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‘Infância refugiada’ é exposta pela última vez no Ceará

Criança palestina no campo de refugiados palestino de Mia-Mia, Sidon, Libano, em 23 de dezembro de 2014 [Karine Garcêz]

Na próxima semana, 3 de novembro, o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC) irá reabrir a exposição fotográfica “Infância Refugiada”, com fotos de crianças palestinas em campos de refugiados na Turquia, Líbano e Síria tiradas pela brasileira Karine Garcêz.

Em 2014 e 2015, a fotógrafa cearense, nascida na cidade de Redenção, viajou para Síria, Líbano e Turquia, pela ONG humanitária holandesa Al Wafaa Campaign, onde captou as expressões de crianças e adolescentes palestinos que viviam nos campos de refugiados, produzindo duas mil imagens e a exposição.

“As crianças, principais vítimas da miséria humana, nos dão sorrisos, vida, esperança no futuro. Nos mostram que por trás das marcas da guerra e das suas expressões de adulto forçadamente carregadas em seus rostos, há inocência, ainda são crianças”, disse a fotógrafa, que é formada em Relações Internacionais e se converteu ao islamismo aos 33 anos. “Meu desafio era unir meu conhecimento de Relações Internacionais, fotografia e da cultura desses povos, e denunciar o drama vivido pelos pequenos refugiados. Com o apoio dado pela Al Wafaa Campaing para as viagens, tive acesso a lugares onde até mesmo Organismos Internacionais não chegavam”.

“Fotografar é escrever com  a luz. Que esse olhar sobre as crianças, expressões de amor, lance luz sobre a questão dos refugiados e a leve aonde merece ser discutida: no peito de cada um de nós”.

 

“Infância Refugiada” foi exposta pela primeira vez no Museu da Imagem e do Som (MIS) do Ceará e já passou por várias instituições, como o Museu da Imigração em São Paulo. De volta ao Ceará, a exposição fotográfica abrirá na próxima quarta-feira (3) e ficará em cartaz pela última vez por dois meses no MAUC.  Todas as fotos da exposição estarão à venda para financiar um novo projeto de Garcêz de pesquisa em fotografia e cinema, que tem como tema a infância dos refugiados ambientais no Sertão Nordestino.

Os registros também foram reunidos no livro fotográfico bilíngue intitulado “Infância Refugiada – Retratos de um Conflito”, lançado em 2019.

Garcêz conta que teve suas primeiras aulas de fotografia em 2012, quando viajou para a Faixa de Gaza, e nas viagens de 2014 e 2015 já tinha “um pouco mais de conhecimento na arte de fotografar, mais que isso, o conhecimento da cultura local, importante para que possamos ter mais flexibilidade de trabalho”. “Isso me fez refletir sobre como o Oriente Médio é representado pela espetacularização midiática. E, consequentemente, os refugiados também são alvos dessa abordagem”, diz ela.

“A Exposição ‘Infância Refugiada’ compreende a força da imagem enquanto fonte de estímulo e memória histórica neste assunto delicado e perturbante, bem como na relevância de  propagá-lo. Inovador pela circunstância que o envolve e pelo desafio enfrentado pela fotógrafa no registro das imagens.  Cientes que lidamos com um assunto presente, transversal, multidisciplinar, cujo paralelo nos remete de pronto aos cearenses que fogem da seca e migram para a capital e se refugiam nos ‘campos favelas’ urbanos”, diz o texto da exposição no MIS.

“Desse modo, abordar o tema do refúgio é trazer o diálogo da diversidade e tolerância inter-religiosa e dos direitos de crianças e adolescentes para nível local nos imputa um importante desafio: instigar através desse produto cultural como a diversidade dos problemas globais são também locais , sobre o que nos une e nos difere, sobre os direitos conquistados e negados. Quando pensamos em propor um diálogo entre o que nos é familiar e o que nos é estranho, ocasionam um esforço de trazer antigas questões para outros caminhos, olhares e valores.  Aproximar o leitor  ao universo do outro que se vê é lembrar o questionamento do escritor Gonçalo M. Tavares: “o que vês quando olhas para onde todos olham?”

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De acordo com o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), estima-se que 35 milhões (42%) dos 82,4 milhões de pessoas deslocadas à força são crianças menores de 18 anos (com dados do final de 2020). E entre 2018 e 2020, uma média de 290 mil a 340 mil crianças nasceram em situação de refúgio por ano.

Cartaz de divulgação da exposição “Infância Refugiada” [Divulgação]

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