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EUA anunciam coalizão contra Iêmen no Mar Vermelho, houthis prometem não recuar

Guarda Costeira do Iêmen patrulha o Mar Vermelho, em 12 de dezembro de 2023 [Khaled Ziad/AFP via Getty Images]

Os Estados Unidos anunciaram o lançamento de uma força multinacional para confrontar as ações de embargo do grupo houthi, que governa a maior parte do Iêmen, no Mar Vermelho, com enfoque na manutenção das operações comerciais.

Os houthis justificam seu bloqueio como resposta ao genocídio israelense em Gaza.

O Secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, afirmou na segunda-feira (19) que Canadá, França, Itália, Seicheles e Reino Unido estão entre os dez países a compor a iniciativa, além de Bahrein – único Estado regional a capitular à medida até então.

“Países que buscam manter o princípio fundacional da liberdade de navegação devem se unir para tratar dos desafios impostos por um agente não-estatal”, insistiu Austin. Para o chefe do Pentágono, as operações houthis “demandam ação coletiva”.

Os houthis — ligados a Teerã — governam o Iêmen desde 2014, após derrubarem o governo de Abd Rabbuh Mansur Hadi, aliado de Washington.

Após eclodir o genocídio em Gaza, as Forças Armadas houthis passaram a apreender navios com destino ou origem de Israel que passam pelo Mar Vermelho, em solidariedade ao povo palestino. As ações causam prejuízo bilionário ao Estado ocupante, à medida que suas rotas têm de ser reorientadas ao Cabo da Boa Esperança, no extremo sul africano.

No fim de semana, as marinhas britânica e americana reportaram abater ao menos 15 drones na região.

As tropas iemenitas confirmaram lançar disparos contra as embarcações Swan Atlantic e MSC Clara — de bandeira norueguesa e panamenha, respectivamente —, após ambas as tripulações ignorarem seus alertas. Não houve baixas.

Mohammed al-Bukhaiti, porta-voz houthi, disse à Al Jazeera, na segunda-feira, que o grupo resistirá à coalizão americana no Mar Vermelho.

Segundo Sara Khairat, correspondente da Al Jazeera em Jerusalém ocupada, Egito e Jordânia podem ceder à coalizão, devido a interesses econômicos — no entanto, contra forte pressão popular, enquanto protestos continuam contra a guerra em Gaza.

Apesar da negativa inicial de Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, países do Conselho de Cooperação do Golfo podem se filiar à iniciativa armada futuramente.

“Ao lermos nas entrelinhas, é uma situação complicada a alguns desses países do Oriente Médio. A Arábia Saudita, por exemplo, está muito próxima, ao que tudo indica, de assinar um acordo com os houthis do Iêmen”, reiterou Khairat.

Após anos de embates, Arábia Saudita e Irã firmaram sua normalização neste ano, mediada por Pequim. O acordo parecia prenunciar uma concessão política para o Iêmen.

O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, fez uma ligação ao chanceler saudita Faisal bin Farhan Al Saud, ainda na segunda, para tratar da matéria.

Segundo comunicado de sua pasta, Blinken “condenou os sucessivos ataques houthis contra navios comerciais em águas internacionais, ao sul do Mar Vermelho, e instou cooperação de todos os parceiros para preservar a segurança marítima”.

Austin, em visita a Israel, marcou conversas com Bahrein e Catar para terça-feira.

Ao menos 12 empresas de navegação, incluindo a gigante ítalo-suíça Mediterranean Shipping Company (MSC), a francesa CMA CGM e a dinamarquesa AP Moller-Maersk suspenderam o tráfego no Mar Vermelho por razões de segurança.

A corporação British Petroleum (BP) juntou-se à medida nesta semana.

A Grécia também aconselhou que embarcações comerciais evitem a região, reportou a Reuters. Conforme estimativas, firmas ligadas ao país controlam 20% das embarcações comerciais do mundo em termos de capacidade de carga.

Uma diretriz do ministério responsável foi emitida no sábado (16), com uma série de orientações de segurança.

Os houthis prometeram manter operações e defender seu litoral. Muhammad Ali al-Houthi, membro do gabinete político do grupo, alertou nesta terça-feira (19) que qualquer país que avance contra o Iêmen será alvejado.

Mohammed Abdul Salam, chefe de negociações da organização iemenita, reiterou que “qualquer operação contra o Iêmen somente expandirá o conflito, ao torná-lo em uma guerra regional e internacional cujos efeitos desastrosos são imprevisíveis”.

Abdul Salam reafirmou que as ações no Mar Vermelho continuarão até que a assistência humanitária entre em Gaza em “quantidades suficientes”. Segundo seu alerta, a coalizão tem como intuito proteger Israel e não a navegação internacional.

Contudo, não se abalou: “Desde o primeiro dia de nossas operações, fragatas francesas, americanas e britânicas tentam abater nossos mísseis e aviões”.

“Reafirmamos nossa posição: não permitiremos que transações marítimas passem pelo Mar Vermelho rumo a [Israel], enquanto Gaza continuar sitiada”, acrescentou. “Embarcações que pertencem, no todo ou em parte, a Israel continuarão sendo alvos até o fim da agressão”.

“Operações navais prosseguirão em plena força e, talvez, nem 12 horas se passe sem uma operação contra navios inimigos”.

Abdul Salam defendeu a precisão das operações e insistiu que os houthis mantêm contato com empresas de navegação, para pedi-las que “abram sua comunicação, respondam aos alertas e a algumas perguntas”.

As ações houthis têm impacto direto e efetivo, com receios inflacionários. Cerca de 12% do comércio global e 30% do tráfego de contêineres passa pelo Mar Vermelho, que se conecta ao Mar Mediterrâneo via Canal de Suez.

Israel mantém bombardeios intensos contra Gaza desde 7 de outubro, com 19.453 mortos e 52.286 feridos até então, além de dois milhões de deslocados à força dentre uma população de 2.4 milhões de pessoas.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

LEIA: Conselho de Segurança adia voto sobre cessar-fogo em Gaza

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