Portuguese / English

Middle East Near You

Macron recebe príncipe saudita; agenda inclui direitos, petróleo e Irã

Presidente da França Emmanuel Macron posa ao lado de Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e governante de facto da Arábia Saudita, na cidade de Paris, 28 de julho de 2022 [Benoit Tessier/AFP via Getty Images]

O presidente francês Emmanuel Macron recebeu ontem (28) Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e governante de facto da Arábia Saudita, como parte dos esforços ocidentais para cortejar o estado produtor de petróleo e obter alternativas a insumos do Kremlin, em meio às sanções oriundas da invasão russa na Ucrânia.

Além disso, Macron buscou abordar as apreensões sauditas sobre um novo acordo nuclear com Teerã, segundo informações da agência de notícias Reuters.

Opositores e ativistas de direitos humanos criticaram Macron pelo jantar com bin Salman, no Palácio do Eliseu, sede do governo federal, na cidade de Paris. Segundo diversos relatórios de inteligência e direitos humanos, bin Salman foi quem ordenou a execução do jornalista Jamal Khashoggi dentro do consulado saudita de Istambul, em outubro de 2018.

“A reabilitação do príncipe assassino será justificada na França, como nos Estados Unidos, por argumentos de suposto pragmatismo político”, declarou Agnes Callamard, secretária-geral da Anistia Internacional, em sua página do Twitter. “No entanto, o que prepondera é a barganha, sejamos sinceros”.

Em dezembro, Macron se tornou o primeiro líder ocidental a visitar a Arábia Saudita desde a morte de Khashoggi. Na ocasião, o presidente minimizou críticas a seu engajamento com bin Salman ao alegar que a monarquia era importante demais para ser ignorada.

Às vésperas de seu jantar com bin Salman, na noite desta quinta-feira (28), Macron acolheu bin Salman com um acalorado aperto de mãos, no tapete vermelho do Palácio do Eliseu, no centro parisiense. Nenhum dos líderes fez comentários à imprensa.

LEIA: França busca tirar proveito do desequilíbrio nas relações EUA-Arábia Saudita

A visita ocorre duas semanas após o Presidente dos Estados Unidos Joe Biden viajar à Arábia Saudita, com intuito de restaurar relações com a monarquia do Golfo para reagir à crescente influência regional de Irã, Rússia e China.

A França e outros estados europeus buscam diversificar fontes de energia após a invasão da Ucrânia, que resultou em cortes no abastecimento de gás natural russo a todo o continente. Macron e aliados insistem que a Arábia Saudita – maior exportador de petróleo do mundo – aumente sua produção.

Um assessor de Macron afirmou que o presidente abordaria, no entanto, assuntos de direitos humanos, incluindo casos individuais, para além dos temas de petróleo e acordo nuclear com Teerã. Paris é um dos principais fornecedores de armas a Riad, mas sofre pressão para revisar sua política de vendas devido à crise humanitária no Iêmen – considerada a pior do mundo –, agravada pela intervenção saudita no país, desde 2015.

A guerra no Iêmen é considerada um conflito por procuração entre o governo aliado da Arábia Saudita e rebeldes houthis ligados a Teerã, que controlam a maior parte do território nacional, incluindo a capital Sana’a.

Promotores franceses analisam uma série de denúncias contra bin Salman devido à catástrofe em solo iemenita, que culminou em centenas de milhares de mortes, milhões de deslocados e risco de fome generalizada.

A execução de Khashoggi dentro do consulado saudita de Istambul incitou furor internacional. A Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) confirmou que bin Salman ratificou pessoalmente a operação, que incorreu na morte do articulista do The Washington Post.

O príncipe herdeiro nega qualquer papel no assassinato.

Grupos de direitos humanos – dentre as quais, Democracy for the Arab World Now (DAWN), Open Society Justice Initiative (OSJI) e TRIAL International – afirmaram nesta quinta-feira ter registrado novos apelos às autoridades europeias para que bin Salman seja investigado pela tortura e assassinato de Jamal Khashoggi.

Categorias
Arábia SauditaEuropa & RússiaFrançaNotíciaOriente Médio
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments