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EUA exigem ‘mudanças fundamentais’ para retomar doações à UNRWA

Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, em Nova York, 30 de janeiro de 2024 [Fatih Aktas/Agência Anadolu]

O governo dos Estados Unidos do presidente Joe Biden impôs nesta terça-feira (30) demandas por “mudanças fundamentais” para retomar o envio de recursos à Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), que presta serviços essenciais à Faixa de Gaza e região.

As informações são da agência de notícias Reuters.

Linda Thomas-Greenfield, embaixadora americana nas Nações Unidas, afirmou acolher ações da agência para investigar o caso, mas insistiu que seu governo reivindica “mais detalhes” sobre as acusações, impostas por Israel sem quaisquer provas.

Na sexta-feira (26), Israel difundiu alegações de envolvimento de 12 funcionários da UNRWA — de um contingente de 30 mil profissionais — na operação transfronteiriça do grupo Hamas de 7 de outubro.

A medida é retaliação a uma decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, favorável a uma denúncia sul-africana de que Israel comete genocídio em Gaza. A corte assumiu “plausibilidade” do caso e deve seguir com as investigações.

Além disso, os juízes ordenaram a Israel “ações imediatas e efetivas para garantir a provisão de assistência humanitária aos civis de Gaza”.

Ainda assim, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Itália, Canadá, Austrália, Reino Unido, Holanda, França, Áustria e Japão anunciaram a interrupção de todas as remessas financeiras à instituição humanitária da ONU.

LEIA: Alegações de Israel sobre a UNRWA ‘distraem’ do ataque em andamento, diz OMS

Noruega, Espanha, Irlanda, Escócia, Dinamarca e Bélgica mantiveram os recursos.

A UNRWA prontamente abriu um inquérito e revogou os contratos dos suspeitos.

“Temos de olhar bem para a agência, como ela opera em Gaza, como ela administra sua equipe e como garante que pessoas que cometeram atos criminosos, como esses 12 indivíduos, sejam prontamente responsabilizadas, para que a UNRWA siga com o trabalho essencial que costuma fazer”, alegou Thomas-Greenfield.

No domingo (28), o secretário-geral da ONU, António Guterres — também alvejado por Israel — reportou que dos 12 suspeitos, nove foram demitidos, um está morto e a identidade dos outros dois não foi esclarecida pela parte acusadora.

Os Estados Unidos são o maior doador à UNRWA, tendo interrompido as remessas previamente sob o governo republicano de Donald Trump.

Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado da gestão democrata, afirmou na terça-feira que Washington envia entre US$300 e US$400 milhões à agência anualmente.

Por mais de duas horas, Guterres reuniu-se com dezenas de emissários dos países doadores em Nova York, a fim de debater as alegações e as apreensões oriundas dos cortes. Vários presentes descreveram o encontro como “construtivo”.

Em meio ao genocídio e à fome em Gaza, Estados ocidentais suspendem recursos humanitários [Omar Zaghloul/Agência Anadolu]

Guterres instou os governos que suspenderam os recursos a rever a decisão e a “outros países, sobretudo aqueles na região, que chamem a responsabilidade para si”, relatou o embaixador da Autoridade Palestina (AP) nas Nações Unidas, Riyad Mansour.

O emissário chinês, Zhang Jun, disse que Guterres compartilhou informações sobre as alegações individuais. “Estamos em um momento crítico, no que diz respeito à catástrofe humanitária em Gaza e a guerra ainda em curso”, afirmou Zhang a repórteres. “Não devemos permitir que casos individuais diluam a busca por um cessar-fogo”.

O dossiê israelense, enviado à agência Reuters apenas na segunda-feira (29), acusa os suspeitos de participar dos sequestros e mortes em 7 de outubro, cuja retaliação desproporcional e ilegal incorreu no genocídio em Gaza.

Israel acusa ainda outros 190 funcionários da UNRWA de serem também “militantes” do Hamas ou da Jihad Islâmica — novamente, sem provas.

Segundo Stephane Dujarric, porta-voz das Nações Unidas, o governo de Israel não compartilhou ainda quaisquer informações oficiais, incluindo seu dossiê à imprensa, com a organização.

“Todos os anos, a UNRWA compartilha os nomes de toda sua equipe com os países onde exerce seu trabalho”, explicou Dujarric. “Para as operações em Gaza e Cisjordânia ocupada, a agência compartilha as informações tanto com a Autoridade Palestina quanto Israel”.

Palestinos apontam que Israel falseou informações para deslegitimar as operações essenciais da UNRWA, em particular, em um momento no qual a ocupação planeja expulsar os 2.4 milhões de palestinos de Gaza ao deserto do Sinai.

LEIA: Suspender doações à UNRWA é ‘manter o genocídio’, alertam grupos de direitos humanos

Em Gaza, 152 funcionários da UNRWA foram mortos por Israel e 145 instalações da organização sofreram danos devido aos bombardeios.

A UNRWA é a maior agência humanitária a operar em Gaza, com 13 mil funcionários no enclave sitiado. Seus principais serviços são escolas, clínicas e assistência social, além de distribuição de insumos humanitários à população carente.

No contexto atual, não há acesso de outras entidades.

O Conselho de Segurança expressou apreensão sobre a “célere e grave degradação da situação em Gaza” e instou todas as partes a colaborar com a equipe de Sigrid Kaag, nova coordenadora de reconstrução e ajuda humanitária das Nações Unidas para Gaza.

Após um mês no cargo, Kaag deu seu primeiro informe ao Conselho de Segurança nesta terça-feira, durante sessão realizada a portas fechadas. Conforme os relatos, Kaag confirmou que não há “qualquer substituto” para o papel humanitário exercido pela UNRWA.

“Não há qualquer maneira de outra organização substituir a tremenda capacidade e a intrincada tecitura de serviços da UNRWA, incluindo sua capacidade e conhecimento junto à população de Gaza”, reafirmou Kaag a jornalistas após o encontro.

Os ataques israelenses a Gaza deixaram 26 mil mortos e 65 mil feridos até então — em maioria, mulheres e crianças —, além de dois milhões de desabrigados.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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