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A produção de gás natural da Rússia e as oportunidades da Turquia

Presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan e Presidente da Rússia Vladimir Putin em Moscou, 5 de março de 2020 [Sefa Karacan/Agência Anadolu]
Presidente da Turquia Recep Tayyip Erdogan e Presidente da Rússia Vladimir Putin em Moscou, 5 de março de 2020 [Sefa Karacan/Agência Anadolu]

Produzir energia leva eras, mas laços diplomáticos são tecidos todos os dias. Mesmo as 24 horas do dia não bastam para acompanhar todas as guerras sobre insumos energéticos do século XXI. Corroboramos essa tese ao testemunhar a guerra de preços entre o presidente russo Vladimir Putin e o príncipe saudita Mohammed bin Salman, em 2020, no ápice da pandemia de covid-19, à medida que ambos os países disputavam qual estratégia deveria ser tomada pelo mercado de petróleo e gás natural.

Contudo, após a imposição das sanções europeias contra a invasão russa da Ucrânia, o Putin propôs maior exportação de gás natural via Turquia, ao transformar seu novo aliado em um centro de fornecimento aos países ocidentais. Não obstante, trata-se de uma aparente medida para solidificar o controle de Moscou sobre as demandas energéticas da Europa.

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Primeiro, é preciso reiterar que a construção de um novo gasoduto poderá levar ao menos dois anos para ser concluída. Mesmo caso a árdua missão seja cumprida, a região teria de investir em infraestrutura de transmissão para mover um enorme volume de gás natural a partir do sudeste de seu perímetro continental.

Caso a Europa escolha capitular às demandas de abastecimento da Rússia pós-guerra, ou caso Moscou realmente queira fornecer insumos ao continente vizinho, seria teoricamente possível adquirir gás natural através dos dutos existentes N1 e N2, de modo que não há necessidade de um vasto investimento adicional.

Devido à geografia da Turquia, não há países a leste que possam se tornar compradores do gás natural que passa por seu território. Não há direção disponível par un gasoduto turco senão à União Europeia.

No entanto, caso este gasoduto seja uma obra de cunho político, mesmo que uma usina de hidrogênio ou de liquefação de gás natural seja estabelecida ao longo do Mediterrâneo, e que as exportações sejam consideravelmente restritas, o futuro de novos projetos não dará frutos a curto prazo, em virtude de uma série de fatores, incluindo falta de tempo e recursos para investimentos de larga escala.

A invasão de Putin à Ucrânia [Sabbaneh/Monitor do Oriente Médio]

A invasão de Putin à Ucrânia [Sabbaneh/Monitor do Oriente Médio]

Neste entremeio, a venda e abastecimento de componentes básicos do gasoduto ou das usinas relacionadas será provavelmente submetido a sanções. Caso as sanções sejam impostas a empreiteiras incumbidas de desenvolvimento do projeto, sua conclusão será cada vez mais demorada.

Em suma, como foi astutamente explicado há dois anos pela jornalista Patti Domm, da rede CNBC, a guerra energética em tempos de pandemia voltava-se a contrapor a hegemonia dos Estados Unidos. Trata-se, portanto, da primeira guerra travada pela Rússia pós-soviética contra Washington e seu bloco de influência. Europa, Turquia e Ucrânia são todos agentes deste contexto, mas os protagonistas efetivamente são Rússia e Estados Unidos. Logo, antes de criticarmos a recente oferta para o novo gasoduto, todos os agentes devem avaliar os prós e contras desta rota pioneira de insumos energéticos.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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