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Acordo nuclear é mais improvável após conversas no Catar, alega oficial dos EUA

Bandeiras iranianas em Teerã, após os Estados Unidos restabelecerem sanções, previamente suspensas pelo Conselho de Segurança da ONU, em 21 de setembro de 2020 [Fatemeh Bahrami/Agência Anadolu]

O restabelecimento do acordo nuclear iraniano, firmado em 2015, é ainda mais improvável após a falta de progresso nas conversas indiretas entre Estados Unidos e Irã conduzidas em Doha, capital do Catar, reportou nesta quinta-feira (30) um oficial americano.

As informações são da agência de notícias Reuters.

“Os prospectos para um acordo pós-Doha são piores do que antes e se agravam dia após dia”, declarou a fonte em condição de anonimato. “Na melhor das hipóteses, não saímos do lugar. Porém, a esta altura, em termos práticos, continuar no lugar é o mesmo que andar para trás”.

A fonte não detalhou o conteúdo das negociações em Doha, durante as quais representantes da União Europeia tentaram mediar entre as partes para restaurar o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA). Sob o pacto, o Irã restringiu seu programa nuclear em troca da suspensão de sanções econômicas.

Em 2018, o então presidente americano Donald Trump revogou o acordo unilateralmente e impôs sanções “sem precedentes” contra a república islâmica. Em resposta, Teerã passou a transgredir gradualmente seus limites de enriquecimento de urânio.

“Reinvindicações dispersas, retorno a pontos acordados e pedidos claramente não relacionados ao pacto, tudo isso nos sugere que o verdadeiro debate que precisa ocorrer não é entre Teerã e Washington, sobre as divergências restantes”, reiterou a fonte. “Mas sim um debate interno no Irã, para responder se estão mesmo interessados em um retorno mútuo ao JCPOA”.

“Não sabemos se os iranianos sabem o que querem”, acrescentou a fonte. “Eles não trouxeram termos específicos a Doha. A maioria de suas questões já tinha resposta (ou deveria ter), estava fora do escopo, seria inadmissível a Estados Unidos e Europa, ou fora discutida exaustivamente na cidade de Viena”.

Ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), diplomatas dos Estados Unidos, da Grã Bretanha e da França responsabilizaram o Irã pelo fracasso em reaver o pacto, após mais de um ano de negociações.

Teerã, de sua parte, caracterizou as conversas como positivas, mas culpou a Casa Branca por não conferir garantias de que um novo governo não abandonaria novamente o acordo, como fez Trump.

LEIA: Irã e União Europeia concordam em retomar negociações nucleares em Viena ‘em dias’

“O Irã quer garantias objetivas e verificáveis de que o acordo não será novamente torpedeado, de que os Estados Unidos não voltarão a violar suas obrigações e de que as sanções não serão restituídas sob outros pretextos e arbítrios”, reafirmou ao conselho o enviado iraniano, Majid Takht Ravanchi.

A fonte americana alegou que Washington deixou claro desde o início das negociações, em abril de 2021, que não daria garantias vinculativas a Teerã sobre uma política de estado.

“Dissemos que não há maneira legal de comprometer uma futura administração, procuramos então outras formas de dar algum conforto ao Irã e pensamos, junto com os outros países e a União Europeia, que a questão estava encerrada”, insistiu o oficial à Reuters.

Teerã firmou o acordo original com o grupo conhecido como P5+1, composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança — Grã Bretanha, China, França, Rússia, Estados Unidos —, além da Alemanha.

A fonte americana contrapôs as alegações iranianas contra a Casa Branca. Conforme seu relato, Washington respondeu positivamente à proposta europeia de emendas no texto-base, sob um acordo alcançado em março sem a presença de Teerã.

Caso o pacto seja restaurado, “a liderança iraniana terá de explicar porque voltou atrás em termos benéficos para dar lugar a questões que não fazem diferença construtiva à vida dos cidadãos comuns”, argumentou o oficial.

O retorno ao acordo nuclear permitiria a Teerã exportar seu petróleo de maneira legal — alicerce da economia nacional.

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