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Biden mente e Israel comete crimes de guerra, alerta memorando interno dos EUA

Presidente dos EUA Joe Biden, em 13 de novembro de 2023 [Al Drago/Bloomberg via Getty Images]

Um memorando interno do Departamento de Estado em Washington acusou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de “espalhar desinformação” sobre o massacre perpetrado por Israel em Gaza, ao admitir que a ocupação comete “crimes de guerra”.

Trata-se do mais recente sinal de dissidência doméstica em órgãos públicos americanos, ecoando protestos de massa no país, em meio à escalada no Oriente Médio.

Segundo a rede de notícias Axios, que obteve uma cópia do memorando de cinco páginas, Biden é acusado de “propagar desinformação em seu discurso de 10 de outubro”, no qual declarou apoio incondicional a Israel, em sua retaliação por ações de resistência do grupo palestino Hamas.

O memorando pede a Biden que questione a resposta israelense, incluindo a imposição de um cerco absoluto a Gaza — sem eletricidade, comida, água e combustível. Medidas como essa são “crimes de guerra e/ou lesa-humanidade conforme a lei internacional”, advertiu o documento.

O memorando reivindica de oficiais de alto escalão que reavaliem a política americana sobre Israel e pressionem por um cessar-fogo em Gaza. A agressão israelense — punição coletiva e crime genocídio — resultaram em mais de 11 mil mortos até então.

A Casa Branca “falhou em avaliar sua postura sobre Israel”, acrescentou a carta. “Reforçamos nossa assistência militar incondicional ao governo israelense sem quaisquer limites claros ou vinculativos”.

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“Oficiais  da Casa Branca e do Conselho de Segurança Nacional exibiram flagrante desdém à vida dos palestinos, relutância documentada em desescalar a crise e — ainda antes de 7 de outubro — imprudente falta de visão estratégica”, prosseguiu o alerta.

O documento também rechaçou Biden por “questionar o número de mortes em Gaza”, em referência a uma coletiva de imprensa em 27 de outubro no qual alegou “não ter qualquer confiança” nos números apresentados pelo Ministério da Saúde de Gaza, ao caracterizá-lo como pasta ligada ao movimento Hamas.

O Hamas administra Gaza desde 2006, quando Tel Aviv impôs um embargo contra o enclave, após negar a vitória eleitoral do grupo político no pleito nacional palestino.

O Ministério da Saúde em Gaza é respeitado por seu caráter técnico, ao emprestar dados fidedignos à Organização das Nações Unidas (ONU) e mesmo ao Departamento de Estado em Washington.

O documento instou ainda a Casa Branca a “promover a soltura de reféns tanto do Hamas quanto de Israel”, em alusão aos colonos e soldados detidos na operação de 7 de outubro, assim como aos palestinos encarcerados nas cadeias da ocupação.

São cerca de 240 prisioneiros de guerra israelenses ainda na Faixa de Gaza, contra sete mil palestinos em custódia da ocupação — a maioria sem julgamento ou acusação; reféns, por definição.

Apesar de propagandear a retórica dos reféns em Gaza, Israel se nega a negociar sua soltura e mantém bombardeios indiscriminados ao território costeiro — incluindo relatos de baixas entre os israelenses.

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Encaminhado internamente pela seção política do Departamento de Estado, em 3 de novembro, o documento foi organizado por Sylvia Yacoub, diplomata do Escritório de Assuntos do Oriente Médio.

Conforme rumores, o memorando reuniu apoio notável entre as fileiras profissionais da Casa Branca, com a assinatura de ao menos cem oficiais do Departamento de Estado e da Agência de Desenvolvimento Externo.

Biden ainda se nega a reivindicar um cessar-fogo, apesar de enfrentar recordes de rejeição à véspera de um conturbado ano eleitoral, no qual deve reprisar a contenda de 2020, contra o populista republicano Donald Trump.

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