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‘Atirem nos palestinos’, diz parlamentar israelense com arma nas mãos

Parlamentar israelense Itamar Ben-Gvir – líder do partido de extrema-direita Otzma Yehudit – exibe uma bandeira israelense na praça de Safra, em Jerusalém ocupada, 20 de abril de 2022 [Menahem Kahana/AFP via Getty Images]

Nesta quinta-feira (13), Itamar Ben-Gvir – membro do parlamento israelense (Knesset) e chefe do partido de extrema-direita Otzma Yehudit – saiu às ruas do bairro palestino de Sheikh Jarrah, em Jerusalém ocupada, com uma arma carregada nas mãos.

Ben-Gvir incitou colonos ilegais a abrir fogo contra nativos árabes que tentem resistir à violenta ocupação de suas terras ao atirar pedras.

“Nós somos senhores daqui, lembrem-se disso, somos nós que mandamos”, declarou Ben-Gvir, de 46 anos, um dos políticos mais populares do cenário contemporâneo de Israel. “Se eles [os palestinos] nos jogarem pedras, atirem neles!”

Na noite de ontem, Ben-Gvir – provável integrante da próxima coalizão de governo em Tel Aviv – ameaçou “abater” um grupo de palestinos nativos durante invasão a Sheikh Jarrah, em meio a mais outra escalada de violência colonial contra as comunidades locais.

No Twitter, o congressista defendeu seus atos de provocação e incitação: “Políticos querem atar as mãos de nossa polícia. Não é possível que árabes atirem pedras perto de policiais e policiais não podem reagir com fogo”. A postagem foi acompanhada de sua foto com a arma em punho.

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Os últimos dias vivenciaram uma escalada nas agressões de colonos contra os palestinos. Cenas remetem a abril de 2021, quando grupos supremacistas judaicos conduziram ataques a Sheikh Jarrah e à Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém ocupada, sob escolta da polícia israelense.

Ben-Gvir e dezenas de radicais sionistas estavam entre os agressores que invadiram o santuário islâmico. Dois dias antes, Jordan Peterson – controverso psicólogo clínico e autor canadense – juntou-se a 1.032 colonos ilegais que adentraram no complexo de Al-Aqsa, como ato flagrante de provocação.

A investida israelense de então culminou nos onze dias de massacre perpetrado pelas tropas da ocupação contra a Faixa de Gaza, em maio de 2021.

Embora descrito como extremista de direita, Ben-Gvir representa uma corrente hegemônica do sionismo. Sua influência – assim como da ideologia racista do kahanismo adotada por ele e seus correligionários – cresceu em Israel ao longo dos anos. Hoje, integra o segmento mainstream da tomada de decisões políticas de Israel, assim como da mentalidade de boa parte da população.

A ascensão de Ben-Gvir e outros supremacistas judeus representa, no entanto, um dilema para o establishment de Israel – dividido entre a radicalização em âmbito doméstico e seus esforços de relações públicas no exterior, sobretudo por meio de lobby nos Estados Unidos e em outros países ocidentais.

Por décadas, Washington e capitais europeias buscaram negar ou minimizar o caráter racista do sionismo, com objetivo de manter seu apoio resoluto ao estado de apartheid.

Ciente da ameaça que Ben-Gvir e outros representam à imagem externa de Israel, congressistas sionistas – sobretudo políticos liberais – tentam advertir que levar a extrema-direita aos centros de poder em Tel Aviv pode ser desastroso aos laços históricos entre Washington e seu principal aliado no Oriente Médio.

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Durante viagem a Israel em setembro, o senador democrata Bob Menendez – representante do estado de Nova Jersey – alertou o ex-premiê e atual líder da oposição Benjamin Netanyahu que, caso ele vença as eleições e componha um governo com células de extrema-direita, as relações com a Casa Branca do presidente Joe Biden podem ser irreparavelmente afetadas.

O Estado de Israel enfrenta sua quinta eleição em menos de quatro anos, após colapsar a frágil coalizão de governo liderada pelo centrista Yair Lapid – atual primeiro-ministro em exercício – e pelo ativista colonial de ultradireita Naftali Bennett.

Defensores da ocupação israelense temem os prospectos de um novo governo de Netanyahu – que esteve no poder por mais de doze anos. O chefe do partido Likud advém de uma tradição sionista com afinidade ideológica considerável com a linha supremacista de Ben-Gvir.

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