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FEPAL pede à CNBB que interrompa mostra sobre Jerusalém na Catedral de Brasília

Igreja de Todas as Nações no Monte das Oliveiras (At-Tur), Jerusalém ocupada, 12 de outubro de 2021 [Mustafa Alkharouf/Agência Anadolu]

A FEPAL condenou, em carta à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a mostra “Jerusalém, a Cidade da Fé”, aberta no último dia 16, na Catedral Metropolitana de Brasília, numa “parceria” entre a embaixada de Israel e a igreja. A mostra traz fotos de sítios históricos de Jerusalém Oriental, ocupada ilegalmente por Israel, em desobediência a diversas resoluções da ONU que pedem sua desocupação.

Na carta, que pede o cancelamento da mostra, a entidade palestino-brasileira argumenta que qualquer tipo de coordenação com Israel para assuntos de Jerusalém Oriental “legitima as ocupação e anexação” desta parte da cidade. Citando 13 resoluções da ONU, a carta diz que Jerusalém é a parte mais afetada pela ocupação ilegal da Palestina, com “práticas ilegais que a judaízam e a descaracterizam como cidade palestina, cristã e muçulmana e patrimônio da humanidade”.

Para a FEPAL, só é possível à Igreja Católica tratar com a Palestina quando o assunto é Jerusalém Oriental porque “Brasil e Vaticano acatam todas estas resoluções e reconhecem a Palestina como Estado Soberano, com Jerusalém Oriental integrante de seu território”.

A carta lembra, ainda, que Israel pratica crimes de lesa-humanidade na Palestina, especialmente em Jerusalém Oriental. Segundo o documento, são “recorrentes (em Jerusalém Oriental) profanações de igrejas, mesquitas e outros sítios sagrados e restrições aos fiéis de exercerem suas fés ou acessarem os locais de culto, clara afronta aos direitos humanos”.

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Enviada com cópia à Arquidiocese de Brasília, a carta ainda não obteve resposta, mas para o presidente da FEPAL, Ualid Rabah, a Igreja Católica “tem sabido respeitar os direitos humanos na Palestina e até os tem denunciado, razão pela qual acreditamos que haverá sensibilidade da CNBB para esta questão, que é grave e não condiz com a posição histórica da diplomacia da Santa Sé”.

Confira a íntegra da carta da FEPAL para a CNBB

V.Ex.ª. Reverendíssima DOM JOEL PORTELLA AMADO

Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Brasília-DF

Excelentíssimo Senhor

Em vista da mostra fotográfica “Jerusalém, a Cidade da Fé”, inaugurada dia 16, na Catedral Metropolitana de Brasília, fruto de “parceria” entre a Igreja Católica e a embaixada de Israel, protestamos contra esta afronta aos direitos humanos do povo palestino pelas seguintes razões e fundamentos:

• As fotos em questão retratam os templos religiosos que há em Jerusalém Oriental, o que pode soar inofensivo e meramente informativo. Entretanto, esta parte da cidade é, por resoluções da ONU e pelo Direito Internacional, declarada ilegalmente ocupada por Israel, uma potência colonial;

• A ilegalidade da ocupação de Jerusalém está na Resolução 181 da ONU, que a considerou um corpus separatum, e por incontáveis outras, com destaques para 252 (1968), 267 (1969), 271 (1969), 298 (1971), 465 (1980) e 476 e 478, ambas de 1980, que a condenam e dão por nulas a anexação da cidade e o ato que a declara capital de Israel;

• Outras resoluções da ONU, como as 242 (1967), 446 (1979), 51/223 (1997), 10/6 (1999) e 2334 (2016), que condenam Israel por tomar território pela força, assim como a ocupação construção de assentamentos nestes territórios, são aplicáveis a Jerusalém Oriental, a porção palestina mais afetada por estas práticas ilegais, que a judaízam e a descaracterizam como cidade palestina, cristã e muçulmana e patrimônio da humanidade;

• Brasil e Vaticano acatam todas estas resoluções e reconhecem a Palestina como Estado Soberano, com Jerusalém Oriental integrante de seu território;

• Os direitos de cidadania e religiosos em Jerusalém estão afetados pela ocupação, com recorrentes profanações de igrejas, mesquitas e outros sítios sagrados e restrições aos fiéis de exercerem suas fés ou acessarem os locais de culto, clara afronta aos direitos humanos;

• Coordenar-se sobre Jerusalém, inclusive em “parceria”, com a potência ocupante e não com a Palestina, de que é capital, implica desobediência às resoluções da ONU, ao Direito Internacional, o humanitário especialmente, assim como às posições oficiais de Brasil e Vaticano neste tema.

Pelo exposto, uma apertada síntese dos crimes de lesa-humanidade praticados contra o povo palestino nesta cidade sagrada e metrópole do monoteísmo, dente eles o de limpeza étnica, condenamos esta “parceria”, que legitima as ocupação e anexação de Jerusalém Oriental, e pedimos à Igreja Católica que interrompa, em respeito aos direitos humanos, esta mostra.

Palestina Livre a partir do Brasil, 17 de dezembro de 2021, 74º ano da Nakba.

Publicado originalmente em Fepal

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