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Solidariedade ao Al Janiah é lutar por “Fora Bolsonaro” e “Palestina livre do rio ao mar”

Fachada do restaurante e centro cultural Al Janiah [Reprodução/ANBA]

No último domingo, dia 25 de setembro, a violência política incitada pelo genocida Bolsonaro, que tem deixado feridos e corpos pelo caminho do Ceará a Foz do Iguaçu, mostrou mais uma vez sua cara feia. Em meio ao festival organizado pelo espaço cultural e restaurante palestino Al Janiah, intitulado “Primavera do Povo”, o proprietário da casa, palestino Hasan Zarif, foi atacado por dois sujeitos que o surpreenderam quebrando uma garrafa em sua cabeça.

Efetiva solidariedade a ele e à casa, e repúdio à agressão covarde, que felizmente não teve consequências graves, implica levantar mais uma vez duas bandeiras que estão permanentemente em nossas mãos desde antes desse genocida coerentemente aliado explícito do Estado racista de Israel assumir a cadeira do Planalto: “Fora Bolsonaro” e “Palestina livre do rio ao mar”.

Como nos ensinam nossos irmãos palestinos e palestinas, “mexeu com ele, mexeu comigo”. Em sua nota oficial sobre a agressão covarde, o Al Janiah destaca: “Não podemos afirmar quem são os autores do ato violento. A única afirmação que podemos fazer é sobre o caráter de nosso evento, dos trabalhos do Al Janiah e dos que recebemos na casa. Podemos afirmar que isso se deu em um evento com posicionamento político declarado a favor do povo pobre, negro, LGBTQI+, das mulheres e de todos que lutam por um mundo mais justo e digno para todos os de baixo. Sabemos que o ataque nao é somente contra o Hasan, mas é também contra toda essa camada verdadeiramente decente da sociedade, que não tolera mais violência por parte de seguidores de fascistas, racistas e xenófobos. É isso, não toleramos, não aceitamos e, sobretudo, não nos intimidamos.”

A nota segue: “Continuamos nosso corre, seguimos em frente, porque além de derrubar o Bolsonaro, nós acabaremos com a escória que significa o bolsonarismo. Isso porque a principal luta que nos inspira é a pela libertação da Palestina. O povo palestino enfrenta diariamente o sionismo e a violência de Estado e policial. Contra tanques, as crianças palestinas lançam pedras. Sem tanques ou armas, aqueles soldados israelenses fogem desesperadamente. Porque não há nada mais amedrontador do que a coragem de um povo que luta apenas com pedras, gritos de revolta, música e poesia por justiça e dignidade, e que passa essa missão de geração para geração, com a integridade que nenhum opressor, racista, fascista, neonazista terá.” A causa palestina é símbolo das lutas contra a opressão e exploração em todo o mundo. Que sua resistência heroica e histórica siga como inspiração.

Não é o primeiro ataque 

O Al Janiah, por seu simbolismo, tem sido alvo não é de hoje. Uma semana antes da agressão covarde, um ovo foi atirado dentro da casa palestina, como um aviso daqueles que ameaçam as liberdades democráticas.

Ao longo de sua existência, além do desafio de resistir e manter as portas abertas em meio à desastrosa ação do genocida Bolsonaro, o Al Janiah enfrentou ameaças e ataques com bombas de gás em seu interior, criminalização, racismo e xenofobia. “Vão para casa, vocês não são bem-vindos aqui” foram gritos ouvidos pelos que ali trabalham e frequentam, mais de uma vez.

Sem máscaras

Tudo isso incitado desde a Presidência e os parlamentos. Vale lembrar que em 24 de agosto de 2021, o deputado estadual Douglas Garcia (então PTB e agora candidato à Câmara Federal pelo partido Republicanos) – que mais recentemente expôs sua misoginia contra a jornalista Vera Magalhães, como bom discípulo de Bolsonaro que é – destilou toda a sua verborragia xenofóbica contra o Al Janiah em sessão da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), ao melhor estilo de cultivar fake news.

Toda essa caterva fascistoide, racista, xenofóbica, LGBTIfóbica e misógina mantinha-se nas sombras e se sentiu à vontade para dar as caras tendo um representante alçado à Presidência. Esse é círculo fiel a Bolsonaro, o qual – como fez com parte de seu eleitorado em 2018, quando se apresentava risível e mentirosamente como alguém antissistema e anticorrupção – tenta mais uma vez enganar a população, dizendo que não é responsável pela violência política. Mas todo o seu mandato foi marcado por ações e declarações repugnantes, apologia à ditadura, ameaças às liberdades democráticas duramente conquistadas.

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As mesmas declarações que proferia muito antes, revelando todo seu ser abjeto, sem máscaras. Ainda no ano de 2015, quando era deputado federal, durante entrevista ao Jornal Opção, de Goiás, chamou os refugiados e imigrantes de “escória do mundo”. Protegido pela imunidade parlamentar – que lhe permitiu seguir com sua ofensiva contra trabalhadores e oprimidos, política genocida e defesa da ditadura – não só não foi punido, como chegou à Presidência.

Deveria ter sido derrubado há muito tempo, pelas ruas. Antes ainda, deveria ter saído algemado quando, então deputado em 2016, durante a sessão pelo impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, dedicou seu voto à memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que comandou torturas e execuções cruéis durante a ditadura militar no Brasil e, lamentavelmente, morreu em outubro de 2015 sem pagar por seus crimes contra a humanidade.

Já na Presidência, em 8 de agosto de 2019, Bolsonaro recebeu a viúva do torturador no Palácio do Planalto e se referiu a Ustra como “herói nacional”. Um escárnio digno de um genocida investigado por crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional. Justiça, memória e verdade seguem à espera.

A “paz dos cemitérios” não é o caminho. De suas tumbas, erguem-se figuras como o inominável e seus discípulos. Urge dar um basta nisso. Que o grito das ruas não silencie e Bolsonaro faça companhia no banco dos réus ao seu aliado, o Estado racista de Israel. E dali para o lixo da história. Seguir nessa luta é expressão de solidariedade efetiva a uma casa palestina.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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