Portuguese / English

Middle East Near You

Conselho de Segurança discute aumento de casos de violência sexual em conflito

A ativista yazidi Nadia Murad, laureada com o Prêmio Nobel da Paz, conversa com as pessoas durante sua visita a Sinjar, Iraque, em 14 de dezembro de 2018. [REUTERS/Ari Jalal]

O Conselho de Segurança realizou uma sessão nesta quarta-feira (23)  sobre o tema Mulheres, Paz e Segurança. O foco é a prestação de contas como meio de prevenção pelo fim dos ciclos de violência sexual em conflito.  O mundo fechou o ano passado com 800 notificações a mais que em 2020.

A sessão analisou o relatório da ONU que lista a República Democrática do Congo no topo de crimes deste tipo em 2021. Foram 1.016 casos registrados do total de  3.293 incidentes em nível global. E 97% dessas vítimas são mulheres e meninas.

Ambiente  

Os participantes debateram a necessidade de se promover um ambiente protetor que “iniba a violência sexual em primeira instância e permita que relatos e respostas sejam processados de forma segura”.

A representante especial do secretário-geral sobre Violência Sexual em Conflitos, Pramila Patten, enumerou formas de desigualdade baseadas em questões de etnia, filiação política, idade, deficiência, orientação sexual identidade de gênero, rendimento e situação migratória que aumentam o risco das vítimas.

Patten conta que se juntam a estes fatores “os históricos desequilíbrios  estruturais e sistêmicos de oportunidades”. Para ela, a real escala desses incidentes é desconhecida com vítimas silenciadas por trauma, dor, desespero aliados ao estigma e à insegurança.

LEIA: Brasileira conselheira na ONU diz que crises forçam mudanças no sistema internacional

Ela destacou a relação entre o silêncio individual e o silêncio oficial, que vem das autoridades: “não se pode esperar que os sobreviventes denunciem o que o próprio Estado nega”.

Vergonha

Patten lembra que quando os autores ficam impunes, os sobreviventes andam com medo, “carregando o fardo do ostracismo e da vergonha”. Ao pedir que se melhore o ambiente de proteção, ela disse que a medida permita dar uma resposta segura e eficiente.

Ela ressaltou que vítimas de países como Ucrânia, Afeganistão, Mianmar ou Etiópia, na região de Tigray, requerem mais do que resoluções sobre mulher paz e segurança.

Sobre a pandemia, o informe destaca que a crise “silenciou as armas, mas no período foi observado um “aumento da militarização, incluindo uma epidemia de golpes, que atrasou os direitos das mulheres.”

Jornalistas

O relatório menciona novas crises se multiplicaram, num cenário de guerras entrincheiradas que avançam, exacerbando o desafio de contrair ou em alguns casos “encerrar o espaço cívico, manifestado em represálias crescentes contra mulheres defensoras de direitos humanos, ativistas e jornalistas.”

Para Patten, a falha em reconhecer e investigar atrocidades do passado é o sinal mais seguro de que as violações seguirão.

LEIA: A ONU não protege os palestinos, muito menos os jornalistas

Em nível global, o relatório aponta que a ilegalidade e a impunidade equivalem a uma espécie de “licença para estuprar”. A recomendação é que seja reforçada a ação penal.

Pramila Patten destacou que enquanto a impunidade normaliza a violência, a justiça reforça as normas globais.

Nadia Murad

A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Nadia Murad, ativista e sobrevivente das ações do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, Isil ou Daesh, na comunidade yazidi. Ela disse que as vítimas esperam que o Conselho aja com a mesma coragem demonstrada por elas “que não requerem piedade, mas justiça”.

Para Nadia Murad, a prestação de contas é essencial para a prevenção, e tem que incluir serviços de apoio a sobreviventes e a promoção da equidade de gênero em nível global.

A ativista também mencionou a situação da Ucrânia dizendo que “sempre que irrompe um conflito armado em qualquer lugar do mundo, seguem-se o estupro e a brutalidade”.

Para Murad, a violência sexual não é um efeito colateral do conflito, mas “tática de guerra tão antiga quanto o tempo” e deve estar clara para todos.”.  O grupo capturou mais de 6 mil mulheres e crianças yazidis, vendeu e estuprou algumas delas e até 2,8 mil vítimas  ainda vivem em cativeiro e escravidão sexual nas mãos do grupo.

Publicado originalmente em ONU News

Categorias
NotíciaONUOrganizações Internacionais
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments