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Cineusp exibe online curta de arte sobre desenraizamento palestino

Cena de Patrimônio Nacional (Nation Estate, 2012), de Larissa Sansour [Divulgação]

A Universidade Estadual de São Paulo (USP), por meio do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), exibe online o curta-metragem de arte palestino Patrimônio Nacional (Nation Estate, 2012), dirigido e estrelado por Larissa Sansour. A exibição faz parte da primeira mostra deste ano do Cinusp, intitulada O Lugar que Habitamos, que começou nesta segunda-feira (14) e irá até o dia 13 de março.

A mostra exibe doze curta-metragens que tratam das singularidades, problemas e desafios de diferentes cidades do mundo. Os filmes estão disponíveis gratuitamente no canal do Cinusp no Youtube.

Em Patrimônio Nacional (Palestina/Dinamarca, 2012, 9’), “uma mulher retorna a Belém, agora uma cidade confinada a um único andar de um monumental arranha-céu que abriga todo o território e a população palestina”.

“Sansour mais uma vez vale-se de uma ótica distópica para abordar o impasse no Oriente Médio, combinando imagens geradas por computador, atores ao vivo e uma trilha sonora de arabescos eletrônicos. Abordando diferentes questões políticas enfrentadas, como o abastecimento de água e as restrições de viagem, a diretora prevê o desenraizamento total da experiência palestina”, descreve o Cinusp. “A diretora retrata o espaço tomado da Palestina reduzido a um mega prédio, unificando toda a cidade, sitiado em meio ao deserto de Israel. Ao abdicar totalmente das falas, apostando nas imagens e na trilha musical, a diretora potencializa a crítica ali exposta”.

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Nascida em Jerusalém, a artista contemporânea Larissa Sansour estudou Belas Artes em Copenhague, Londres e Nova York e sua prática artística está imersa no diálogo político atual. Seu projeto “Patrimônio Nacional” é composto pelo curta-metragem de ficção científica de alta produção e um conjunto de sete trabalhos fotográficos.

Originalmente desenvolvido para o Prêmio Lacoste Elysée 2011, o projeto foi censurado, considerado muito político e “pró-palestina” e a nomeação de Sansour ao prêmio foi revogada. As críticas na mídia fizeram com que o prêmio fosse cancelado.

Os filmes da mostra O Lugar Que Habitamos exploram um pouco de doze cidades do mundo, “buscando unir sua dimensão mais geral – o que faz delas cidades: as pessoas no espaço – àquilo que existe de mais singular em cada uma delas: as ações específicas de determinadas pessoas nesse espaço no momento da realização do filme”.

“Pessoas ocupando lugares, assim poderíamos definir o que é uma cidade. Esse também poderia ser o mote para a construção de um enredo: personagens realizando ações em determinados espaços. Nos filmes que compõem esta mostra, ocupar o espaço da cidade é a principal ação que move os personagens”, descreve o Cinusp.

O Iêmen também está representado na mostra, com o filme “Os Muros de Sana” (Itália, 1972, 13’), dirigido por Pier Paolo Pasolini, um apelo para que a cidade de Sanaa, capital do Iêmen, seja preservada. “Marcado por belíssimas paisagens naturais, o documentário-apelo de Pasolini é o retrato de um lugar que, mesmo tomado pelas dificuldades e tensões sociais do pós-revolução, se recusa a abandonar a esperança de um futuro melhor”, explica o Cinusp na sinopse. “Como as muralhas e fortificações primorosamente construídas, a resiliência da população local também é exaltada, resultando em um curta-metragem sensível e empático na mesma medida que é corajoso e político.”

Veja outros filmes da Mostra O Lugar que Habitamos:

E (Brasil, 2014, 18’), dirigido por Alexandre Wahrhaftig, Helena Ungaretti e Miguel Antunes Ramos, discute a verticalização de São Paulo. “Por meio de depoimentos de pessoas que conheciam e habitavam os espaços que passaram a ser estacionamentos e um uso criativo de imagens de arquivos do Google Maps, o filme faz um retrato das transformações do espaço urbano da maior capital brasileira”, informa a sinopse do filme.

