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Grupo sionista ponderou fim de programa policial EUA-Israel após morte de George Floyd

Retrato de George Floyd, assassinado por um policial nos Estados Unidos, no muro do apartheid, em Belém, na Cisjordânia ocupada, 8 de junho de 2020 [Wisam Hashlamoun/Agência Anadolu]

A indignação global sobre o assassinato brutal de George Floyd nos Estados Unidos, em 2020, levou o grupo sionista Liga Antidifamação (ADL) a considerar o fim de um controverso programa de intercâmbio de policiais americanos a Israel, segundo um memorando interno obtido pelas redes de imprensa The Guardian e Jewish Currents.

A organização ponderou extinguir o programa após forças de segurança nos Estados Unidos e além tornarem-se foco de escrutínio público, sobretudo devido à técnica policial de imobilizar indivíduos contra o chão ao colocar um joelho sobre o pescoço da vítima.

O memorando foi assinado por George Selim, vice-presidente sênior da ADL, e Greg Ehrie, seu vice-presidente para policiamento e análise, endereçado a Jonathan Greenblatt, diretor executivo da entidade sionista, em 9 de junho de 2020, um mês após a morte de Floyd.

Neste entremeio, protestos contra o racismo e a brutalidade policial tomaram os Estados Unidos e diversos outros países. O documento considerou que as viagens policiais a Israel deveriam ser suspensas devido a “grande controvérsia”.

“Diante da verdadeira brutalidade policial nas mãos de forças militarizadas nos Estados Unidos, devemos nos fazer perguntas difíceis; por exemplo, se contribuímos ao problema”, reafirmou o memorando. “Devemos nos questionar por que é preciso que a polícia americana, que executa leis americanas, encontre-se com membros do exército israelense. Devemos nos questionar se, ao retornarem para casa, aqueles que treinamos pendem mais ao uso da força. Esperamos que não seja verdade”.

Desde 2004, a ADL levou entre 500 e 600 policiais americanos a Israel para “fins de educação e treinamento”. O memorando do grupo sionista constata que as viagens “criam laços” entre os agentes de segurança; contudo, “seu valor programático é questionável”.

Em seguida, o documento confirma preocupações orçamentárias, dada a eventual perda de doações e prejuízo de mais de US$200 mil por ano em recursos humanos, incluindo esforços para “defender as viagens desta controvérsia”.

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O texto conclui então que o fim do programa possa ser a “melhor abordagem”, dado seu “impacto limitado e alto potencial de polêmica”.

Desde 2017, a iniciativa da ADL é denunciada pela organização Jewish Voices for Peace (JVP) como “intercâmbio mortal”.

“As viagens reúnem policiais estadunidenses, tropas de fronteira, agentes do ICE [Serviço de Controle de Imigração e Aduanas] e FBI [Departamento Federal de Investigação] com oficiais israelenses”, reafirmou a JVL em relatório sobre o programa. “Então, as ‘piores práticas’ são compartilhadas para promover e ampliar atos repressivos e discriminatórios já presentes em ambos os países, incluindo perfilamento racial, espionagem, deportação, detenção e ataques contra ativistas de direitos humanos”.

Apesar dos receios, Selim e Ehrie admitiram que o memorando era apenas um esboço e que a decisão final foi “continuar o programa com um currículo atualizo a fim de aprimorar o valor e impacto deste tipo de engajamento policial”.

As revelações sobre a apreensão do grupo sionista sobre o programa levaram o JVP a comemorar sua “vitória”.

“O memorando identifica nossa campanha mais de cinco vezes e deixa absolutamente claro que nossa força coletiva tornou este programa política e financeiramente custoso”, afirmou Eran Efrati, diretor de campanha e parceria do JVP.

“A ADL escolhe a polícia, nós escolhemos o povo”, prosseguiu o ativista. “É como vencemos! Temos a ADL nas cordas, de joelhos, confessando que nossa força coletiva pode levar ao fim tais intercâmbios mortais; ainda assim, não acabou”.

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