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Documentário sobre pogroms israelenses na Cisjordânia vence Festival de Berlim

O diretor palestino Basel Adra aceitou o prêmio de Melhor Documentário do Festival de Cinema de Berlim (Berlinale), neste domingo (25), por seu longa-metragem “No Other Land”, sobre Masafer Yatta — comunidade na Cisjordânia ocupada alvo de pogroms perpetrados por colonos e soldados israelenses.

O longa-metragem “No Other Land”, que aborda os ataques coloniais de Israel a Masafer Yatta, perto de Hebron (Al-Khalil), na Cisjordânia ocupada, venceu o prêmio de Melhor Documentário no Festival de Cinema de Berlim (Berlinale).

A obra trata da comunidade do diretor palestino Basel Adra, vitimada por pogroms conduzidos por colonos e soldados, que buscam expulsar a população nativa de suas terras ancestrais.

“Estou aqui recebendo este prêmio, mas é muito difícil [para mim] comemorar quando dezenas de milhares de meus concidadãos são chacinados e massacrados por Israel em Gaza”, comentou Adra, na noite de sábado (24).

“Masafer Yatta, minha comunidade, também está sendo exterminada pelos tratores de Israel”, reafirmou. “Peço apenas uma coisa à Alemanha, já que estou em Berlim: que respeite os apelos das Nações Unidas e pare de vender armas a Israel”.

A obra, produzida por um coletivo israelo-palestino, mostra o deslocamento à força das famílias de Masafer Yatta, em meio à violência colonial. O próprio Adra é protagonista, ao documentar a destruição gradual de sua aldeia.

Seu codiretor, o cidadão israelense Yuval Abraham, confirmou sofrer ameaças de morte em seu país. Em seu discurso, no entanto, insistiu em denunciar o regime de apartheid estabelecido por Israel, ao notar a distinção de direitos civis entre ele e seu colega.

“Em dois dias, voltaremos a uma terra onde não somos iguais”, declarou Abraham. “Eu vivo sob o direito civil, ele vive sob a lei marcial. Vivemos a 30 minutos de distância, mas eu tenho direito ao voto; Basel não. Eu sou livre para ir e vir; Basel, como milhões de palestinos, está confinado na Cisjordânia ocupada. Essa situação de apartheid, de segregação entre nós, tem de acabar”.

LEIA: O novo esquema de Israel para anexar a Cisjordânia ocupada

A mensagem é particularmente eloquente na Alemanha atual, cujos governo busca criminalizar críticas legítimas à ocupação colonial sionista na Palestina histórica. O próprio Festival de Berlim foi tomado por controvérsias.

Ben Russel, diretor do documentário franco-alemão “Direct Action” vestiu um lenço tradicional palestino (keffiyeh) durante a cerimônia.

A diretora e roteirista americana Eliza Hittman reivindicou um cessar-fogo: “Como cineasta judia que ganhou o Urso de Prata em 2020, é importante para mim estar aqui. Isso não é uma guerra. Quanto mais as pessoas tentam se convencer de que é apenas uma guerra, mais elas se afogam neste ato grotesco de autoengano”.

No fim de semana, as contas oficiais do Festival de Berlim nas redes sociais foram supostamente hackeadas, ao compartilhar mensagens contra a guerra, entre as quais “Genocídio é genocídio. Somos todos cúmplices”.

“De nosso passado nazista mal resolvido a nosso presente genocida, sempre estivemos do lado errado da história”, declarou uma postagem. “Mas não é tarde para mudar o futuro”.

Em resposta, Kai Wegner, prefeito de Berlim, tuitou que sua cidade está “firmemente do lado de Israel”, ao responsabilizar a “nova gestão” do Berlinale pelo incidente.

Tapete vermelho

Na mesma noite, em Santa Monica, na Califórnia, durante a cerimônia do Spirit Awards, prêmio do cinema independente, um ato pró-Palestina interrompeu a transmissão. Do palco, declarou a apresentadora e atriz Aidy Bryant: “Estamos na praia e as pessoas estão exercendo seu direito de expressão”.

O período entre fevereiro e março é tradicionalmente marcado por premiações do cinema e da indústria cultural internacional, culminando na cerimônia do Oscar, em Hollywood. Nesta época do ano, atores, diretores e outros profissionais costumam usar sua plataforma para comentar sobre questões políticas e sociais, como no caso da guerra na Ucrânia nos últimos anos.

A temporada deste ano, contudo, pareceu prenunciar receios de censura, diante de um clima de novo macartismo nos Estados Unidos, no qual atrizes como Melissa Barrera e Susan Sarandon foram dispensadas de projetos por seu posicionamento pró-Palestina.

O embargo foi rompido na 66ª cerimônia do Grammy, em 4 de fevereiro, que premia a indústria musical, com transmissão internacional. Na ocasião, ao encerrar sua homenagem à compositora e ativista irlandesa Sinead O’Connor, falecida em julho de 2023, Annie Lennox ergueu o punho e proclamou: “Artistas por cessar-fogo! Paz no mundo”.

LEIA: Colonos israelenses atacam palestinos em Nablus, Jericó e Hebron

Desde então, algumas celebridades passaram a utilizar um broche que representa a campanha Artistas por Cessar-fogo, ao cruzar o tapete vermelho de diversos festivais, como nos prêmios da Guilda dos Atores da América (SAG), Guilda dos Diretores da América (DAG), Bafta, César, entre outros.

A petição, com apoio das organizações não-governamentais Oxfam e Action Aid, reúne nomes como Mark Ruffalo, Jennifer Lopez, Jeremy Allen White, Joaquin Phoenix, Rooney Mara, Richard Gere, Dua Lipa, Brian Cox, Sandra Oh, Selena Gomez, entre outros.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas, que capturou colonos e soldados. São 29.692 palestinos mortos e 69.879 feridos até então, além de dois milhões de desabrigados.

Cerca de 70% das vítimas são mulheres e crianças.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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Palestina: quatro mil anos de história
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