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Os neoconservadores que abriram caminho para a invasão do Iraque

Para os neoconservadores dos Estados Unidos, o Iraque era sobre uma visão de mundo baseada em uma política externa agressiva e intervencionista

A guerra do Iraque representou uma eminente projeção do poder americano no Oriente Médio, após os atentados terroristas do 11 de setembro de 2001. Para alguns, a invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003 tinha a ver com a resposta aos ataques. Para outros, era sobre pegar o petróleo do Iraque e dar às corporações ocidentais, a fim de que Washington angariasse controle sobre o suprimento global de energia. No entanto, para um determinado grupo, o Iraque se tratava de um projeto de “mundo novo” baseado em uma política externa agressiva e intervencionista dos Estados Unidos. Neoconservadores viram a destruição do Iraque como essencial para consolidar sua visão. Não obstante, qual foi o processo que tornou a intervenção militar um ponto crucial para eles?

Em 31 de outubro de 1998, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a Lei de Libertação do Iraque, que comprometeu a política externa americana com a remoção de Saddam Hussein do poder. O presidente Bill Clinton assinou a lei e ela fundamentaria, em 2002, voto favorável do Congresso à intervenção militar americana no país árabe.

A Lei de Libertação do Iraque nasceu de uma carta enviada ao presidente Clinton em janeiro de 1998 por um think tank chamado Projeto para o Novo Século Americano, que requereu da Casa Branca o compromisso para destituir o regime baathista. A carta, assinada por vários políticos influentes, incluindo Donald Rumesfield, Paul Wolfowitz, John Bolton, Richard Perle e outros, afirmava que a política externa dos Estados Unidos de contenção de Saddam Hussein havia fracassado, que seu regime havia violado diversas restrições e que a falta de cooperação de Bagdá com inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) denotava chances de que o Iraque tivesse reconstruído seu arsenal químico e biológico. A carta advertia ainda que o presidente iraquiano, Saddam Hussein, era uma perigosa ameaça à segurança americana.

O Projeto para o Novo Século Americano foi criado para promover a liderança global de Washington como superpotência unipolar. A iniciativa pertencia a um grupo incipiente conhecido como “Neoconservadores” ou “Novos Conservadores”. Embora haja muito debate sobre o movimento, a maioria das teses traça as origens dos neoconservadores modernos a círculos intelectuais do filósofo político germano-americano Leo Strauss e seus alunos na década de 1960. Strauss argumentou que “a crise do Ocidente consiste em o Ocidente ter se tornado incerto sobre seu propósito”; seus esforços para reafirmar a fé ocidental em seu passado clássico são citados como influência fundamental ao pensamento neoconservador. Ainda assim, muitos ainda discutem se Strauss era ou não adepto ao grupo.

Muitos dos que se tornaram neoconservadores vinham de círculos marxistas, trotskistas e liberais, incluindo membros do Partido Democrata. O termo neoconservador foi cunhado pelos próprios oponentes de esquerda como expressão pejorativa a antigos companheiros; todavia, os neoconservadores decidiram adotá-lo. O que impulsionou a conversão ao movimento foi um senso de erosão do liberalismo americano, ao produzir assim uma sociedade cética sobre suas crenças e sobre a superioridade moral dos Estados Unidos. Em suma, os neoconservadores acreditavam que havia um mal poderoso à espreita e que os americanos estavam cada vez mais cegos para isso. Na década de 1970 e 1980, núcleos neoconservadores se fixaram na União Soviética e buscaram uma política mais agressiva em relação ao império decadente. Sob o presidente Ronald Reagan, muitos neoconservadores chegaram a posições políticas de segundo e terceiro escalão. Porém, ficaram desiludidos com parte da política externa de Reagan.

LEIA: Guerra do Iraque: citações do conflito e suas consequências

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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