Brasília: Contradições de Uma Cidade Nova (Brasil, 1967, 24’), de Joaquim Pedro de Andrade, questiona se uma cidade planejada, símbolo do desenvolvimento nacional da época, reproduziria a desigualdade social presente nas metrópoles brasileiras.

O Porto de Santos (Brasil, 1978, 20’), de Aloysio Raulino, faz um retrato de Santos, no litoral paulista. “O filme traz a especificidade e a dinâmica própria de Santos – o trabalho no porto, os habitantes das margens e a boemia noturna -, expondo o que há de duradouro e efêmero, típico da noite em uma cidade portuária.”

Recife Frio (Brasil, 2009, 24’), de Kleber Mendonça Filho. “Uma sátira política que se utiliza da comicidade e da mescla de gêneros cinematográficos para retratar uma metrópole em caos incapaz de esconder todas as suas mazelas e fraquezas sociais”, destaca a sinopse do Cinusp. “Partindo de uma premissa com tom de ficção científica, Kleber Mendonça se utiliza do lúdico e do exagerado para, no fim, desvelar uma realidade desigual e que assombra por não estar tão distante quanto gostaríamos que estivesse.”

Ser Feliz no Vão (Brasil, 2020, 12), de Lucas Rossi dos Santos, é “um ensaio preto sobre trens, praias e ocupação de espaço”, segundo o Cinusp. “Mescla de imagens de arquivo coloridas e em preto e branco, o curta questiona as complexidades da vivência, moradia e acesso da população preta brasileira.”

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Cidade de Contrastes (Senegal, 1969, 22’), de Djibril Diop Mambéty. Da conversa entre o diretor senegalês Mambéty e a francesa Inge Hirschnitz vão sendo evocados os contrastes que compõem a paisagem e a história de Dakar, no Senegal. A ironia da narrativa se mistura a imagens de suntuosos prédios públicos, em comparação com a situação da população que habita a cidade. Isso faz do filme “uma forte crítica às formas como a colonização francesa influencia a vida e a paisagem de Dakar naquele ano ainda tão próximo de sua recém-conquistada ‘independência’”.

Na Rua (Estados Unidos, 1948, 17’), de Janice Loeb, Helen Levitt e James Agee, registra o dia a dia agitado numa rua do Harlem espanhol de Nova York durante a década de 1940. “A mistura de filmagens no estilo vérité documenta esse bairro diversificado e tomado pela efervescência da juventude; as crianças tornam-se as estrelas brincando, dançando, brigando, chateando os adultos com a bagunça e aterrorizando a vizinhança no Halloween”, destaca o Cinusp. “O curta-metragem de direção colaborativa era o favorito de Charlie Chaplin, que não se cansava de imitar seus participantes.”

A Passarela Se Foi (Taiwan/França, 2002, 25’), de Tsai Ming-Liang, se dá em torno da demolição não anunciada de uma passarela em Taipei. Explorando o sentimento de ausência e de nostalgia pelo passado de Taipei, o filme dá vida à cidade mutante e ao movimento coletivo dos transeuntes da capital de Taiwan.

Lúpus (Colômbia/França, 2016, 9’), de Carlos Gómez Salamanca, é uma produção que retrata a cidade de Bogotá, na Colômbia. “Em dezembro de 2011, um vigia noturno foi morto por uma matilha de cães que rondava pelas ruas de Bosa, uma área dos subúrbios de Bogotá”, informa o Cinusp. “Com o uso de diferentes técnicas de animação, o curta possui uma atmosfera sombria uniforme. Fazendo uma analogia com a doença autoimune no título, a massificação e a verticalização da cidade são também comparadas aos cães selvagens e territorialistas que atacam o vigia.”

Valparaíso (Chile/França, 1963, 24’), de Joris Ivens, entrelaça a vida cotidiana da cidade chilena com sua história. “Nele, é apresentada a dinâmica única da cidade portuária, com seus morros, teleféricos e as inúmeras escadarias, assim como suas contradições. O passado colonial também não é esquecido pelo roteiro assinado por Chris Marker, que, com uma virada estética das imagens, dá um tom de esperança ao futuro da cidade.”

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Palestina: quatro mil anos de história
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