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Neste 30 de março, unidade contra o apartheid israelense e a limpeza étnica

Manifestante exibe cartaz com os dizeres ‘Israel é um estado de apartheid’ durante ato na Cisjordânia ocupada, em 23 de janeiro de 2019 [Abbas Momani/AFP/Getty Images]

Média de um palestino assassinado pelas forças de ocupação sionistas por semana. Este é o saldo somente na Cisjordânia entre 8 de fevereiro de 21 de março. Os dados são apresentados em dois relatórios quinzenais do Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (UN-Ocha, na sigla em inglês). Na contínua Nakba (catástrofe materializada com a formação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948, mediante limpeza étnica planejada) urge ouvir as vozes que clamam por justiça em todo o mundo neste 30 de março – Dia da Terra Palestina.

Aos protestos, têm se somado na data o plantio de oliveiras, como um símbolo do vínculo com a terra e identidade nacional palestina. Vale lembrar que são mais de 800 mil dessas árvores derrubadas desde a ocupação militar de 1967. Somente entre agosto de 2020 e outubro de 2021, foram 9.300, de acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. A Nakba é também ambiental.

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O dia 30 de março lembra protestos no ano de 1976 na Palestina ocupada em 1948 contra a anexação de mais terras. Como escreveu Yara Hawari para a Al Jazeera, estes “foram resultado de uma ação coletiva em massa em toda a Palestina histórica, que viu as comunidades palestinas resistindo não apenas ao roubo de terras, mas também às políticas coloniais de apagamento. Embora também tenha havido protestos em Naqab e Wadi Ara, a maior parte da ação ocorreu em seis aldeias da Galileia que foram colocadas sob toque de recolher: Sakhnin, Arraba, Deir Hanna, Tur’an, Tamra e Cabul”. A repressão israelense foi violenta, deixando centenas de feridos e seis mortos.

Quarenta e dois anos depois, em 2018, a partir de Gaza iniciou-se no mesmo dia outro protesto massivo: a denominada Grande Marcha do Retorno. Dezenas de milhares de palestinos se reuniram próximos às cercas e muros do criminoso bloqueio israelense imposto desde 2007 à estreita faixa levantando a bandeira central do retorno inegociável e ilegítimo – cerca de 80% dos palestinos que ali vivem são deslocados internamente, refugiados da catástrofe de 1948. Esse movimento seguiu por 52 semanas, todas as sextas-feiras, desde então. A repressão mais uma vez foi violenta, deixando centenas de mortos e milhares de feridos. Tanto em 1976 quanto em 2018, a sociedade fragmentada na contínua Nakba uniu-se em resistência heroica e histórica.

Na luta permanente por libertação nacional, o 30 de março é um dia para honrar aqueles que tombaram no caminho, saudar a heroica resistência, denunciar que o sangue palestino segue a ser derramado diuturnamente e unir a solidariedade.

Segundo a agência Ocha, da ONU, dos sete palestinos assassinados na Cisjordânia nas sete semanas indicadas em seus dois relatórios, três eram crianças. Entre os feridos, foram 766, dos quais 91 crianças, a maioria em protestos contra a instalação de novos colonatos sionistas, que se ampliam vertiginosamente, ante a cumplicidade de governos que seguem a apertar mãos sujas de sangue. Bolsonaro e parlamentares brasileiros entre eles.

Aperto de mãos sujas de sangue 

No último dia 24 de março, a Comissão de Relações Exteriores do Senado deu mais um passo nessa direção. Aprovou o acordo de cooperação na área de defesa entre Israel e Brasil, assinado por Bolsonaro em 31 de março de 2019 quando de sua visita ao aliado sionista. A matéria segue agora em regime de urgência para apreciação do plenário dessa Casa. O Brasil segue firme e forte em manter, senão expandir, a vergonhosa posição de quinto maior importador de tecnologia militar israelense herdada lamentavelmente dos governos anteriores.

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Como descreve a malfadada notícia na Agência Senado, “o acordo entre Brasil e Israel terá ênfase no intercâmbio de tecnologias, treinamento e educação em questões militares. O acordo ainda prioriza a colaboração em sistemas e produtos de defesa, além de disciplinar eventuais transferências a outros países. Busca também promover cooperação na aquisição, pesquisa e desenvolvimento, apoio logístico e mobilização, assim como a troca de conhecimentos e experiências nas áreas operacional, científica e tecnológica”. Em suma, os parlamentares deram seu aval a parceria com a indústria da morte israelense, que sustenta a colonização e limpeza étnica contínuas em terras palestinas, enquanto serve ao extermínio indígena e genocídio pobre e negro no Brasil.

Barrar esse acordo no plenário está na ordem do dia e deve compor as mobilizações pelo 30 de março em território nacional. Na capital paulista, protesto convocado pelos palestinos e palestinas levantará essa demanda e exigência de embargo militar a Israel. Como inclusive recomenda a Anistia Internacional em seu relatório no qual conclui que os palestinos estão sujeitos a regime de apartheid. É preciso dizer em uníssono: basta! Palestina livre do rio ao mar, com retorno dos milhões de refugiados às suas terras.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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