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Assad ganha US$400 mil por dia com multas de alistamento militar, denuncia relatório

Sistemas de mísseis russos em uma base militar da Síria, 26 de setembro de 2019 [MAXIME POPOV/AFP/Getty Images]

O Projeto de Reportagem de Crime Organizado e Corrupção divulgou um relatório detalhando como o regime sírio de Bashar al-Assad subtrai grandes taxas para isentar cidadãos na diáspora do alistamento militar, o que gera uma enorme fonte de renda a seu tesouro.

Dez anos desde o início da revolução, repressão e subsequente guerra civil na Síria, a moeda nacional continua em queda livre e sanções econômicas afetam duramente o país.

Quase 90% da população ainda presente no território sírio vive abaixo da linha da pobreza.

Em fevereiro último, um comandante do exército sírio prometeu confiscar posses de “desertores” e suas famílias, o que levou a um aumento substancial nos pedidos por isenção do serviço militar obrigatório, na primeira metade de 2021, confirmou um diplomata.

Quase metade dos sírios vive hoje como refugiados no exterior ou deslocados internos.

Muitos cidadãos elegíveis ao serviço militar, mesmo na diáspora, possuem parentes idosos ou outros familiares no país; portanto, sob ameaça do regime em Damasco.

As descobertas foram feitas por uma pesquisa colaborativa entre o jornalista investigativo Ali Siraj e o Projeto de Reportagem de Crime Organizado e Corrupção.

Segundo o relatório, aproximadamente um quinto da população síria está em idade militar, sob recrutamento compulsório a todos os homens entre 18 e 42 anos.

Siraj — que escreveu sobre o fenômeno The Guardian — observou que a ameaça do alistamento forçado está entre as razões pelas quais refugiados temem retornar ao país.

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“Damasco conseguiu converter ansiedade em renda, ao coletar recursos estrangeiros de quase um milhão de sírios na Europa, para compensar seu orçamento debilitado por sanções dos Estados Unidos e por seu isolamento bancário internacional”, escreveu Siraj.

Em junho de 2020, Washington impôs sanções contra a Síria sob o chamado Ato Caesar — tramitado no Congresso após denúncias de crimes de guerra ordenados por Assad.

De acordo com as informações, os pagamentos em dinheiro chegam à Síria via “pacotes diplomáticos” — isto é, documentos de uso oficial —, mantidos em sigilo pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, acordo adotado em 1961.

O regime deverá colher até 240 bilhões de libras sírias (US$190 milhões) de isenções militares somente este ano; equivalente a mais de US$400 mil por dia.

Damasco buscou formas extorsivas de compensar seu déficit orçamentário, incluindo multas administrativas, aumento nos preços para renovação de passaportes, quarentena arbitrária em hotéis designados pelo governo e taxas abusivas para atravessar fronteiras.

Em agosto de 2020, o portal ReliefWeb observou que sanções de Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido causaram “graves consequências humanitárias” aos sírios radicados nas áreas controladas pelo regime, incluindo falta de serviços básicos e infraestrutura.

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