Acordo nuclear é mais improvável após conversas no Catar, alega oficial dos EUA

O restabelecimento do acordo nuclear iraniano, firmado em 2015, é ainda mais improvável após a falta de progresso nas conversas indiretas entre Estados Unidos e Irã conduzidas em Doha, capital do Catar, reportou nesta quinta-feira (30) um oficial americano.

As informações são da agência de notícias Reuters.

“Os prospectos para um acordo pós-Doha são piores do que antes e se agravam dia após dia”, declarou a fonte em condição de anonimato. “Na melhor das hipóteses, não saímos do lugar. Porém, a esta altura, em termos práticos, continuar no lugar é o mesmo que andar para trás”.

A fonte não detalhou o conteúdo das negociações em Doha, durante as quais representantes da União Europeia tentaram mediar entre as partes para restaurar o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA). Sob o pacto, o Irã restringiu seu programa nuclear em troca da suspensão de sanções econômicas.

Em 2018, o então presidente americano Donald Trump revogou o acordo unilateralmente e impôs sanções “sem precedentes” contra a república islâmica. Em resposta, Teerã passou a transgredir gradualmente seus limites de enriquecimento de urânio.

“Reinvindicações dispersas, retorno a pontos acordados e pedidos claramente não relacionados ao pacto, tudo isso nos sugere que o verdadeiro debate que precisa ocorrer não é entre Teerã e Washington, sobre as divergências restantes”, reiterou a fonte. “Mas sim um debate interno no Irã, para responder se estão mesmo interessados em um retorno mútuo ao JCPOA”.

“Não sabemos se os iranianos sabem o que querem”, acrescentou a fonte. “Eles não trouxeram termos específicos a Doha. A maioria de suas questões já tinha resposta (ou deveria ter), estava fora do escopo, seria inadmissível a Estados Unidos e Europa, ou fora discutida exaustivamente na cidade de Viena”.

Ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), diplomatas dos Estados Unidos, da Grã Bretanha e da França responsabilizaram o Irã pelo fracasso em reaver o pacto, após mais de um ano de negociações.

Teerã, de sua parte, caracterizou as conversas como positivas, mas culpou a Casa Branca por não conferir garantias de que um novo governo não abandonaria novamente o acordo, como fez Trump.

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“O Irã quer garantias objetivas e verificáveis de que o acordo não será novamente torpedeado, de que os Estados Unidos não voltarão a violar suas obrigações e de que as sanções não serão restituídas sob outros pretextos e arbítrios”, reafirmou ao conselho o enviado iraniano, Majid Takht Ravanchi.

A fonte americana alegou que Washington deixou claro desde o início das negociações, em abril de 2021, que não daria garantias vinculativas a Teerã sobre uma política de estado.

“Dissemos que não há maneira legal de comprometer uma futura administração, procuramos então outras formas de dar algum conforto ao Irã e pensamos, junto com os outros países e a União Europeia, que a questão estava encerrada”, insistiu o oficial à Reuters.

Teerã firmou o acordo original com o grupo conhecido como P5+1, composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança — Grã Bretanha, China, França, Rússia, Estados Unidos —, além da Alemanha.

A fonte americana contrapôs as alegações iranianas contra a Casa Branca. Conforme seu relato, Washington respondeu positivamente à proposta europeia de emendas no texto-base, sob um acordo alcançado em março sem a presença de Teerã.

Caso o pacto seja restaurado, “a liderança iraniana terá de explicar porque voltou atrás em termos benéficos para dar lugar a questões que não fazem diferença construtiva à vida dos cidadãos comuns”, argumentou o oficial.

O retorno ao acordo nuclear permitiria a Teerã exportar seu petróleo de maneira legal — alicerce da economia nacional.

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