retorno do povo palestino — negado por Israel há mais de sete décadas. Agora, as chaves de Gaza se somam à iconografia da catástrofe nacional palestina.

“A história se repete”, destacou Hatem al-Ferani, abrigado junto a sua família em uma tenda em Rafah, no sul de Gaza, na zona de fronteira com o Egito. “Meu avô deixou sua casa com a chave em mãos, na esperança de voltar; eu fiz o mesmo, na esperança de voltar a meu apartamento e encontrá-lo como deixei”.

Ao contrário, durante a trégua de uma semana em novembro, al-Ferani recebeu fotografias da casa de sua família, no campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza, agora destruída.

Porém, ergue com orgulho o símbolo de sua perda: “Esta é a chave da casa que trabalhei muito para construir. Tenho 44 anos de idade e agora tenho de começar minha vida do zero e construir uma nova casa”.

Símbolo de um sonho

Hussein Abu Amsha vive um drama similar. Ele e sua família estão abrigados em uma tenda na cidade de Rafah e, durante a trégua, também receberam imagens dos destroços de sua casa em Beit Hanoun, no nordeste do território sitiado.

“Esta chave é tudo que sobrou”, lamentou Abu Amsha, ao exibir o objeto. Seu chaveiro, segundo o relato, é feito de uma moeda com a palavra “Palestine”, em inglês, que data do antigo período do Mandato Britânico, que antecedeu justamente a criação de Israel.

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“A chave representa nossa terra. Não podemos viver sem nossa terra”, insistiu Abu Amsha. “Sim, temos esperanças de voltar, mesmo que para uma tenda sobre nossas ruínas”.

Mohammed al-Majdalawi, expulso pelos bombardeios do campo de refugiados de al-Shati, no norte de Gaza, lembrou-se do avô lhe mostrando a chave de sua antiga residência, ao repassar memórias de 1948, de geração a geração.

“O que fiz para Israel para destruir a minha casa? As crianças do mundo vivem bem, mas meus filhos são humilhados, mortos e deixados ao relento”, reportou Abu Amsha.

Na Cisjordânia, campos de refugiados de 1948 também são comuns. Monumentos que retratam as chaves da Nakba estão por toda parte, uma iconografia única do deslocamento, contudo, de compreensão universal.

“As chaves representam o direito de retorno” explicou Mohammed Said, chefe do escritório de imprensa responsável por um comitê que administra o campo de refugiados de Qalandia, entre as cidades de Ramallah e Jerusalém.

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“A chave é um objeto de metal comum a qualquer lugar, mas mantê-la consigo significa que há um sonho que queremos conquistar”, acrescentou.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 30 mil mortos e 70 mil feridos; na maioria, mulheres e crianças. Dois milhões de pessoas foram desabrigadas.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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