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Regime sírio reconhece involuntariamente 1.056 mortos entre desaparecidos

Retratos feitos pela artista síria Azza Abu Rebieh de amigos encarcerados na penitenciária de Adra, administrada pelo regime de Bashar al-Assad, e outros sequestrados em Douma, no Dia Internacional dos Desaparecidos, em Beirute, Líbano, 30 de agosto de 2017 [Anwar Amro/AFP via Getty Images]

O regime sírio de Bashar al-Assad admitiu haver ao menos 1.056 mortos entre os indivíduos desaparecidos à força em seu sistema carcerário, ao longo dos anos, relatou a Rede Síria de Direitos Humanos (RSDH).

Um documento de 14 de páginas publicado pelo grupo humanitário observou que o regime concedeu não-intencionalmente evidências de suas políticas de desaparecimento forçado e execuções em custódia, por meio da manipulação dados de Registro Civil.

Ao divulgar imagens e cópias de atestados de óbito e outros registros das vítimas, o relatório destacou que, desde o início de 2018, diversos oficiais nas instituições de governo – como os ministros do Interior e da Justiça – catalogaram as mortes de prisioneiros políticos.

Do início de 2018 até abril de 2022, oficiais do regime compilaram no Registro Civil ao menos 1.056 mortes em custódia, incluindo duas mulheres e nove crianças. As causas de morte não foram esclarecidas, mas a RSDH crê na possibilidade de tortura.

Dentre os nomes obtidos pela rede humanitária, estão indivíduos desaparecidos há anos, cuja detenção o regime recusa-se a reconhecer.

Um exemplo dessa admissão involuntária remete ao período entre fevereiro e abril, no qual ao menos 54 mortes na aldeia de Deir al-Asafeer, no sul da Síria, foram confirmadas por familiares pelos escritórios relevantes do Registro Civil, após o regime negar informações.

A RSDH cruzou dados e revelou que 36 dentre os indivíduos de Deir al-Asafeer estavam listados no banco de dados da organização como desaparecidos; apenas 18 eram novos casos.

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Tais práticas, constatou o relatório, representam a confissão incidental das forças de Assad de seu envolvimento em crimes de desaparecimento forçado conduzidos contra a população civil.

Fadel Abdul Ghany, diretor da RSDH, comentou: “Apesar do regime sírio negar reiteradamente o desaparecimento forçado de milhares de pessoas, o Registro Civil revela dezenas de mortos; o regime sequer informou as famílias ou entregou os corpos, embora tenham se passado anos desde sua morte”.

“Dificilmente há algum regime semelhante a Assad no que concerne suas práticas bárbaras, salvo a Coreia do Norte”, acrescentou. “A comunidade internacional deve ajudar os 86.792 cidadãos sírios desaparecidos à força e cada minutos a mais significa mais e mais mortes”.

A Rede Síria de Direitos Humanos fez então um apelo ao Conselho de Segurança para realizar uma reunião de emergência sobre o assunto e “agir sob o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas para proteger os detidos da morte certa em custódia, encontrar um mecanismo para compelir o regime a encerrar a prática de tortura e desaparecimento e assumir todas as medidas necessárias para impedir o regime sírio de perseguir e reprimir vivos e mortos”.

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