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Memória da explosão mortal em Beirute se ofusca pela falta de ação

Escultura de metal de 25 metros de altura intitulada “O gesto”, do artista libanês Nadim Karam, feita dos escombros deixados pela explosão no porto de Beirute, em 2 de agosto de 2021 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]

Os eventos anuais em memória da enorme explosão que devastou a capital libanesa Beirute passaram a simbolizar algo além: sofrimento e luto sem tamanho, junto de uma espantosa falta de ação para identificar os responsáveis pela tragédia.

Embora as lembranças do desastre continuem nítidas, a busca por justiça parece esquecida. Como muitos outros crimes que assolam a região, a explosão de Beirute permanece imersa em mistério e desinformação. Anos e anos se passaram e nenhuma revelação tangível sobre os responsáveis veio à luz. Trata-se de somente um dentre uma série de catástrofes e crimes hediondos a serem investigados ou solucionados, deixando para trás um rastro de perguntas sem respostas.

Para aqueles afetados diretamente pela explosão, o lúgubre aniversário não é meramente um momento de reflexão sobre a perda e o sofrimento, mas também uma oportunidade de ressoar apelos por justiça e responsabilização. A empatia que se acende a cada ano com a rememoração do desastre parece distante do dever nacional em jamais esquecer, dia após dia, de esclarecer o crime. Fica a dúvida: Por que a explosão de 4 de agosto de 2020 deve ser lembrada apenas hoje, quando a busca por justiça deve ser, na prática, um esforço contínuo de tempo presente?

A falta de progresso nas investigações sobre o crime perdura em absoluto contraste com as eloquentes promessas feitas por líderes nacionais e internacionais de conceder respostas. O sentimento palpável de frustração e desilusão se exacerba pelo fato de que muitos cidadãos se sentem traídos por instituições e lideranças que fracassaram uma e outra vez em cumprir seus compromissos.

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Em meio ao contexto amplo de crimes sem solução, a explosão do porto de Beirute em 4 de agosto encontra seu lugar ao sol junto de inúmeros assassinatos impunes e misteriosos que desconcertaram o Líbano. Nesta longa lista, há as mortes enigmáticas de figuras eminentes, como o político socialista Kamal Jumblatt, o sheikh sunita Hassan Khaled, o presidente Rene Moawad e o ex-premiê Rafic Hariri, além de várias vozes nacionais e acadêmicas silenciadas de maneira brutal após 14 de fevereiro de 2005 – quando Hariri foi assassinado.

A forma como perseveram tais casos sem solução continua a encobrir como uma gigantesca sombra toda a paisagem política nacional, absorta em profundo ceticismo e desconfiança. À medida que os aniversários desses eventos trágicos vêm e vão, fantasmas da injustiça ecoam pelos corredores de poder, desafiando a determinação do país em enfrentar seus traumas e sua história de forma honesta e aberta. O perturbador padrão de inércia generalizada serve como lembrança sombria de que a busca por verdade e justiça ainda é uma promessa jamais cumprida, não apenas no caso da explosão no porto de Beirute, mas em toda a tapeçaria do atribulado passado libanês.

A memória coletiva dos cidadãos libaneses parece se condicionar por duas reações díspares, porém interligadas, diante da tragédia: uma resposta aparentemente indiferente aos crimes coletivos e assassinatos e o eventual desvanecer de toda memória e emoção que incidem às ruas. Este padrão cíclico de comovente vibração a princípio, dando espaço ao esquecimento, quem sabe, de modo inconsciente, alimenta os próprios atos que demandam a condenação. Esta mentalidade, caracterizada pela falta de uma busca firme e paciente por justiça, parece abrir caminho a crimes futuros, perpetrados em um ambiente onde a paixão e a indignação pouco a pouco cedem à apatia e à negligência.

O esquecimento se tornou, de muitas maneiras, parte intrínseca da mentalidade coletiva do Líbano. Cidadãos caminham por cada crime e desastre, um após o outro, perdendo pouco a pouco seu elo essencial com a história compartilhada do país. Este fenômeno apavorante de fato pode estar nas raízes das dificuldades do passado, do presente e do futuro, e da forma como a nação responde a elas. Este perpétuo ciclo de emoção e esquecimento serve tanto de reflexo a uma questão nacional ampla, quanto de mau presságio para o tempo porvir. Tais vícios apresentam um desafio complexo que exige ser encarado por todo o país, para que este enfim se liberte de uma história marcada por feridas abertas.

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Os eventos em memória da catástrofe no porto Beirute, sem verdade e justiça, não podem retumbar meramente as imagens e as dores de um dia lúgubre na história nacional; devem também dar espaço a uma reflexão profunda sobre um problema estrutural de negligência, inércia e promessas não cumpridas. Sim, o aniversário da tragédia de 4 de agosto simboliza as dores do passado recente; igualmente, desafia todos nós a encarar o presente e o futuro e reivindicar assim um compromisso genuíno para desenterrar a verdade e garantir que uma catástrofe como essa jamais volte a acontecer.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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