Em despedida de um amigo do arabismo. Professor Mohamed Habib, presente!

Há poucos dias, perdemos nosso cientista Mohamed Habib, ex-presidente do Instituco de Cultura Árabe (Icarabe) e ex-pró-reitor da Universidade Campinas, com intensa produção acadêmica, mais de 200 artigos científicos em revistas internacionais, além de vários livros nas áreas de meio ambiente e controle biológico.

Os especialistas acadêmicos e  pensadores da esquerda e das lutas democráticas concordavam com esse homem egípcio-brasileiro por seu caráter gentil e humildade, e de suas contribuições dignas de lembrança de brasileiros e palestinos, contra o grande o avanço da ocupação sionista.

Nosso grande erudito, que Deus tenha misericórdia dele, Muhammad Habib esteve certo e ousado ao buscar justiça para a Palestina e a saída do colonizador das terras ocupadas. Seu conhecimento e sua posição fizeram dele uma voz respeitada.

A Unicamp registra que “sua defesa da cultura de paz e do diálogo inter-religioso foram importantes em períodos de grandes debates sobre o Oriente Médio nos anos 1990 e 2000. Ele foi , como coordenador de Relações Internacionais da instituição,  entre 1998 e 2002. Na década seguinte, seria uma fonte importante na mídia brasileira ao analisar os eventos da chamada “Primavera Árabe”, entre 2010 e 2011.

Habib nasceu em 1942 na cidade de Port Said. Ele vem de uma antiga família egípcia com posição religiosa e social, e ocupa o quinto lugar entre nove filhos. Ele tinha 31 anos ao sair do Egito. Pensou em ir para a Alemanha, mas não conseguiu o visto. Tentou o Canadá, e os trâmites foram complicados. Até que, meses após tentativas, conseguiu instalar-se no Brasil.

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Habib se destacou em vários aspectos de sua vida e no campo de sua ciência, que é a entomologia e o meio ambiente. Trabalhou por 29 anos como professor e em projetos da universidade.  Recebeu o Título de “Cidadão Campineiro”, concedido pela Câmara Municipal de Campinas (SP).  Foi homenageado em 1998 pela Secretaria Nacional dos Direitos Humanos da Presidência da República, com a medalha “Direitos Humanos, o Novo Nome da Liberdade”, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele contribuiu para transmitir a narrativa palestina do ponto de vista árabe, acreditando que não existe conflito entre palestinos e israelenses, mas sim que existe uma ocupação sionista contra palestinos que foram expulsos de suas terras em 1948 e 1967, e que o mundo assistiu e ainda assiste!

Em sua busca por ampliar o diálogo entre as culturas e transferir a cena árabe para o público brasileiro , chefiou o Instituto de Cultura Árabe no Brasil como Vice-Presidente (2008-2012) e Presidente (2015-2019) após ter sido profundamente influenciado pelas ideias do falecido pensador literário Edward Said.

O professor Habib partiu aos 80 anos sem ver a Palestina libertada, como sempre sonhou, e ficou muito triste com a situação dos países árabes que optaram por normalizar as relações com a ocupação. Isso começou no passado com um acordo comercial com os Emirados até tornar-se hoje um intercâmbio comercial, político, militar, cultural, científico e literário, e assim por diante a partir de um declínio no sistema de valores políticos e morais.

Habib nunca morrerá, pois suas palavras continuam a mostrar o caminho na Palestina. Igualmente importante, devemos repetir o que Habib escreveu,  publicou e falou em prol do projeto de libertação palestina.

Descanse em paz Inna lillahi wa inna ilayhi raji’un — Indeed, we belong to God, and to Him is our return.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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