Portuguese / English

Middle East Near You

Palestina Livre: paz sem liberdade é submissão

Protesto pela Palestina
Protesto pela Palestina [Ehimetalor Akhere Unuabona/Unsplash]

É inaceitável a violência. Nenhum governo que se pretenda democrático, sendo amigo das duas partes em conflito, pode manter-se neutro ou equidistante como se não houvesse culpados e responsáveis pelas atrocidades que estão ocorrendo na Palestina. A postura de colocar-se ao lado dos dois países é polida demais para os desafios que o momento exige. Milhares de inocentes foram e estão sendo mortos. Por culpa de quem, a quem condenar?

A desumanidade está à solta. Em nome de uma pretensa solidariedade com um governo de extrema-direita, parte dos países considerados democráticos se alinham para justificar o massacre de pessoas inocentes que há gerações sofrem violências de toda ordem. É preciso reverter esta postura.

A origem desta violência está numa decisão não cumprida. Em 1947 a Resolução 181 da ONU dividiu o território antes ocupado pelo povo palestino em dois países autônomos, sendo 53,5% para o novo estado de Israel e 45,4% para o povo palestino, apesar dos judeus representarem apenas 30% da população há época. Em 14 de maio de 1948, o estado de Israel foi criado, com autonomia e autodeterminação. O estado Palestino não. Em 1967, sob um governo de direita e fascista, Israel com apoio dos EUA, passou a ocupar de forma ilegítima territórios do povo palestino. Esse fato gerou resistência e violência em vários territórios com maioria árabe.

Em 1988 as Nações Unidas reconheceram a independência da Palestina que passou a fazer parte das nações livres que compõe as instâncias do direito internacional. Setenta por cento dos países que compõe as Nações Unidas reconhecem o Estado Palestino. Em 1993, a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) liderada por Yasser Arafat, no chamado Acordo de Oslo renunciou a violência em troca do reconhecimento por Israel da existência de um estado palestino independente. Apesar de todos estes esforços, na prática, o Governo de Israel não alterou em nada sua postura, mantendo o povo palestino confinado, sob violência permanente, sem liberdades ou autonomia.

O que significa isso para a população civil da Palestina?

Significa que mais de um milhão de pessoas estão em situação de insegurança alimentar, dependendo da solidariedade internacional para ter acesso a alimentos, todos os dias. Milhões de pessoas não tem água potável que somente é liberada, parte do dia, quando o Governo de Israel decide. A população não tem autonomia sobre o fornecimento de energia, já que as usinas e os geradores funcionam a base de óleo diesel que só entram na Faixa de Gaza sob autorização do Governo de Israel. Não há qualquer acesso aos territórios palestino por via aérea porque o espaço aéreo é controlado. O acesso a pé ou motorizado também é controlado pelo exército, com dezenas de check point onde é praticado o controle de circulação. Tão pouco há acesso pelo Mar Mediterrâneo.

Literalmente, a Faixa de Gaza é um campo de concentração de 2,3 milhões de palestinos, dos quais a maioria são crianças e jovens que vivem numa área de 410 km2, um pouco menor que o município de Porto Alegre que é de 496,6km2. É preciso reconhecer que, nestas circunstâncias, qualquer violência por parte do povo palestino deve ser reconhecida como um ato de resistência e não como um ato de terrorismo.

A conclusão é que as mortes de israelenses é resultado das políticas extremistas do atual Governo de Israel que mantém milhões de pessoas inocentes sem direito a liberdade, ao livre arbítrio, a decidir sobre seu destino como povo. E essa política é o principal combustível do extremismo.

Aliás, este é o pensamento do Haaretz, principal jornal de Israel, que publicou editorial nominando o primeiro-ministro Natanyahu como o principal responsável pela violência e mortes em Israel. Aquele mesmo que há pouco mais de um mês pretendia reduzir as competências do poder judiciário israelense, tornando-se um potencial ditador.

Neste mesmo sentido, em artigo a Folha de São Paulo, nosso companheiro, Oded Grajew, um dos idealizadores do FSM, nascido em Tel Aviv, afirma que não há qualquer dúvida que o estado mais forte é aquele que detém maiores responsabilidades.

É preciso afirmar que também será de responsabilidade do Governo e o exército de Israel as mortes de milhares de palestinos na Faixa de Gaza. Eles tem consciência que naquela região a densidade demográfica é de 6.000hab/km2, semelhante ao centro de São Paulo que é de 7.382 hab/km2. Os bombardeios massivos contra uma população indefesa irá matar milhares de crianças, mulheres, idosos, assim como já matou funcionários das Nações Unidas. Por isso, a Assembleia de Lutas e Resistências do FSM exigiu o fim dos massacres em Gaza. São crimes de guerra e poderá se tornar um verdadeiro genocídio.

Há uma única saída para a paz: o reconhecimento do estado Palestino, com liberdade, autonomia e capacidade de autodeterminação. Esta saída está nas mãos, principalmente, do Governo de Israel e de seus aliados. Aos verdadeiros democratas do mundo resta se levantar em mobilização e exigir que esse reconhecimento ocorra o mais rápido possível, sem condições ou represálias. A humanidade precisa retomar o controle.

Artigo publicado originalmente Sul 21

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

Categorias
ArtigoBrasilIsraelOrganizações InternacionaisOriente MédioPalestina
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments