Portuguese / English

Middle East Near You

Deputada pró-Israel defende bolsonaristas presos pela invasão a Brasília

Acampamento bolsonarista em Brasília se manteve após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva e recebeu novos extremistas às vésperas do ataque de 8 de janeiro de 2023 [ Dolores Guerra]

Apesar de ter se distanciado dos holofotes em dezembro, passando uma curta temporada na cidade de Miami, nos Estados Unidos, sob pretexto de questões pessoais, a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) ressurgiu como figura proeminente da extrema-direita nacional ao interceder em favor dos golpistas bolsonaristas que invadiram e vandalizaram Brasília no domingo, 8 de janeiro de 2023.

 No total, dezenove deputados bolsonaristas acionaram o Ministério dos Direitos Humanos e a Defensoria Pública da União (DPU) por considerar que os militantes golpistas – presos ao atacar o Palácio do Planalto, sede do executivo, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal – necessitavam de melhores condições de custódia. “Recebemos a informação de que falta água e falta comida para eles”, declarou a deputada Carla Zambelli (PL-SP) ao portal Metrópoles.

 Entre os signatários da petição, encontra-se o nome de Bia Kicis, que além de ser apoiadora de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem se tornado um importante contato de iniciativas israelenses dentro do governo brasileiro e da câmara legislativa. Através de uma parceria com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a deputada extremista conseguiu munir o programa Rota da Fruticultura, parte do programa Rotas de Integração Nacional, do Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR), com equipamentos de irrigação por gotejamento importados de Israel. Um pomar demonstrativo de açaí e mirtilo foi instalado na embaixada israelense em Brasília ainda em setembro de 2022, às vésperas das eleições.

LEIA: Os atos terroristas em Brasília: uma encruzilhada de relações

Também assinaram o pedido Carla Zambelli (SP), Carlos Jordy (RJ), Cabo Gilberto Silva (PB), Capitão Alberto Neto (AM), Coronel Chrisóstomo (RO), Coronel Meira (PE), Daniela Reinehr (SC), General Girão (RN), Gustavo Gayer (GO), José Medeiros (MT), Loester Trutis (MS), Luiz Lima (RJ), Major Fabiana (RJ), Rodolfo Nogueira (MS), Sargento Gonçalves (RN), Sílvia Waiãpi (AP), Vermelho (PR) e Zé Trovão (SC).

Após mais de dois meses, o acampamento bolsonarista em frente ao Quartel General do Exército em Brasília foi enfim desmontado. O atual Ministro da Defesa José Múcio, nomeado pelo novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, apostou na ideia de que os acampamentos bolsonaristas em frente aos quartéis acabariam naturalmente após a cerimônia de posse realizada no dia 1º de janeiro de 2023. No entanto, como podemos ver no vídeo exclusivo do Monitor do Oriente Médio, registrado na tarde de 5 de janeiro, os militantes de extrema-direita não demonstravam a menor intenção de devolver aos brasilienses a Praça dos Cristais, ponto turístico da capital federal onde se instalaram desde a vitória eleitoral de Lula.

Apesar de reduzido e das condições precárias, o acampamento funcionava normalmente. O forte cheiro dos banheiros químicos era aplacado pelos caminhões-pipa da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB). Cânticos religiosos eram repetidos em uma barraca que cumpria o papel de igreja, concorrendo com o palanque principal onde se proferiam discursos políticos golpistas e extremistas e mais orações. Faixas em português e inglês traziam versículos bíblicos e mensagens de apoio ao ex-presidente Bolsonaro, exigindo “voto impresso e auditável” e “intervenção militar”, assim como uma bandeira israelense que completava a linha ideológica forjada pelos golpistas.

A falta de perspectiva do movimento gerava desconfiança entre os bolsonaristas; o microfone principal foi retirado de uma militante e ela foi acusada de ser uma infiltrada ao denunciar que os militares haviam abandonado Bolsonaro na empreitada golpista. Os militantes pediam cautela a seus pares, para que não criticassem as Forças Armadas, que haviam assegurado a permanência de seu acampamento até então, além de apontar a suposta existência de inimigos disfarçados. Nesta tônica paranoica, foram registrados, com certa abundância, casos de agressão contra jornalistas que reportavam a situação política do local, como ocorreu com uma equipe de correspondentes da CNN Portugal.

Após a tentativa fracassada de tomar a Praça dos Três Poderes para, em última instância, revogar as eleições legítimas e ordenar o retorno de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil, mediante golpe de estado, o acampamento foi finalmente desmontado e os bolsonaristas retirados da área. Até o momento, cerca de 1.200 golpistas foram detidos no Distrito Federal.

Em nota oficial, ao desmentir as alegações de violação de direitos por parte dos bolsonaristas – que tanto pregaram contra tais garantias nos últimos anos –, o Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, declarou se alinhar “totalmente à postura adotada pelo Presidente e pelos Chefes dos demais poderes no sentido de dar aos atos golpistas e à frustrada tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito o mais rigoroso tratamento, nos termos da lei e da Constituição Federal”.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

Categorias
ArtigoÁsia & AméricasBrasilIsraelOpiniãoOriente MédioVídeos & Fotojornalismo
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments