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Gabão: O último em uma série de golpes de Estado na África

Apoiadores do golpe militar saem às ruas após generais gaboneses revogarem os resultados eleitorais na rede nacional de televisão, em Libreville, capital do Gabão, em 30 de agosto de 2023 [Stringer/Agência Anadolu]

O golpe de Estado no Gabão, pequeno país centro-africano, tomou as manchetes mundiais nesta quarta-feira (30), à medida que o continente é assolado por uma nova onda de ações militares contra a ordem institucional estabelecida – com destaque para o Níger, no mês de julho.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

Um grupo de comandantes gaboneses anunciou na rede nacional de televisão a tomada de poder e a revogação do resultado eleitoral do último sábado (26), ao prender uma série de figuras proeminentes ligadas ao governo.

Dentre os detidos, estão Noureddine Bongo Valentin, filho do presidente Ali Bongo Odimba, e Richard Auguste Onouviet, chefe da Assembleia Nacional, alegou a junta autodenominada Comitê para Transição e Restauração das Instituições (CTRI).

O Gabão, com 2.1 milhões de pessoas, foi colônia da França por anos e conquistou sua independência em 1960. Desde então, vivenciou numerosos golpes de Estado.

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A primeira tentativa de golpe ocorreu em fevereiro de 1964, mas resultou na queda dos conspiradores via intervenção francesa a partir do Senegal.

Após a morte do primeiro presidente do Gabão, Léon Mba, em 1967, seu vice, Omar Bongo, pai do incumbente deposto, Ali Bongo, assumiu o posto, gravando o nome de sua família na política gabonesa. Em 1973, Omar Bongo se converteu ao Islã após conhecer o ditador líbio, Muammar Gaddafi.

O poder foi transferido a uma coalizão política durante um processo de democratização em 1990. Contudo, dois golpes incorreram no mesmo ano. Em meio ao caos imediato, a França decidiu intervir militarmente.

Omar Bongo retornou ao poder em dezembro de 1993, ao ganhar as eleições – feito que repetiu em 1998 e 2005. Em 2009, no entanto, faleceu de um infarto enquanto estava na Espanha. A presidência foi cedida em caráter interino à então presidente do parlamento, Rose Francine Rogombe.

A era de Bongo II

Em 2009, Ali Bongo venceu as eleições presidenciais para um mandato de sete anos; novamente, em 2016.

Apesar de vencer o pleito pela terceira vez no sábado, o presidente atraiu críticas por impor um toque de recolher devido a supostos atos de violência às vésperas das eleições, além de restringir o acesso à internet durante a contagem de votos.

Tais medidas levaram a acusações de irregularidades. Ainda em campanha, o líder da oposição, Ondo Ossa, acusou Bongo de fraude eleitoral.

Pouco após fecharem as urnas, um grupo de soldados tomou o poder, ao declarar a nulidade do pleito e fechamento das fronteiras.

Recursos naturais

O Gabão é conhecido por seus recursos de gás natural e petróleo, além de diamante, urânio, ouro, ferro e madeira. Trata-se do sexto maior produtor de petróleo da África Subsaariana e um dos Estados mais ricos da região em renda per capita.

O território gabonês usufrui ainda da terceira maior reserva de água natural de caráter renovável do planeta.

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Como membro da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), as reservas do Gabão são mensuradas em dois bilhões de barris de petróleo cru e aproximadamente 300 bilhões de metros cúbicos de gás natural.

Crise na África

O continente africano vivenciou oito golpes de Estado nos últimos três anos.

Em 30 de agosto, oficiais do Gabão depuseram Bongo, cerca de um mês depois de membros da guarda presidencial do Níger, chefiados pelo general Abdourahamane Tchiani, tomarem o poder do então presidente, Mohamed Bazoum – em 26 de julho.

Em janeiro de 2022, foi a vez de Burkina Faso, com a queda do presidente Roch Kabore.

Em questão de dois meses, Mali e Chade vivenciaram golpes de Estado. Em abril de 2021, o exército chadiano instaurou o general Mahamat Idriss Déby como presidente interino, após a morte de seu pai, Idriss Déby. Em 24 de maio, o exército do Mali exonerou o premiê e seu gabinete de transição civil, menos de dois anos após um golpe destituir o então presidente, Ibrahim Boubacar Keita.

Em 11 de abril de 2019, as Forças Armadas sudanesas reagiram a protestos populares contra a carestia de alimentos e combustíveis ao remover Omar al-Bashir da presidência, cargo que ocupava há quase 30 anos. Em seguida, foi firmado um acordo civil-militar para a transição à democracia – algo que jamais se consolidou.

Em 25 de outubro de 2021, o exército comandado pelo general Abdel Fattah el-Burhan depôs o então premiê, Abdallah Hamdok.

A crise no Sudão se arrastou ao ano corrente, à medida que o grupo paramilitar conhecido como Forças de Suporte Rápido (FSR) – até então, parceiro de el-Burhan no poder – reagiu com violência à pressão para se integrar ao contingente regular.

Desde 15 de abril, o país norte-africano é tomado por combates e violações de ambos os lados, com milhares de mortos e milhões de refugiados e deslocados internos.

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