Cineasta pró-Palestina Jean Luc Godard recebe homenagens após sua morte

Homenagens surgiram de toda parte ao renomado diretor franco-suíço e ativista pró-Palestina Jean-Luc Godard, que faleceu nesta terça-feira (13) em sua residência na Suíça, aos 91 anos de idade, sob um procedimento legal de suicídio assistido.

Godard – considerado um dos patronos do movimento de Nouvelle Vague – revolucionou o cinema pós-Segunda Guerra Mundial na Europa e influenciou autores e diretores em todo o mundo – incluindo o movimento de Nova Hollywood nos Estados Unidos e Cinema Novo no Brasil, cujo nome mais influente foi Glauber Rocha.

O Presidente da França Emmanuel Macron comentou: “Perdemos um tesouro nacional, o olho de um gênio. Jean-Luc Godard, o mais iconoclasta dos cineastas da Nouvelle Vague”.

 

O ator e apresentador britânico Stephen Fry juntou-se às homenagens: “Adieu, Godard. Assisti Acossado [À bout de souffle, 1960] pela enésima vez há duas semanas. Ainda salta da tela como poucos filmes. A cena de ambos [Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg] no hotel: Quantos autores conseguiram retratar algo tão cativante em um espaço tão pequeno?”.

O Instituto de Cinema Britânico (BFI) descreveu Godard como “gigante do cinema que rasgou todas as páginas do livro de regras [e] testou os limites de seu meio”.

Ben Roberts – diretor executivo do BFI – afirmou à Variety: “A morte de Godard é uma enorme perda ao cinema. Godard é o patrono da Nouvelle Vague e um dos cineastas mais inovadores e influentes do último século. Sua obra ressoou em gerações de cinéfilos de todo o mundo. O BFI continuará a apresentá-la a novas audiências e exaltar sua carreira. Uma edição comemorativa da Sight and Sound [revista mensal do instituto] será disponibilizada em 3 de outubro”.

O Festival de Cinema de Cannes, na região da Riviera Francesa, divulgou uma retrospectiva da carreira de Godard: “Desde sua primeira aparição em nosso festival, com Cléo de 5 à 7 [1962], vinte e um filmes de Jean-Luc Godard foram exibidos em Cannes”.

No auge do turbilhão político de maio de 1968, Godard protestou em Cannes para cancelar o evento, em solidariedade a protestos de estudantes e trabalhadores que tomaram a França.

Cameron Bailey – crítico canadense e diretor executivo do Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) – declarou: “Godard desprezaria toda e qualquer homenagem póstuma. Porém, cá estamos. Seu impressionante conjunto da obra, no decorrer de sete décadas, comprova seu gênio raro e verdadeiro no cinema. Seus filmes são divertidos e implacáveis; Godard desafiava cada espectador e recompensava os perseverantes”.

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Embora seu papel na arte e no entretenimento tenha ganhado destaque nos noticiários, pouco foi comentado sobre o ativismo de Godard em favor da Palestina e suas críticas contumazes ao Estado de Israel. Godard também foi rotulado como “antissemita” por denunciar a colonização e o apartheid sionista.

Em 2010, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas – conhecida informalmente como Oscar – anunciou planos de celebrá-lo com uma premiação honorária. No entanto, entidades sionistas contestaram veementemente a medida.

Na ocasião, a Organização Sionista da América descreveu Godard como “virulento antissemita”. O diretor, contudo, não se abateu – acusações como essa o acompanharam por toda a carreira.

Em artigo para homenagear Godard, a revista Jewish Currents observou que o revolucionário diretor costumava defender-se ao destacar que antissionismo não equivale a antissemitismo.

Godard era eloquente em sua solidariedade aos palestinos e seu apoio ao boicote contra Israel – sobretudo, conforme o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). Godard foi um dos signatários de uma petição para denunciar um evento do Institut Français realizado em colaboração com o estado ocupante.

“Sob o pretexto de intercâmbio cultural, este esforço busca promover o revisionismo israelense, maculado por suas políticas cada vez mais autoritárias referentes ao povo palestino”, indicou a petição, em alusão à chamada Temporada França-Israel.

Além de Jean-Luc Godard, a petição foi assinada por Eyal Sivan – conhecido cineasta nascido no território designado Israel que alertou, em 2001, que a comunidade judaica francesa “pagaria o preço pelas práticas coloniais e assassinas que prevalecem na Palestina”.

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