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Primeiros cem dias de Netanyahu no governo são marcados por fracassos

Primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu durante reunião semanal de seu gabinete em Jerusalém ocupada [Abir Sultan/AFP via Getty Images]
Primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu durante reunião semanal de seu gabinete em Jerusalém ocupada [Abir Sultan/AFP via Getty Images]

A deterioração das condições de segurança nos territórios ocupados deu aos israelenses uma grande oportunidade de listar os fracassos do novo governo de Benjamin Netanyahu, cem dias depois de sua formação. Membros da atual coalizão admitem que muitos planos e promessas eleitorais não foram cumpridos; ainda é incerto se poderão ser efetivamente, considerando as circunstâncias que prevalecem.

Para ser eleito, Netanyahu se encheu de promessas sobre economia, custo de vida, moradia e segurança pública. No entanto, o fato de o governo buscar imediatamente um golpe judicial no Estado sionista empurrou tudo isso para debaixo do tapete.

Sobre a abordagem alusiva à resistência palestina, o governo foi reiteradamente criticado como leniente por ministros e políticos de destaque, sem jamais se dispor a uma resposta ostensiva, em termos militares, na Cisjordânia ocupada.

Apesar das promessas, Netanyahu não tomou quaisquer medidas para conter a “criminalidade” nas comunidades palestinas radicadas no território designado Israel – ocupado durante a Nakba ou “catástrofe”, mediante limpeza étnica, em 1948. Além disso, há profunda divergência e falta de confiança entre o chefe de polícia, Kobi Shabtai, e o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, que também descumpriu diversas promessas eleitorais, sob alegações de que lhe falta pessoal. Críticos dizem que as partes, em vez de recrutar e unir forças, lutam dia após dia contra vazamentos da polícia.

Quanto aos chamados por normalização, Netanyahu insinuou durante as eleições que relações se aqueceriam com agentes regionais, como parte de um movimento para ampliar os Acordos de Abraão. No entanto, desde que se deflagrou sua tentativa de golpe judicial, além da escalada de tensões na Cisjordânia e em Jerusalém, tamanho afeto em potencial se esvaneceu, à medida que a Arábia Saudita normalizou laços com o Irã, arqui-inimigo de Israel – uma considerável derrota estratégica para Netanyahu diante de todo o planeta.

Cem dias desde a posse da coalizão, está claro que o governo de Netanyahu falhou em entregar o que tanto propagandeou a seus eleitores durante a campanha. Protestos de massa tomaram o país, com estradas bloqueadas e confrontos com a polícia. É evidente ainda que Tel Aviv está em uma posição muito pior agora do que antes da formação do governo.

O novo governo também teve falhas de segurança óbvias, relacionadas à Mesquita de Al-Aqsa, à escalada de tensões na fronteira com Gaza, ao crescimento da resistência na Cisjordânia e ao surto de interações armadas na fronteira com o Líbano.

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Neste entremeio de caos, Netanyahu e seus ministros não assumem qualquer responsabilidade pela crise de segurança e culpam ainda o gabinete anterior. O governo incumbente persiste em lidar com tamanha escalada sem uma estratégia clara e com decisões inconsistentes.

Outro fracasso de Netanyahu, aos olhos de seu eleitorado extremista, nos cem primeiros dias de seu governo, se evidenciou pelo disparo de dezenas de foguetes do Hamas a partir da Faixa de Gaza sitiada. O regime sionista não respondeu como costuma – ao contrário, pareceu hesitante. Enquanto isso, operações armadas na Cisjordânia e dentro da Linha Verde se agravaram, com baixas israelenses acima da média. Desde março de 2022, ações de resistência em Beersheba, Hadera, Bnei Brak, Tel Aviv e Elad se intensificaram, à medida que o  regime sionsita mostrou-se absolutamente incapaz de contê-las.

Ao norte, houve ataques com mísseis do Hamas a partir do Líbano, o que muitos alegam que só poderia ocorrer com aval do Hezbollah. Embora Tel Aviv tenha respondido ao bombardear o sul do Líbano, a resposta foi considerada fraca e ineficaz. O mesmo vale para a reação frente ao Irã desde que a nova coalizão assumiu o poder. O acordo entre Arábia Saudita e o regime iraniano, sob mediação da China, é um exemplo claro, dado que trouxe Teerã à luz da arena política, em particular, sendo notável que a república islâmica forneceu armamentos à Rússia.

O primeiro-ministro Netanyahu se apresenta como líder forte, capaz de acalmar as tempestades que assolam Israel. No entanto, seus fracassos pintam uma imagem muito mais precisa de uma administração débil. Esta conjuntura, por um lado, afeta sua popularidade em âmbito interno; por outro, alimenta ainda mais a escalada recente por toda a região.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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