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Jovem refugiado sírio é enterrado na Polônia; família assiste pela internet

Funeral de Ahmed al-Hassan, refugiado sírio de 19 anos que afogou-se no Rio Bug, na fronteira polonesa, em 15 de novembro de 2021 [WOJTEK RADWANSKI/AFP/Getty Images]

Em uma noite escura de novembro, na pequena aldeia de Bohoniki, no nordeste da Polônia, um grupo de homens abaixou o caixão de um jovem refugiado a uma cova recém aberta, sob as preces de um sacerdote islâmico que compareceu ao funeral.

Ahmed al-Hassan — cidadão sírio de 19 anos — afogou-se no Rio Bug em outubro, ao tentar atravessar a fronteira polaco-bielorrussa, para buscar asilo na União Europeia.

Ao menos outras sete pessoas morreram na fronteira nos últimos meses.

Os países ocidentais, incluindo membros do bloco europeu e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), acusam a Bielorrússia de orquestrar uma crise migratória, em retaliação a sanções impostas contra o autoritário presidente Alexander Lukashenko.

Seu governo — com apoio de Moscou — nega as alegações.

Hassan foi enterrado sob a luz de tochas, a milhares de quilômetros de casa. Sua família assistiu ao velório por videoconferência, graças ao médico sírio que resgatou o corpo.

“Vocês não conseguirão ver muito, mas quero dizê-los que somos todos família”, declarou Kassam Shahadah aos parentes de Hassan. “Eu sei que vocês gostariam de vê-lo uma última vez, mas não há muito que podemos fazer”.

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No seu telefone, uma senhora chorava e os prantos de uma criança eram ouvidos ao fundo.

Hassan supostamente morreu em 19 de outubro. Seu corpo foi mantido em um necrotério na cidade polonesa de Bielsko Biala, até que uma pequena comunidade tártara islâmica ofereceu-se para enterrá-lo em Bohoniki, a 600 quilômetros dali.

A situação na fronteira Polônia/Belarus – Charge [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Em meados deste ano, milhares de refugiados do Oriente Médio e África chegaram ao lado bielorrusso da fronteira europeia, para tentar atravessá-la a pé por bosques, pântanos e lagos, e pedir asilo a países como Polônia, Letônia e Lituânia.

‘Tememos o pior’

Conforme se aproxima o inverno, mortes dentre os refugiados começaram a emergir — o primeiro óbito, em 19 de setembro. Meses depois, ao menos quatro mil pessoas permanecem presas na região de fronteira, sob temperaturas congelantes.

O chefe da comunidade tártara de Bohoniki compartilhou sua apreensão.

“Estamos preocupados que haverá mais mortos porque sabemos como é o tempo. Está frio e as pessoas estão exaustas. Tememos o pior”, afirmou Maciej Szczesnowicz.

Nas redes sociais, Maciej confirmou que seus compatriotas tártaros, radicados no lado polonês da tríplice fronteira com Bielorrússia e Lituânia, se disponibilizaram a organizar enterros a refugiados muçulmanos.

Considerados uma minoria étnico-religiosa na Polônia moderna, vastamente católica, os tártaros descendem de guerreiros recompensados pelos antigos reis com terras no nordeste do país, por proteger a fronteira oriental de hordas de invasores, séculos atrás.

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Sob receios de que a crise atual está longe de acabar, os tártaros doaram roupas e comida a refugiados e mesmo soldados poloneses estacionados na fronteira.

No fim do funeral, os poucos presentes se ajoelharam e tocaram o solo, em sinal de respeito.

“Temos um cemitério grande o bastante e queremos oferecê-lo um enterro digno, uma pessoa que veio de tão longe e morreu em terras polonesas”, declarou Maciej.

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